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Ômicron: entenda a relação entre mutações na proteína spike e vacinas

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Imagem: franckreporter/iStock

Giulia Granchi

De VivaBem, em São Paulo

01/12/2021 10h28

A nova variante do Sars-CoV-2, chamada de ômicron, apresenta 50 alterações genéticas —pequenos detalhes no genoma do vírus, que ao criar suas cópias no corpo humano, pode passar por essas mudanças. Destas, 32 estão na proteína spike do vírus, justamente a parte considerada "a chave" para entrar na célula humana. É ela que conecta o microrganismo para iniciar a infecção.

Foi a partir do estudo de características da proteína spike que as vacinas de RNA mensageiro, como é o caso dos imunizantes da Pfizer e da Moderna (este não disponível do Brasil), foram criadas.

Elas usam o RNA mensageiro para mimetizar (imitar) a proteína spike, o que o auxilia a invadir as células humanas. Essa "cópia", no entanto, não é nociva como o vírus, mas é suficiente para desencadear uma reação das células do sistema imunológico, que cria uma defesa robusta no organismo.

Mesmo outros imunizantes, que usam vírus inativado ou vetor viral não replicante, como a CoronaVac ou a AstraZeneca, também contam com as informações da proteína spike "original" para a proteção.

O que acontece, então, se partes da proteína spike foram alteradas nas novas mutações?

De acordo com Gustavo Cabral, pesquisador da USP (Universidade de São Paulo) e colunista de VivaBem, de 10 a 12 mutações aconteceram em uma parte da proteína spike chamada de RBD (domínio de ligação ao receptor), que é ainda mais necessária para entrar na célula.

"Por isso essa é a variante que mais assusta até agora quanto a um possível escape da vacina. Temos que levar em conta a possibilidade de reinfecção também, dessa variante 'driblar' o sistema imune dos que já foram vacinados", explica.

Mas essa é uma hipótese, esclarece o infectologista Alexandre Naime, do Hospital das Clínicas de Botucatu (SP), que só poderá ser comprovada com estudos e com o passar do tempo —já que assim observaremos a ação do vírus na prática.

"Agora o que está sendo feito em laboratório é o experimento de pegar o plasma sanguíneo de pessoas que receberam as duas doses, em período de tempo máximo de três meses, de diferentes vacinas. Aí colocamos em contato com o vírus e observamos se os anticorpos induzidos pela vacina, presentes nesse plasma, conseguem inativar o vírus. Mas a observação clínica, no dia a dia, também nos mostrará. Muitos ficaram preocupados com a eficácia da CoronaVac, mas ensaios com vacinados no Chile mostraram uma proteção muito maior do que esperado", aponta.

Se a variante ômicron será mais transmissível ou mais letal, ainda não se sabe. Até agora, os sintomas relatados são leves.

Variante omicron - Margot Taylor - LunarCat Images/iSTock - Margot Taylor - LunarCat Images/iSTock
Imagem: Margot Taylor - LunarCat Images/iSTock

Por que as variantes surgem?

Em linhas gerais, as variantes são criadas nos corpos de quem não tomou vacina —tanto quem recusa o imunizante quanto quem vive em países que não têm doses suficientes entram nessa conta.

"Quanto mais corpos oferecemos ao vírus, mais multiplicações ele faz —é assim que a doença se espalha pelo corpo. Em uma dessas 'xerox', as cópias que ele cria no nosso organismo, pode haver mudança no genoma do vírus. É assim que surgem as variantes, que podem escapar da vacina", explica Cabral.

Cientistas correm para estudar a nova mutação

Como apontado pelo infectologista Alexandre Naime, diversos grupos de cientistas já estão analisando a variante ômicron. Em resposta a VivaBem, Pfizer e BionTech afirmam já ter começado os estudos do impacto da variante ômicron na eficácia da vacina atualmente distribuída e espera ter resultados já em dezembro.

Com isso, a farmacêutica avaliará se será preciso desenvolver uma nova versão do imunizante. A tecnologia de RNA mensageiro tem como uma de suas vantagens a possibilidade do desenvolvimento rápido da vacina, sendo necessário apenas identificar o sequenciamento do RNA da nova variante. É estimado que, se for o caso de desenvolver um novo produto, seriam necessárias 6 semanas para o desenvolvimento e 100 dias para a produção.

"O governo brasileiro assinou no dia 29/11 o terceiro contrato com a Pfizer, que prevê o fornecimento de 100 milhões de doses da vacina contra a covid-19 para o ano de 2022. Ainda como parte do acordo, existe a opção de aumentar o número de doses previstas para serem entregues ao país em até 50 milhões de vacinas adicionais, elevando o número total de doses potenciais para 150 milhões para próximo ano. Esse contrato já inclui possíveis novas versões do imunizante para variantes e para diferentes faixas etárias", afirmou a farmacêutica.