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Além da dieta: como as 'ferramentas' de coaching ajudam a emagrecer?

Bodart / iStock
Imagem: Bodart / iStock

Samantha Cerquetani

Colaboração para o VivaBem

29/09/2021 04h00

Na busca incessante pelo emagrecimento, muitas pessoas colocam a saúde em risco ao fazer dietas altamente restritivas. No entanto, o processo de perder peso leva tempo e envolve a consciência de que se alimentar deve ser um ato prazeroso. E também é preciso ter em mente que as mudanças de hábitos, como praticar exercício físico regular, não ocorrem de um dia para o outro.

Para contribuir com esse desafio, alguns especialistas da área de nutrição comportamental apostam no uso de ferramentas de coaching nutricional. Para Luciana Lancha, nutricionista, doutora pela USP (Universidade de São Paulo) e wellness coach, a ideia dessa abordagem é voltada para o comportamento e foge um pouco da ideia de dietas para emagrecer.

"Na maioria das vezes, as dietas não são sustentáveis por muito tempo. Não é fácil mudar o estilo de vida, mas as ferramentas de coaching nutricional ajudam a identificar uma motivação para perder peso, por exemplo. E mostram que é possível ter metas reais de emagrecimento", explica.

De acordo com os especialistas consultados por VivaBem, essas ferramentas visam trabalhar a autoconfiança, a motivação e o comprometimento de quem deseja emagrecer. Resumidamente, é ampliar a conscientização quanto à importância de comer bem, de forma saudável, sem culpa e deixar de lado o sedentarismo.

"A ideia é ajudar a entender, superar ou controlar as principais limitações e evitar os pensamentos sabotadores. É importante estabelecer metas reais de forma individualizada para chegar a resultados e promover o controle emocional", destaca Julemberg Teles, nutricionista da AmorSaúde, rede de clínicas parceira do Cartão de TODOS, que atua em Pernambuco.

A seguir, veja detalhes de cinco ferramentas de coaching nutricional e seus principais objetivos.

1. Entrevista motivacional

Por que você quer emagrecer? Uma pergunta simples pode ter diferentes respostas. O nutricionista ou coach de emagrecimento busca a verdadeira motivação para perder peso.

Geralmente, são realizadas perguntas abertas sobre a alimentação e o estilo de vida, com bastante empatia, para que o indivíduo fale à vontade e não se sinta julgado por seus hábitos alimentares.

A entrevista motivacional leva à reflexão e mostra o que está por trás do desejo de perder peso. Também ajuda a encontrar soluções para chegar a esse objetivo. O profissional pergunta diretamente como ele pode ajudar, quais são os sentimentos em relação ao peso, corpo e a dieta e como a pessoa se vê no futuro.

"A motivação é importante para o controle das escolhas alimentares. Determinar que não é permitido comer algum alimento desencadeia um comportamento de consumo e culpa. A pessoa precisa se perguntar se realmente está pronta para a mudança e tomar decisões", explica Lancha.

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O nutricionista ou coach de emagrecimento busca a verdadeira motivação para perder peso
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2. Metas

O nutricionista ou coach estabelece metas para alcançar a perda de peso. O primeiro passo é identificar as prioridades e objetivos da pessoa e indicar metas sustentáveis, específicas e de forma individual.

"As metas precisam ser reais e levar em consideração os aspectos físicos, sociais, econômicos, culturais e comportamentais. É importante estimular a sensação de conquista e de autoconfiança a cada meta alcançada. Essa atitude estimula a evolução no processo", afirma Teles.

3. Balanço decisório

Essa ferramenta é usada no atendimento quando a pessoa sabe que precisa mudar. No entanto, ainda não está completamente pronta ou decidida a realizar as mudanças.

Geralmente, essa ferramenta é aplicada quando as metas estão longe de serem atingidas. "É preciso definir qual comportamento deve ser modificado. Perguntamos quais são os benefícios de permanecer da maneira que ela está atualmente e o que acha que deveria mudar", destaca Ana Caroline Melo, nutricionista, pós-graduada em nutrição aplicada ao exercício físico pela USP (Universidade de São Paulo) e coaching nutricional.

O profissional solicita que a pessoa escreva os prós e os contras de realizar uma determinada mudança de comportamento. E também avalia de zero a 10 a importância de manter aquele hábito para emagrecer ou ganhar mais saúde.

De acordo com as respostas, é possível averiguar e estimular a motivação e pensar em estratégias para reforçar sua determinação no processo de emagrecimento.

4. Modelo transteórico

É útil para identificar o quão sensibilizada e preparada a pessoa realmente está para mudar os comportamentos. Geralmente, na primeira fase, é comum resistir à mudança ou negar que tenha um problema relacionado ao peso.

Em seguida, ela deseja mudar e se sente mais segura para realizar mudanças comportamentais. Já na fase de decisão (ou preparação), há uma alteração do comportamento e aumento da confiança.

Aqui, o profissional atua planejando as mudanças, mostrando a importância de ser flexível e a evitar se cobrar desnecessariamente, principalmente se algo der errado no processo.

Na fase da ação, ela consegue realmente mudar o seu comportamento e precisa de apoio para manter os novos hábitos. Isso é fundamental para continuar o processo de emagrecimento e evitar o efeito sanfona, ou seja, perder peso e engordar novamente em pouco tempo.

"Para cada fase, existem técnicas específicas que são aplicadas para aumentar a motivação para atingir as metas. Os profissionais precisam estar bem atentos na fase que o paciente se encontra e direcionar o acompanhamento", reforça Melo.

Metas, objetivos em um bloco - iStock - iStock
A ideia dessa abordagem é voltada para o comportamento e foge um pouco da ideia de dietas para emagrecer
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5. Comunicação não violenta

É bastante comum que a pessoa chegue ao consultório do nutricionista já desanimada, com receio das dietas e limitações que serão impostas para emagrecer. Nesse momento, faz toda a diferença o acolhimento do profissional e ter a certeza de que não receberá julgamentos por seus hábitos alimentares.

A ideia é respeitar as particularidades do paciente, seus valores, suas necessidades e preferências durante o processo de emagrecimento. Para Teles, a escuta ativa e o uso adequado das ferramentas causam autorreflexão e ajudam a lidar com as limitações. E assim, aumenta a motivação para emagrecer.

"A empatia é a chave de todo acompanhamento e gera resultado por nos conectar com o outro, o que nos torna mais humanos. O nutricionista precisa ser um incentivador dos resultados e motivador das conquistas", completa.

Ferramentas sim, milagre não

Não há uma dieta milagrosa e nem atitudes simples e rápidas para emagrecer com saúde. O processo de emagrecimento consiste em ter uma motivação constante e a conscientização em relação à saúde, qualidade de vida e bem-estar. Para isso, é preciso mudar conceitos e hábitos: o que leva tempo.

No entanto, de acordo com Lancha, a prescrição de dietas e o cálculo nutricional não precisam ser abandonados de vez. A ideia é agregar todas as ferramentas possíveis para atuar de uma forma mais humanizada e efetiva. Por isso, a parceria entre pacientes e profissionais de saúde faz toda a diferença.

"Tecnicamente, calculamos a quantidade de calorias e sabemos a intensidade e a duração dos exercícios que são necessários para o emagrecimento. Mas, inicialmente, não fazemos ideia de como isso vai afetar a vida da pessoa. É preciso construir uma solução conjunta de forma gradativa, respeitando a individualidade", destaca a wellness coach.

A importância dos relacionamentos e rotina

Os especialistas entrevistados acreditam que, para que as ferramentas sejam efetivas no emagrecimento, é preciso compreender qual é o caminho da mudança comportamental.

Para esse processo funcionar, os profissionais aplicam os "três Rs": relação, repetição e reestruturação. De modo geral, a pessoa é incentivada a ter relacionamentos saudáveis com quem contribui com a sua mudança.

Em seguida, essa relação o ajuda a aprender, praticar e adquirir ferramentas para a mudança. Por fim, essa conexão reestrutura a maneira de ver a vida, a rotina, os hábitos alimentares e o gerenciamento das emoções.

Para Melo, além da disposição e ter vontade, é necessário receber o apoio de uma equipe multidisciplinar que dará o direcionamento adequado. "É preciso inserir uma nova rotina no dia a dia para manter o comportamento, até que ele se transforme em um hábito. Não é fácil e é preciso determinação para emagrecer, manter o peso e evitar a autossabotagem", diz.