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Saúde

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Com covid-19, fisiculturista usou ECMO para sobreviver; entenda a terapia

Giulia Granchi

Do VivaBem, em São Paulo

05/04/2021 04h00

Aos 28 anos, o empresário e atleta Kaique Barbanti sempre se considerou uma pessoa saudável —e não é para menos. Nos últimos anos, boa parte do seu tempo foi dedicada aos treinos intensos nas academias que administra e a ter uma alimentação equilibrada.

Em julho de 2020, mesmo sendo jovem e sem comorbidades, Kaique foi acometido pelo novo coronavírus e ficou em estado grave.

"Tive sintomas gastrointestinais, como vômito e diarreia, perdi o apetite e ainda tive febre, dor de cabeça e dor no corpo. Tudo isso era suportável, até que eu comecei a ter dificuldades para respirar", lembra.

No 13º dia, ele foi admitido no Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba, com saturação de oxigênio no sangue em 87%. Menos de 24 horas depois, foi intubado na UTI.

Após uma semana, ele saiu da terapia intensiva pela primeira vez e pode comemorar a alta com a família, mas novos exames detectaram um coágulo no sangue, o que causou embolia pulmonar.

De volta à UTI, logo foi intubado novamente e, com a piora do quadro, foi submetido à ECMO.

A sigla se refere à oxigenação por membrana extracorpórea, feita por um aparelho de alta complexidade que pode substituir, artificialmente, a função do coração e do pulmão (conforme a necessidade de cada paciente).

Como funciona a ECMO

No caso de Kaique, a tecnologia foi usada para substituir a função do pulmão. "A terapia não cura o paciente, esteja ele com covid-19 ou outras doenças, mas permite que o órgão não falhe enquanto o resto do organismo combate o quadro. É uma ponte para a recuperação", diz Jarbas da Silva Motta Junior, médico intensivista do Hospital Marcelino Champagnat.

Kaique barbanti durante a internação - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Kaique durante a internação
Imagem: Arquivo pessoal

O atleta, que ficou 62 dias internado e perdeu quase 30 quilos, foi o paciente que mais tempo foi submetido à ECMO no Paraná. No total, foram 23 dias ligados ao equipamento. Seu corpo começou a responder apenas no 15º.

O médico explica que não existe um tempo determinado para o paciente ficar na máquina. "A membrana que utilizamos tem validade de 14 dias pelo fabricante. Os pacientes que se salvam, em média, ficam de 7 a 10 dias", diz o intensivista, que aponta que 60% dos pacientes submetidos à ECMO morrem.

O longo tempo que se passou sem que Kaique apresentasse melhora preocupou os familiares. "Pela falta de resposta inicial, descobri que a minha família chegou a ser chamada, de uma forma sutil, para se despedir de mim", relembra.

A terapia tem um valor alto, em torno de R$ 60 mil, se o paciente não precisar trocar a membrana da máquina. O custo não é coberto pela maioria dos convênios.

Para incorporá-la aos hospitais, não bastam as máquinas. "É preciso uma equipe multidisciplinar, com médicos, técnicos de enfermagem e fisioterapeutas que entendam do dispositivo. O treinamento foi dado pelo hospital e durante o uso, a jornada dos profissionais aumenta consideravelmente", esclarece Motta Júnior.

A tecnologia pode ser usada em pessoas de todas as idades, desde recém-nascidos até idosos, mas há critérios de exclusão. Ela oferece risco de hemorragia, AVC, infecção e embolia, e por isso, pacientes com comorbidades ou com o sistema imune comprometido não são candidatos.

Depois da alta, o longo caminho de recuperação

Devido ao uso da ECMO, o pulmão de Kaique ficou 22 dias se recuperando, o que possibilitou que, três dias após deixar o aparelho, voltasse a respirar sem ajuda nenhuma.

Ele conta que após sair do hospital, se surpreendeu com sua própria aparência. "Olhar no espelho foi um choque, eu não me reconhecia. Tenho 1,70 m de altura e entrei no hospital com 80 kg. Saí com 53 kg, pele e osso."

Seis meses se passaram desde o dia que Kaique recebeu alta. Nesse tempo, ele fez muitas sessões de fonoaudiologia, fisioterapia respiratória, motora, além de várias visitas médicas.

Hoje, já considera que seu estado de saúde é muito próximo ao que era antes. "Saí determinado a fazer tudo para me recuperar e me comprometi totalmente com o processo", diz.