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Sprays nasais que "bloqueiam" vírus não previnem covid-19; use máscara

Getty Images
Imagem: Getty Images

Bruna Alves

Do VivaBem, em São Paulo

05/03/2021 13h32

Desde o início da pandemia, cientistas do mundo inteiro tentam encontrar métodos para inibir a disseminação do novo coronavírus e tratar a covid-19. Até o momento, enquanto não vacinamos um percentual suficiente da população para garantir a imunidade de rebanho (ao menos cerca de 60% a 70% das pessoas), as táticas mais eficientes para evitar a doença são usar máscara, lavar as mãos constantemente e manter o distanciamento social.

Mas uma alternativa surgiu recentemente no Brasil prometendo ser aliada nessa prevenção contra vírus: soluções nasais que criam uma camada protetora dentro das vias respiratórias, que impediria micro-organismos e partículas de pó de entrarem em contato com as mucosas e células do organismo e provocarem doenças e reações alérgicas (esses produtos são diferentes do medicamento em spray produzido em Israel defendido pelo presidente, até o momento sem eficácia comprovada, e das vacinas em spray que estão sendo desenvolvidas).

No entanto, ainda não há comprovação científica de que esses protetores nasais, alguns deles liberados no último mês para comercialização no Brasil pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), reduzam o risco de infecção pelo novo coronavírus —como divulgado por alguns fabricantes, após resultados de testes em andamento, muito pequenos ou feitos em laboratório, que podem não ter o mesmo efeito na "vida real". Portanto, em hipótese alguma esses sprays nasais devem substituir o uso de máscara e de outros cuidados para se proteger da covid-19 (o que os próprios fabricantes também ressaltam).

"Por mais que a solução pareça promissora, se comprovada sua eficácia, ela no máximo será uma proteção coadjuvante, um cuidado a mais para evitar infecções por vias aéreas. Não podemos achar que aplicar um produto no nariz vai substituir o uso de máscara e as outras verdadeiras proteções contra o coronavírus", alerta Alexandre Naime Barbosa, infectologista, chefe do Departamento de Infectologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e Consultor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).

Valdes Roberto Bollela, infectologista e professor do Departamento de Clínica Médica da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo) ressalta que, além de não terem comprovação de que podem proteger da covid-19, esses produtos não parecem ser compatíveis com nossas funções fisiológicas. Por isso, não recomenda o uso nem como proteção extra contra o coronavírus enquanto não houver estudos científicos robustos para validar o produto.

"As mucosas do nariz, necessariamente, precisam ser higienizadas. Por isso que nosso corpo produz secreções como o muco, um líquido de proteção que vai limpando a mucosa. Um produto que cria uma barreira e vai impedir que partículas cheguem até as mucosas não me parece compatível com as funções do organismo", afirma Bolella.

O especialista defende que todas as ideias para combater a covid-19 são válidas e devem ser analisadas, mas só podem estar disponíveis para a população após serem amplamente testadas e terem sua eficácia e segurança comprovada por estudos científicos, como acontece com remédios, vacinas.

Como esses sprays nasais não são considerados medicamentos, seu processo de liberação na Anvisa é mais simples —não há a necessidade de ter sua eficácia comprovada em estudos científicos de fase 3, feitos na população, como ocorre com medicamentos e vacinas, por exemplo.

Em nota ao VivaBem, a Anvisa ratificou que essa liberação por meio de um processo mais simples não permite que esses produtos sejam comercializados com a alegação de proteger contra o coronavírus (Sars-CoV-2). Os produtos passam por auditorias regulares e, caso a equipe técnica identifique que estão sendo vendidos com informações incorretas ou que incentivem seu uso para fim diferente do autorizado, pode ocorrer o cancelamento da notificação que libera o produto no país.

Outro ponto que é importante reforçar para deixar claro porque esses esses sprays nasais não substituem os cuidados atuais para contar a disseminação do coronavírus é que, se a pessoa aplicar o produto e estiver contaminada pelo coronavírus, continuará transmitindo o vírus por gotículas de saliva e secreções nasais expelidas ao falar, tossir e espirrar —o que não acontece quando se usa máscara, que impede que as secreções sejam lançadas no ambiente.