Topo

Leite condensado não pode substituir leite fresco, advertem especialistas

EugeneTomeev/iStock
Imagem: EugeneTomeev/iStock

Giulia Granchi

Do VivaBem, em São Paulo

28/01/2021 16h19

Uma reportagem publicada recentemente pelo portal Metrópoles levantou os dados de compras de alimentos no "Portal de Compras atualizado pelo Ministério da Economia".

Entre outros itens, uma das principais aquisições que chamou a atenção da população foi o gasto de mais de R$ 15 milhões em latas de leite condensado. Após a repercussão na imprensa, parlamentares pediram uma investigação dos gastos ao TCU (Tribunal de Contas da União).

Em nota, o Ministério da Defesa justificou que "o leite condensado é um dos itens que compõem a alimentação [dos 370 mil homens e mulheres das Forças Armadas] por seu potencial energético. Eventualmente, pode ser usado em substituição ao leite. Ressalta-se que a conservação do produto é superior à do leite fresco, que demanda armazenamento e transporte protegido de altas temperaturas".

Do ponto de vista nutricional, de acordo com especialistas consultados pelo VivaBem, a justificativa não faz sentido.

"São produtos muito diferentes. O leite condensado não é criado apenas com a evaporação da água, mas contém muita adição de açúcar", explica a nutricionista Clarissa Fujiwara, membro do Departamento de Nutrição da ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica).

O leite fresco, diferentemente do produto açucarado, também contém mais nutrientes: é fonte de cálcio, magnésio e vitaminas e proteínas, e por isso, a substituição de um pelo outro não faz sentido.

A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda que apenas 10% das calorias consumidas por um adulto por dia venham de açúcares adicionados (como as colheres que adicionamos ao café ou os gramas que já vem em uma bolacha, por exemplo).

Nas principais marcas, a tabela nutricional não mostra, dentro da categoria de "carboidratos", quantos gramas de cada tipo de açúcar o produto contém, mas Fujiwara aponta que o valor não é baixo. "Com a nova rotulagem nutricional, que ainda entrará em vigor, as indústrias serão obrigadas a exibir os açúcares adicionados".

Se a dificuldade é o transporte, o armazenamento e a conservação do leite fresco, a nutricionista aponta que o leite em pó, de ponto de vista nutricional, seria uma opção melhor e mais similar. "O leite em pó é o leite fresco desidratado, e embora possa ter aditivos para preservação, não contém açúcar adicionado", explica.

Ingerir o alimento em altas quantidades oferece riscos

O maior risco de consumir leite condensado diariamente — como muitas pessoas consomem o leite fresco — é o sobrepeso, considerado um problema de saúde pública no Brasil.

"Estar acima do peso pode levar a quadros de diabetes, pressão alta, doenças cardiovasculares", aponta Daniel Magnoni, nutrólogo e cardiologista do HCor (Hospital do Coração).

Leite condensado é indicado para atletas?

Diferentemente do informado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL), o médico Daniel Magnoni, explica que o leite condensado não é indicado para praticantes de atividade física.

"Em uma situação de trincheiras, com pouco ou nenhum acesso aos alimentos, até daria para entender. Mas em relação à alimentação normal, não é uma boa opção."

"Antes do esforço físico, recomendamos o consumo de carboidratos complexo, como cereais integrais, ou frutas, ou maltodextrina (carboidrato de rápida absorção). Depois do esforço, o ideal é o consumo de proteínas para ajudar o músculo se recuperar. Não tem sentido priorizar uma opção com alta quantidade de açúcar e gordura quando há a possibilidade de comer tantos outros alimentos mais ricos nutricionalmente", indica.