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Própolis parece promissor em pacientes com covid, mas estudo é bem limitado

Estudo com própolis ainda não foi revisado ou publicado - iStock
Estudo com própolis ainda não foi revisado ou publicado Imagem: iStock

Luiza Vidal

Do VivaBem, em São Paulo

15/01/2021 22h13

O uso de própolis no tratamento de pacientes com covid-19 pode reduzir o tempo de internação, segundo um estudo realizado em parceria entre a Apis Flora, empresa brasileira do segmento de própolis, mel e extratos de plantas medicinais, o Idor (Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino) e o Hospital São Rafael, de Salvador. No entanto, o trabalho publicado na plataforma MedRxiv, no dia 9 de janeiro deste ano, ainda não foi revisado por outros pesquisadores ou publicado em algum periódico científico.

Os especialistas consultados por VivaBem explicam que a pré-publicação tem sérias limitações, pois utiliza um número muito pequeno de participantes e um público muito específico. "É necessário que haja uma revisão dos dados, porque é apenas um pré-print [pré-publicação]. Precisamos ver a qualidade dos detalhes, do banco de dados e se todos os protocolos de pesquisa foram seguidos. Além de uma análise por pares em uma boa revista", diz Alexandre Naime, infectologista chefe do Departamento de Infectologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e consultor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).

Revisão por pares é quando ocorre uma análise criteriosa por parte de cientistas independentes antes da publicação em um periódico. Igor Marinho, infectologista da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e do Hospital Leforte, também defende a análise por parte de cientistas que não estejam envolvidos no estudo e nem com a empresa.

"Por enquanto, é um estudo preliminar, não está totalmente aprovado", diz. Segundo Marinho, os participantes são um único público, pessoas com um perfil de saúde semelhante e uma alimentação parecida, o que pode gerar um viés. "Os resultados são bons, mas ainda é muito precoce para dizer que seria uma boa opção de tratamento".

Como o estudo foi feito e quais foram os resultados?

O resultado faz parte de um ensaio clínico com 124 participantes feito no Hospital São Rafael, em Salvador, entre junho e agosto de 2020. Todos os pacientes receberam o tratamento padrão e 40 pessoas receberam 400 mg/dia de própolis, 42 receberam 800 mg/dia e 42 não receberam a substância.

Os pesquisadores acreditam que a redução do tempo de internação se deu porque a própolis pode interferir em uma proteína que está envolvida no processo de entrada e disseminação do vírus no corpo. Segundo Andresa Berretta, uma das pesquisadoras envolvidas no estudo e gerente da Apis Flora, "dados da literatura já mostram que a própolis inibe essa via". De acordo com ela, a substância reativa as respostas imunológicas e interrompe os danos pulmonares que estavam sendo causados.

Alguns componentes presentes no própolis também interromperiam a ancoragem do vírus na proteína que auxilia sua entrada nas células. Além disso, o estudo observou uma menor incidência de lesões renais entre os pacientes que ingeriram 800 mg por dia.

O grupo de controle apresentou 23,8% de lesões, contra 4% entre os que ingeriram a maior dosagem de própolis. As lesões renais podem ser um fator de risco para os infectados com o Sars-Cov-2.

O estudo, que não registrou eventos negativos, deve ser expandido em um ensaio clínico duplo cego com placebo, envolvendo um maior número de pacientes —fato importante e que os infectologistas também defendem. "É importante avaliar o resultado do estudo em outros centros, não só no Brasil, mas pelo mundo. Em etnias diferentes, em condições diferentes, em hospitais públicos diferentes também. E, com isso, ver se o tratamento fez diferença do ponto de vista anti-inflamatório", explica Marinho.

"O próximo passo é importante, que é o ensaio clínico randomizado, com um número grande de pacientes, em torno de 1.000 e 1.300 pessoas para ver o efeito", completa Naime. Ensaio clínico randomizado é quando os participantes são misturados e, de forma aleatória, são colocados em dois grupos: o de controle (placebo) e o experimental (recebe o medicamento/tratamento).

Própolis não previne a doença

Apesar de o própolis ter uma ação anti-inflamatória leve, ele não é capaz de curar formas moderadas ou graves de covid-19 —e de nenhuma outra doença inflamatória. Assim como no estudo, ele deve ser visto como um tratamento adjuvante, que ocorre em paralelo ao tratamento principal. "Não são tratamentos essenciais, modificadores de mortalidade, mas podem ajudar no controle de sintomas e melhora do desfecho clínico", explica Marinho.

É importante se lembrar de que não há comprovação científica de que o consumo de própolis no dia a dia previna a doença. Por isso, mesmo que você consuma a substância regularmente, tome todos os cuidados que reconhecidamente funcionam para evitar a covid-19:

  • Evite aglomerações;
  • Mantenha o isolamento social;
  • Use máscaras;
  • Higienize constantemente as mãos;
  • Evite tocar no nariz, na boca e nos olhos se não estiver com as mãos limpas.

Além disso, ao apresentar sintomas da doença, procure atendimento médico e não faça uso de nenhum medicamento ou substância natural sem orientação de um profissional da saúde.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado, o estudo foi realizado pela Apis Flora, IDOR (Instituto D?Or de Pesquisa e Ensino) e Hospital São Rafael, de Salvador, e não pela USP (Universidade de São Paulo). Alguns pesquisadores que colaboraram na pesquisa são professores da USP, mas, na verdade, a instituição não tem participação direta no desenvolvimento, execução e financiamento do estudo. O texto foi corrigido.