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Coronavírus está avançando em cidades do interior, indica Fiocruz

1º.mai.2020 - Cristo de Sertãozinho, cidade no interior de São Paulo, amanhece de máscara; cidade homenageou os profissionais de saúde - Thiago Calil/AGIF/Estadão Conteúdo
1º.mai.2020 - Cristo de Sertãozinho, cidade no interior de São Paulo, amanhece de máscara; cidade homenageou os profissionais de saúde Imagem: Thiago Calil/AGIF/Estadão Conteúdo

Agência Brasil

05/05/2020 22h11

A pandemia do novo coronavírus já espalhou casos por 71,5% das regiões brasileiras e avança em direção às cidades do interior, onde há menor oferta de Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) e respiradores.

A conclusão é de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro. Eles compararam dados da semana de 27 de março a 23 de abril com os da semana de 17 a 23 de abril e constataram que a doença já é registrada em 100% das regiões mais populosas, e que o número de regiões menores com casos confirmados mais do que triplicou.

A nota técnica com as informações foi divulgada ontem (4) pelo Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz). O estudo usa dados sobre saúde da pesquisa Região de Influência das Cidades (Regic), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que identificou os deslocamentos intermunicipais da população que busca serviços de saúde e agrupou as cidades em regiões.

O vice-diretor do Icict/Fiocruz, Christovam Barcellos, alertou que o Brasil não conseguiu conter a disseminação da doença dos grandes centros para as cidades menores, e isso vai gerar uma pressão sobre os sistemas de saúde.

"Se a gente já tem algumas dessas cidades maiores sobrecarregadas, com a interiorização podem começar a aparecer nelas muitos casos vindos do interior, como uma segunda onda. Por isso Itália e China tentaram reter o fluxo entre regiões para limitar a epidemia", disse o pesquisador, lembrando os bloqueios em Wuhan, na China, e na região da Lombardia, na Itália.

Na primeira semana analisada (27/03 a 02/04), a doença havia chegado a 158 regiões brasileiras (20,8%), número que saltou para 542 (71,5%) na segunda semana (17/04 a 23/04). Entre as 76 regiões que somam mais de 500 mil habitantes, 100% já registram casos e 88,2% já contabilizam mortes causadas pela covid-19.

Barcellos adianta que, na semana que vem, deve ser publicada uma nova análise para acompanhar esse movimento em uma terceira semana. Mmas já é possível identificar que, a partir da expansão nas capitais e cidades maiores, a transmissão da doença avança agora em direção a cidades médias e pequenas.

Entre as regiões que somam 100 mil a 500 mil habitantes, 92,1% já anotam casos e 39,6%, mortes. Na primeira semana da pesquisa, os percentuais eram de 34,7% e 3%, respectivamente.

A expansão da doença também foi percebida em 68,4% das regiões de 50 mil a 100 mil habitantes, e em 48,4% das que concentram 20 mil a 50 mil habitantes. Antes, só havia casos confirmados em 15,8% e 7,3% dessas regiões.

Nas regiões com até 20 mil habitantes, a presença da doença aumentou de 3,7% para 22,2%. Duas dessas regiões já registraram óbitos, o que representa 3,7% do total.

Falta de leitos

A nota técnica destaca que 50% das regiões de até 100 mil habitantes não têm leitos de unidades de terapia intensiva (UTI) e, quando considerada a presença de respiradores nos serviços de saúde públicos, as cidades menores também ficam atrás das maiores.

A mesma nota considerou os números de respiradores de cada cidade em dezembro de 2019 e comparou com a população contabilizada pelo IBGE naquele período.

Enquanto as regiões com mais de 500 mil habitantes têm, em média, quase 20 respiradores no SUS (Sistema Único de Saúde) para cada 10 mil habitantes, entre as regiões de 20 mil a 100 mil habitantes este número gira em torno da metade.

Neste grupo, a pesquisa alerta que há regiões com situação alarmante, com menos de três respiradores para 10 mil habitantes. Diante da compra de novos respiradores por autoridades locais, estaduais e nacionais, Barcellos aponta que a distribuição desses equipamentos pode ser orientada pelas carências identificadas na nota técnica.

Outro ponto importante é a necessidade de discutir as medidas de isolamento e afrouxamento de forma conjunta, já que a circulação em uma cidade da mesma região pode fazer com a doença volte a um município.

"Cidades não existem de forma isolada e a avaliação das redes de conexão de cidades deve ser considerada tanto para o planejamento de resposta quanto para definir medidas de relaxamento do isolamento social", afirma um trecho do documento.