Dormir separado é mais saudável para o casal? 36% das pessoas fazem isso
Resumo da notícia
- Pode ser saudável quando um dos pares possui algum distúrbio do sono e que prejudique o sono do outro, como o ronco, por exemplo
- Em alguns casos, em que não envolve barulho, como se movimentar demais, apenas dividir as camas é o suficiente
- Quando observado algum distúrbio do sono, é importante que o casal converse sobre o assunto e procure ajuda médica
Pode parecer estranha a ideia de um casal dormir separado, mas cada vez mais pessoas têm aderido à prática. De acordo com a 5ª Pesquisa Anual sobre o Sono, publicada no relatório "Wake Up Call: Global Sleep Satisfaction Trends", realizado pela Royal Philips e divulgada em março de 2020, 36% das pessoas entrevistadas afirma que dorme separado de seu parceiro para tentar melhorar a qualidade do sono.
O principal motivo para isso é a qualidade do sono. O mesmo estudo da Royal Philips constatou que 60% dos brasileiros são insatisfeitos com seu sono. A qualidade do sono prejudicada é indiferente da orientação sexual do casal: héteros e homossexuais sofrem com problemas durante o sono.
Márcia Assis, neurologista, médica do sono e diretora da Absono (Associação Brasileira do Sono), explica que diversos fatores podem afetar a qualidade da sua noite, sendo que o ronco, um dos sintomas da apneia do sono, é a queixa mais comum. Outros problemas, porém, podem interferir como preferências diferentes em relação aos horários para se deitar e acordar, pernas inquietas, temperatura inadequada, claridade do ambiente de dormir ou a menopausa. Sílvia Conway, psicóloga do sono e diretora da Absono, complementa que a entrada do bebê na vida do casal também afeta a qualidade do sono, em que geralmente um ou outro tem insônia.
Mas dormir separado nem sempre significa ter de mudar de quarto. Helena Hachul, médica ginecologista, coordenadora do ambulatório saúde na mulher do Instituto do Sono, da AFIP (Associação Fundo de Incentivo à Pesquisa), em parceria com a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e professora da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein, explica que depende do problema. "Se o parceiro tiver pernas inquietas, sono agitado ou o distúrbio do sono em que ele se mexe muito quando está dormindo, podendo até machucar o outro, só dormir em camas separadas já resolve". Segundo a médica, porém, se o problema for o barulho, como é o caso do ronco na apneia, o aconselhável já é dormir em outro quarto.
Como a qualidade do sono afeta os relacionamentos
Quem dorme mal, geralmente já acorda de mau humor, fica mais irritado, nervoso e mais propenso a brigas e discussões. "Isso realmente impacta nos casais, porque mesmo sem essa questão de dormir junto ou não, tem uma série de repercussões médicas e psicológicas pelo fato de não dormir bem, influenciando nos relacionamentos", afirma Hachul.
Assis complementa que o sono de má qualidade pode afetar a pessoa de forma aguda, causando sonolência, prejuízos na concentração, memorização e atenção, prejudicando o relacionamento pessoal e o lazer. Além disso, a pessoa tem prejuízos na performance tanto no trabalho quanto nos estudos. Aumentado o risco de sonolência, a longo prazo, aumenta o risco de doenças como diabetes, hipertensão arterial, além de obesidade.
Ainda segundo a 5ª Pesquisa Anual sobre o Sono, 30% dos entrevistados concordam que sua dificuldade de dormir ou a de seu parceiro/cônjuge está afetando seu relacionamento.
Menopausa e climatério
Esse momento da vida da mulher afeta também a qualidade do sono. De acordo com Hachul, com a perda hormonal a mulher começa a ter fogachos, que são ondas de calor seguidas por uma sudorese profunda. Em alguns casos a mulher sua tanto que é preciso trocar o lençol durante a noite. Essa instabilidade no sono (calor e frio) interfere diretamente no sono de quem está compartilhando a cama e que não está sofrendo com as oscilações da temperatura corporal.
Outra situação que ocorre na menopausa segundo a ginecologista é o ronco. Isso porque a mulher tem uma distribuição de gordura um pouco diferente do homem, acumulando mais gordura no pescoço e no abdômen, o que causa apneia com frequência. A mulher não chega a roncar como o homem, mas muitos homens se sentem incomodados com ronco da mulher. "Quando a mulher entra menopausa pode ter essas duas intercorrências: ondas de calor e sudorese que atrapalha o seu par de uma certa forma, ou o ronco, em consequência da apneia, que também o leva a ter um sono fragmentado", analisa.
Dormir separado pode afetar a relação?
Muitos casais acreditam que dormir separado pode prejudicar a relação e, por isso, são resistentes. Para Vicente Cassepp-Borges, psicólogo e professor na UFF (Universidade Federal Fluminense), dormir separados não influencia no que um sente pelo outro, já que o sentimento, o amor, está no ponto de vista cognitivo, ou seja, está além da presença física. Então a presença física embora ajude, não é crucial.
Dormir separadamente pode afetar positivamente a relação, já que quem tem o sono prejudicado dormirá melhor sem interrupções no sono. "Isso não implica que o casal precisa dormir sempre separado. Podem combinar um dia para dormirem juntos", observa Borges.
Em relação a mudanças na vida sexual, Borges analisa que o amor é uma falta e nos aproximamos das pessoas pela falta que sentimos. Quando dormimos separados essa falta tende a aumentar e no momento do sexo, quando estão juntos, esse contato é potencializado, melhorando também o relacionamento sexual.
Rejeição e preconceito
Embora 36% das pessoas assumam dormir separadas de seus parceiros, isso ainda não é visto com bons olhos por muita gente, ainda mais se tratando de casais mais jovens. Para Borges, o principal motivo para os casais resistirem em dormirem separados ou é o lado social, do que as outras pessoas vão achar, as especulações que vão fazer em torno da vida afetiva deles ou é em relação ao forte apego que possuem ao outro.
Hachul, em sua prática clínica, não sugere dormir separado a não ser que o casal indique isso. "A gente tem que ser muito delicado ao sugerir isso. Primeiro a gente começa falando do tratamento, das possibilidades. Eu espero o casal trazer essa solução", esclarece. Isso devido à resistência de muitos casais e que, ao sugerir isso, pode fazer com que o casal desista do tratamento, o que é pior. "Sempre temos que contextualizar e ver o que é importante para o casal. Depende muito para a importância que eles dão para a questão de dormir junto e não é uma coisa que o médico deve interferir", completa.
Para Conway isso chama a atenção para pensar sobre a importância de um relacionamento de qualidade e cumplicidade entre o casal. Segundo a psicóloga, é importante ressaltar que cumplicidade é uma condição de se expressar em relação a pensamentos e sentimentos. "Isso não se trata apenas de compartilhar fatos da vida conjugal, ou da vida pessoal, mas sobretudo de criar um vínculo mais profundo", complementa.
Em todo caso, é preciso entender se dormir separado é de fato uma solução que está sendo buscada por uma circunstância específica, por exemplo, como o ronco. Nesses casos recomenda-se que procure um médico do sono e dependendo do caso, uma psicoterapia para auxiliar no tratamento. Além disso, é fundamental que o casal converse sobre o assunto, o diálogo é importante para a saúde da relação e, consequentemente para a saúde de ambos.
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