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Dieta sem carne e ovos melhoraria resposta a tratamento contra câncer

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Do VivaBem, em São Paulo

04/08/2019 16h24

Novo estudo feito com ratos descobriu que, quando os animais comeram uma dieta com níveis reduzidos de um aminoácido encontrado em carnes e ovos, eles responderam melhor aos tratamentos contra o câncer. Apesar de curioso, o resultado, publicado no periódico Nature na quarta--feira (31), não deve ser seguido à risca por pacientes humanos, alertam os autores.

O aminoácido em questão se chama metionina e é necessário para o funcionamento das células. Mas ele não é produzido pelo corpo naturalmente e deve ser consumido por meio da alimentação. Muitos alimentos contêm metionina, mas carne e ovos contêm níveis particularmente altos.

Há alguns anos, entretanto, esse aminoácido começou a despertar o interesse de cientistas, porque ele desempenha um papel importante em um mecanismo celular que algumas drogas quimioterápicas e terapia de radiação visam. "Nós raciocinamos, então, que a restrição de metionina poderia ter amplas propriedades anticancerígenas", explicam os autores.

Quando os cientistas alimentaram os ratos com uma dieta com níveis reduzidos de metionina, o crescimento do tumor diminuiu em comparação com os ratos alimentados com uma dieta padrão. Ao combinarem a dieta restrita de metionina com a quimioterapia nos animais, o tumor diminuiu mais ainda. Em tratamentos combinados com radiação, a reposta foi igualmente positiva.

Além disso, o estudo também foi feito com humanos e os efeitos foram os mesmos observados nos ratos.

Como os autores explicam, os resultados são preliminares e essa abordagem ainda não é comprovadamente eficaz em humanos ou em todos os tipos de câncer. Na verdade, eles acreditam que a restrição de metionina poderia, talvez, impulsionar o crescimento de alguns tipos de neoplasias.

Entretanto, os pesquisadores não negam que esse estudo é um passo importante para entender como a dieta pode influenciar o crescimento do câncer. "O câncer é, em muitos aspectos, mais difícil, porque são doenças diferentes com múltiplas formas, e frequentemente definidas em um nível molecular, então estamos apenas começando a entender como a dieta e nutrição estão influenciando isso", diz Jason Locasale, autor sênior da pesquisa.

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Muitos alimentos contêm metionina, mas carne e ovos contêm níveis particularmente altos
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Como o estudo foi feito

  • Os pesquisadores usaram uma variedade de modelos de câncer. Primeiramente, eles testaram dois tipos de tecido canceroso resistente ao tratamento, retirados de humanos e enxertados em camundongos.
  • Quando os cientistas alimentaram os ratos com uma dieta com níveis reduzidos de metionina, o crescimento do tumor diminuiu em comparação com os ratos alimentados com uma dieta padrão.

  • Em seguida, eles usaram um medicamento de quimioterapia comum em combinação com uma dieta restrita de metionina. Uma dose baixa da droga foi insuficiente para diminuir o tumor, mas quando combinada com a dieta baixa em metionina, houve uma "inibição acentuada do crescimento do tumor".

  • Quando os pesquisadores investigaram um tipo de sarcoma de camundongo que não responde à terapia de radiação, eles descobriram que uma dieta restrita de metionina por si só não era suficiente para retardar o crescimento do tumor. No entanto, quando esses ratos também receberam uma dose de radiação, o crescimento do tumor foi significativamente retardado.

  • Por fim, os cientistas ainda alimentaram seis humanos saudáveis com uma dieta com baixos níveis de metionina por três semanas. Eles mediram efeitos metabólicos similares aos observados nos modelos de camundongos.

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Os pesquisadores deixam claro que isso não é um chamado para que as pessoas se tornem veganas, mas um passo importante para entender como a dieta pode influenciar o crescimento do câncer
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Alimentação e câncer

O câncer é uma doença que costuma ser ligada a certos hábitos, principalmente ao tabagismo e à exposição ao sol. Mas alguns alimentos também podem aumentar as chances de desenvolver a doença, principalmente os tumores que têm origem no sistema digestório ou endócrino --como o de mama, próstata, cólon e estômago.

Claro que o problema não está nas frutas, verduras e legumes (dependendo da quantidade de agrotóxicos, claro), mas, sim, na forma como preparamos os alimentos e no consumo de produtos industrializados em larga escala.

De uma forma geral, recomenda-se evitar o consumo de carnes processadas, como os embutidos, restringir o de gorduras saturadas e excluir as gorduras trans (presentes apenas nos produtos industrializados prontos para consumo), além de fugir de refrigerantes e alimentos ultraprocessados.

"Portanto, o ideal é que a base da alimentação seja de alimentos in natura, como frutas, legumes e verduras", diz Ana Adélia Hordonho, diretora da Asbran (Associação Brasileira de Nutrição). "Pelo menos 250 estudos epidemiológicos apontam que 35% das mortes por câncer podem ser prevenidas por modificações alimentares."

E quanto mais variado o cardápio, melhor. "Cada alimento é uma fonte de nutrientes", explica Thais Manfrinato Milla, coordenadora de nutrição clínica do A.C.Camargo Cancer Center, em São Paulo. "As frutas, legumes e verduras contêm betacaroteno, que em quantidades ideais (até 20 mg/dia) é fator protetor do câncer; vitaminas que atuam como antioxidantes; fibras e grãos integrais que mantêm o intestino mais regulado; e ômega-3, que tem relação com a redução de câncer de mama, intestino e pulmão."

Fontes: Durval Ribas Filho, médico nutrólogo e presidente da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia); Thais Manfrinato Milla, coordenadora de nutrição clínica do A.C.Camargo Cancer Center; Ana Adélia Hordonho, diretora da Asbran (Associação Brasileira de Nutrição), consultadas em matéria do dia 05/03/2018.