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Alimentos orgânicos são mais nutritivos?

Marcia Di Domenico

Colaboração para o VivaBem

25/07/2018 04h00

O consumo de alimentos orgânicos não para de crescer no país, e o que até pouco tempo atrás era preocupação só de quem levava um estilo de vida "natureba" hoje é escolha frequente de 15% da população urbana brasileira. O dado é do levantamento do Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (Organis), que apontou, ainda, aumento de cerca de 20% ao ano na busca por verduras, legumes e frutas cultivadas sem agrotóxicos. 

Na verdade, um produto orgânico é muito mais do que livre de pesticidas, adubos químicos e hormônios. Sua produção usa técnicas para não prejudicar o solo, a água, o ar, a fauna e a flora no entorno, por exemplo, além de estimular a regionalização do cultivo e a venda das safras. Isso até é o que motiva muita gente a optar por esses alimentos. Mas 60% estão de olho mesmo na saúde e acreditam que os orgânicos são mais saudáveis do que os produtos "convencionais". Será que eles são mesmo? 

Os alimentos orgânicos têm mais nutrientes? 

Diversos estudos associam a exposição aos resíduos de pesticidas e fertilizantes com o risco de desenvolver diabetes, alterações neurológicas, hormonais e de fertilidade, obesidade e até alguns tipos de câncer. Nesse ponto, é possível afirmar que os orgânicos levam vantagem. Porém, quando a dúvida é em relação à vantagem nutricional de trocar produtos comuns por orgânicos, ainda não é possível encontrar uma resposta conclusiva, principalmente no que diz respeito a verduras, legumes e frutas.

A composição dos vegetais depende de fatores como região, qualidade do solo, clima, irrigação e grau de maturação do produto. Por exemplo: uma pesquisa de cientistas brasileiros publicada no British  Food  Journal comparou a atividade de compostos antioxidantes em mangas cultivadas na Chapada Diamantina, na Bahia, de forma convencional, orgânica e biodinâmica (uma forma alternativa de agricultura orgânica). As frutas produzidas de modo tradicional apresentaram menos antioxidantes (compostos fenólicos e flavonoides) do que as vindas da agricultura orgânica. Apesar de relevante, o resultado não é suficiente, por exemplo, para afirmar que todas as mangas orgânicas, vindas de todas as regiões, são mais nutritivas.  

A concentração superior de antioxidantes na produção orgânica de hortifruti, aliás, é a principal vantagem nutricional comprovada. Isso porque esses compostos atuam como uma defesa natural da planta contra o ataque de pragas --assim como no nosso organismo protegem contra o surgimento de doenças. Quando expostos a agrotóxicos, os vegetais acabam crescendo sem desenvolver esse sistema de defesa como deveria. Em relação a minerais, vitaminas e demais nutrientes, não há evidências significativas do benefício dos orgânicos.

E a carne, o ovo e o leite orgânico? 

Produtos de origem animal estão sujeitos à mesma variação de resultados. Uma revisão de estudos de várias partes do mundo conduzida por pesquisadoras da Universidade Newcastle, no Reino Unido, encontrou diferenças nutricionais importantes entre amostras de carne (bovina, suína e de cordeiro), leite e ovos orgânicos e não orgânicos. A vantagem principal seria a maior quantidade de ácidos graxos ômega 3 (um tipo de gordura saudável) e vitamina E, além de menor concentração de cádmio (um metal tóxico) nos derivados orgânicos de origem animal. A explicação para o resultado seria o tipo de pastagem e alimentação oferecida aos animais. 

Na comparação entre as proporções de antioxidantes e minerais, entretanto, não foram encontradas evidências significativas da vantagem dos orgânicos.

Fontes: Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), e Neiva Souza, nutricionista do departamento científico da VP Consultoria Nutricional.

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