Menos prejudicial? Cigarro eletrônico também oferece riscos à saúde

Ele não possui o cheiro que denuncia de longe quem o usa, nem produz a tóxica --e desagradável -- nuvem de fumaça em torno do fumante. Apenas um discreto vapor é exalado. Em vez de isqueiros, funciona com bateria e não há queima, cinzas ou bitucas.
Essas são algumas das vantagens anunciadas para propagar o uso dos cigarros eletrônicos nos países em que sua comercialização é permitida --no Brasil, ele ainda é proibido, apesar de já estar na boca de muitas pessoas. A promessa é que o produto é menos agressivo ao organismo em comparação com o cigarro convencional. Mas será que o cigarro eletrônico realmente é menos prejudicial?
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Perigo camuflado
O cigarro eletrônico não produz monóxido de carbono, que é um risco para doenças cardiovasculares. Além disso, não tem alcatrão, que é cancerígeno. Mas alguns produtos possuem nicotina líquida --que causa dependência -- e outros componentes para produzir o vapor. "Ao se misturarem, eles formam uma substância cancerígena, então não podemos considerar um produto seguro", destaca Martins.
Um estudo realizado pela Universidade da Carolina do Norte (EUA) e publicado no final de março na revista científica PLOS Biology analisou 148 líquidos de cigarros eletrônicos. A pesquisa aponta que substâncias presentes no dispositivo, como o propilenoglicol e a glicerina vegetal, são mais tóxicas do que a nicotina.
“Quando se coloca os dois cigarros lado a lado, o eletrônico pode até ser menos maléfico que o tradicional. Mas é preciso ter cuidado com essa afirmação, pois isso não isenta o produto de trazer riscos à saúde", afirma Fernando Augusto Soares, diretor médico da Rede D’Or São Luiz e professor de patologia geral da Universidade de São Paulo (USP).
O outro lado
Ele acredita que, com base em estudos feitos pela própria BAT e outras instituições, cigarros eletrônicos e outros produtos com tabaco aquecido têm o potencial de ser significativamente menos arriscado do que fumar o cigarro "tradicional".
“Realizamos pesquisas científicas sobre nossas próprias novas gerações de produtos, que mostram reduções de mais de 90% de tóxicos no vapor, em comparação com a fumaça de cigarro. As células expostas à fumaça do cigarro de papel exibem respostas relevantes para o desenvolvimento de doenças. Já o vapor não tem o mesmo impacto”, afirma.
Os médicos concordam que o vapor pode ser menos tóxico do que a fumaça. Contudo, são reticentes quanto à redução de danos ao organismo. “O cigarro eletrônico continua sendo à base de nicotina e outras substâncias pouco conhecidas. A nicotina não é cancerígena, mas promove o crescimento das células neoplásicas. Ou seja, o cigarro eletrônico não é inócuo”, enfatiza Fernando Soares, que é membro da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP).
Ele acrescenta que a nicotina contida no vapor expirado no ar também é prejudicial para quem a inala --os chamados fumantes passivos.
Riscos em longo prazo são desconhecidos
“A gente não sabe o que o uso dessas substâncias irá causar. Temos de lembrar que existiu uma época em que médicos faziam propagandas de cigarros. Há uma propaganda famosa que afirma que o cigarro é muito bom para gestante, porque o bebê fica menor e o parto é facilitado. Um absurdo. Não dá para cometer erro parecido e dizer que o dispositivo é seguro sem estudos que comprovem isso”, diz o especialista.
O’Reilly concorda que ainda são necessárias mais pesquisas, particularmente em relação aos efeitos em longo prazo. "No entanto, as evidências que existem até o momento parecem apontar na direção certa de que esses produtos são alternativas de risco reduzidas”.
Opção para acabar com o vício?
A médica Stella Regina Martins ressalta que é um grande erro usar o cigarro eletrônico como opção para fumar menos ou abandonar o vício. “No cigarro tradicional, o máximo de nicotina existente é de um miligrama (mg). Na nicotina líquida do dispositivo eletrônico já encontraram até 36 mg da substância. Então, a pessoa dá uma tragada no cigarro eletrônico e fica bem por horas sem precisar tragar novamente, mas, ela fez uma recarga brutal de nicotina no organismo e não tem ideia da quantidade absurda da substância que está ingerindo.”
Martins diz que há muitos métodos eficientes para abandonar o cigarro, como adesivos, chicletes e pastilhas de nicotina. E eles não expõem o fumante a riscos.
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