Vale a pena armazenar células-tronco do cordão umbilical? Thais Fersoza fez
Mãe de Melinda e de Teodoro, a atriz Thais Fersoza postou recentemente em seu perfil no Instagram que optou por armazenar o sangue do cordão umbilical de seus filhos. "Tomamos a decisão certa com a Melinda, e não pensamos duas vezes em armazenar o sangue de cordão umbilical do Teodoro", escreveu ela, incentivando seus seguidores.
Polêmico, o assunto levanta debates desde o surgimento dos bancos privados de armazenagem, dividindo opiniões entre os médicos. Mas afinal, vale ou não a pena investir em uma estocagem privada?
Para que armazenar?
Primeiro é importante entender o papel das células-tronco do cordão umbilical. “As células-tronco encontradas na medula óssea, no sangue da corrente sanguínea e no do cordão umbilical são chamadas de hematopoéticas”, explica Vanderson Rocha, membro da ABHH (Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular).
Apesar de também ser capaz de se regenerar, assim como suas irmãs, e poderem ser usadas em transplantes para pessoas com doenças do sangue, como a leucemia, a célula-tronco do cordão umbilical tem um benefício "extra". “Como o sangue de cordão é do recém-nascido, ele tem pouco ou nenhum contato com meio externo, possibilitando fazer transplantes até para pessoas incompatíveis”, diz Rocha.
Por esse motivo, foram criados bancos de sangue de cordão umbilical. O armazenamento é feito com crioprotetor [substância usada para proteger o tecido biológico de danos de congelamento] e em temperatura baixíssima --de -196 °C-- em nitrogênio líquido, fazendo as células durarem, no mínimo, duas décadas. Os bancos devem atender a critérios técnicos determinados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), para que seja garantida a qualidade e a segurança das células disponibilizadas.
Na rede pública, as células-tronco armazenadas são provenientes de doações voluntárias. A doação é realizada em maternidades credenciadas do programa Rede BrasilCord (existem 13 no Brasil). A coleta é feita de forma indolor e segura, logo após o nascimento do bebê. Nesse banco, as células poderão ser utilizadas por qualquer pessoa desde que haja compatibilidade sanguínea, ou mesmo pelo próprio doador ou por um parente seu. Esse tipo de armazenamento tem o custo coberto pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo a rede, "as mães que tiverem interesse em doar o SCUP do recém-nascido devem procurar o banco da BrasilCord mais próximo para entrevista. Existem critérios específicos que devem ser levados em conta, como: ter entre 18 e 36 anos, ter feito no mínimo duas consultas de pré-natal documentadas, estar com idade gestacional acima de 35 semanas no momento da coleta e não possuir, no histórico médico, doenças neoplásicas (câncer) e/ou hematológicas (anemias hereditárias, por exemplo)". elas passam por essa triagem e, se forem aprovadas, fazem a coleta logo após o parto
Contudo, em paralelo ao banco público, empresas privadas também criaram um sistema de uso exclusivo. Nos bancos pagos --que foi o optado por Thais Fersoza-- as células são guardadas para uso apenas da família, em um procedimento que custa, em média, de R$ 3 mil a R$ 4 mil pela coleta e de R$ 500 a R$ 700 pela anuidade do armazenamento.
A difícil decisão entre optar pelo banco público ou privado de armazenamento
Apesar do aparente aspecto positivo de se ter um banco exclusivo, alguns médicos se opõem a esse tipo de investimento, como é o caso de Rocha: “Eu sou completamente contra. As próprias empresas privadas estimulam as mães, que estão em um momento de fragilidade, para tomarem decisões.” O médico explica: “Apesar de reconstituírem a medula óssea doente, sendo muito utilizado no tratamento de doenças do sangue [tipo leucemia], a possibilidade de usar as células-tronco de cordão na própria criança é mínima. A eficácia nem é comprovada..”
Nelson Hamerschlak, coordenador de Hematologia e Transplante de Medula do Hospital Albert Einstein e presidente do Congresso da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea (SBTMO), compartilha da mesma opinião de Rocha. “Do ponto de vista científico, não há nenhuma indicação ou evidência consistente de que congelar o sangue de cordão em bancos privados para o próprio uso seja eficiente. Aliás, se uma criança tiver leucemia, é melhor não usar seu próprio cordão para transplante, pois o defeito já poderia estar na célula congelada”, explica Hamerschlak.
Segundo ele, geralmente as pessoas armazenam nesses bancos privados por precaução, para tratar uma possível doença no futuro da criança. Mas isso não é um seguro de vida para a criança e não garante o tratamento da doença que ela possa ter no futuro.
Hematologista do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e diretor-técnico do Grupo Criogênesis, que oferece serviços de terapia celular e medicina reprodutiva, Nelson Tatsui deixa bem claro que o banco público deve existir, mas que a opção pelo sistema privado nada mais é do que uma precaução: “Óbvio que o armazenamento público deve existir, porque a célula vai servir para alguém. Os pais que guardam no sistema privado só estão se prevenindo de uma falta de doador compatível, mesmo desconhecendo o futuro do transplante.”
Sobre a eficácia não comprovada, Tatsui aposta no acaso: “Claro que para algumas doenças é melhor pegar as células-tronco de outro doador, mas e quando não tem alguém compatível? A média de pessoas que recebe a célula compatível é de 30%. Isso é muito pouco”. Segundo ele, o investimento em terapia privada é para um caso de necessidade. “Embora tenha crescido o número de doadores, tem diminuído o de compatíveis. Isso faz com que os pais pensem nesse armazenamento como forma preventiva, mas isso não quer dizer que essas células sejam usadas. É só uma forma de evitar problemas no futuro.”
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