O que é psoríase: doença que atinge Beyoncé e Kim Kardashian

A cantora Beyoncé revelou que convive com o diagnóstico de psoríase, uma doença crônica e autoimune que provoca manchas avermelhadas e placas descamativas na pele.

A declaração, feita recentemente à revista Essence, aconteceu em meio a uma reflexão sobre as memórias que guarda sobre seu cabelo:

A relação que temos com nosso cabelo é uma jornada profundamente pessoal. Desde passar a infância no salão de beleza da minha mãe até meu pai aplicar óleo no meu couro cabeludo para tratar minha psoríase, esses momentos são sagrados para mim.

Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a psoríase atinge de 1% a 3% da população mundial, o que corresponde a cerca de 125 milhões de pessoas. Deste total, 5 milhões vivem no Brasil.

Além de Beyoncé, outros famosos, como Kelly Key, Kim Kardashian e Xand Avião, também já afirmaram ter o diagnóstico para a patologia.

A psoríase não é uma doença grave e há tratamento acessível - inclusive pelo Sistema Único de Saúde (SUS) - que permite o controle dos sintomas.

Mas, além de não ter cura, a patologia também pode acarretar em problemas emocionais de autoestima e isolamento social por ser uma enfermidade dermatológica facilmente observável.

O que é e o que causa a psoríase?

Doutor em Dermatologia pela Universidade de São Paulo (USP), e sócio-efetivo da SBD, o médico Abdo Salomão explica que a causa exata da psoríase é desconhecida, mas está relacionada com a genética e histórico familiar.

Continua após a publicidade

Em termos fisiológicos, ele explica que o desenvolvimento da doença no corpo está associado a um processo inflamatório em uma das camadas da pele, cujas células perdem a adesão e começam a se soltar e descamar.

Pele com psoríase
Pele com psoríase Imagem: iStock

"Com isso, o organismo faz mais células e realiza esse processo de tal forma que a pele fica mais grossa e descamativa", explica Salomão. Por essa razão, a psoríase é considerada uma doença autoimune, ou seja, que é provocada pelo próprio sistema de defesa do corpo.

Às vezes, as placas descamativas de pele lesionada aparecem nas palmas de pés e mãos, no couro cabeludo, e até em axilas, virilha e genitais (estes casos, chamados de psoríase invertida, são mais raros).

Existem ainda os casos em que psoríase atinge as unhas - que são ainda mais incomuns.

Geralmente, (a doença) poupa a face, porque o sol tem efeito anti-inflamatório. Onde bate sol, não tem psoríase ou raramente dá psoríase

Continua após a publicidade

Abdo Salomão, médico

Ainda segundo o Abdo Salomão, é mais comum a doença surgir na adolescência ou logo após a adolescência, e ser mais branda à medida que a pessoa envelhece. "Não significa que houve cura, mas as lesões e as placas descamativas diminuem (com o tempo)", diz.

Há também fatores de risco que podem levar à manifestação da psoríase ou à evolução dos sintomas, como histórico familiar; estresse (que pode acelerar o surgimento dos sintomas); obesidade; tempo frio, que contribui para o ressecamento da pele; uso de álcool, tabaco e também de alguns medicamentos - antimaláricos, os que são usados para tratar hipertensão, e também lítio.

Alcoolismo e etilismo pioram a psoríase. E o estado emocional, com estresse, preocupação, ansiedade e insônia, também servem como gatilhos para agravar o quadro.

Abdo Salomão, médico

Sintomas da psoríase

Embora a gravidade da patologia seja diferente para cada paciente, em linhas gerais a psoríase provoca manchas vermelhas com escamas secas esbranquiçadas na pele; pele ressecada, coceira, dor, sensação de queimação e, em casos mais raros, alterações no formato das unhas.

Continua após a publicidade

Os sintomas da doença são considerados cíclicos, ou seja, aparecem com mais intensidade em determinada época, e podem ser menos desconfortáveis em outras. Isso pode depender também o estado emocional do paciente.

Como disse Salomão, quanto mais ansioso e estressada está a pessoa, maiores são as chances das lesões aparecerem.

Em casos menos comuns, também podem ser observados inchaço e rigidez nas articulações, provocando a chamada artrite psoriásica, que acontece quando a psoríase atinge a região das juntas. De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia, até 30% dos paciente apresentam esse quadro.

"Às vezes o paciente apresenta sintomas em um local (do corpo), e às vezes, apresenta em todos. Além disso, também é comum as placas migrarem, porque a alteração atinge a pele toda", diz o dermatologista.

Sintomas da psoríase

  • Manchas avermelhadas com escamas secas em regiões como couro cabeludo e cotovelo
  • Pele ressecada e rachada espalhadas pelo corpo
  • Coceira, queimação e dor
  • Alterações no formato das unhas, além de descolamento
  • Inchaço e deformação das articulações
Continua após a publicidade

Tratamentos

A psoríase não tem cura, mas tem tratamento e controle, garante Salomão.

A única coisa que não podemos prometer ao paciente é que ele vai fazer um tratamento em que psoríase some e nunca mais vai aparecer. Mas a gente pode prometer que os tratamentos permitem o controle. A doença desaparece e, na vigência do tratamento, não aparece mais.

Abdo Salomão, médico

Nos casos considerados leves, o tratamento é feito com a hidratação da pele com o uso de medicamentos tópicos (cremes), aplicados na região das lesões. Em algumas situações, a exposição ao sol (com a orientação de um dermatologista) também contribui para a melhora do quadro clínico.

O tratamento tópico, com creme, geralmente, é o suficiente. Mas, se o paciente apresentar resistência a esse método, passa a ser necessário um tratamento com o uso de comprimidos em casos mais moderados, ou injeção de medicamentos imunobiológicos em situações mais extremas, com numerosas placas pelo corpo e também nas articulações.

Continua após a publicidade

Nesse último caso, os remédios são altamente caros, podendo chegar a R$ 20 mil reais. Mas, segundo Salomão, podem ser adquiridos pelo SUS.

Há também tratamentos em que o paciente é submetido à exposição de luzes ultravioleta A (PUVA) ou ultravioleta B de banda estreita (NB-UVB) em cabines. Neste método, chamado de fototerapia, os médicos aumentam a sensibilidade da pele à luz por meio de uma combinação de medicamentos.

Tratamento também deve ser feito para saúde mental, diz médica

Por ser fisicamente aparente e observável, a psoríase também é conhecida pelos problemas emocionais e sociais que provoca nos pacientes. Pessoas diagnosticadas com a doença sofrem com as transformações no corpo e com dificuldades para autoaceitação.

Além disso, lidam também com o preconceito de quem acredita que a enfermidade seja contagiosa. Esconder as feridas com roupas e se isolar passam a ser hábitos comuns.

Por esse motivo, a dermatologista Paola Pomerantzeff, também integrante da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), alerta que é necessário incluir, no tratamento, cuidados com a saúde mental do paciente.

Continua após a publicidade

Apesar de ser uma doença benigna e não contagiosa, a psoríase pode gerar um impacto significativo na qualidade de vida e na autoestima do paciente, atrapalhando-o tanto fisicamente quanto psicologicamente e socialmente.

Paola Pomerantzeff, dermatologista

Um estudo publicado em 2020 na revista médica JAMA Dermatology, aponta que os problemas cutâneos provocados pela psoríase podem aumentar em 32% o risco de uma pessoa desenvolver doenças mentais, como depressão e ansiedade.

E a piora desse estado emocional, lembra Paola, é perigoso justamente por ser um fator que agrava os sintomas da psoríase. Ou seja, vira uma bola de neve.

Uma área relativamente nova de pesquisa em dermatologia levanta a hipótese de que se você teve psoríase realmente ruim em uma idade jovem e foi socialmente isolado, isso pode afetar sua vida social mais tarde, mesmo que sua pele melhore.

Paola Pomerantzeff, dermatologista

Continua após a publicidade

Para ela, o ideal é que a ajuda psicológica seja um escudo, para que o indivíduo sinta menos os efeitos emocionais da doença. "É necessário ter empatia e dar espaço ao paciente, em um acompanhamento psicológico adequado, para falar sobre sua condição de pele e como isso afetou sua vida, o que pode ajudar a melhorar a resposta do tratamento", diz a médica.

Deixe seu comentário

Só para assinantes