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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Labirintite tem tratamento: saiba reconhecer sintomas e quando buscar ajuda

Labirintite: veja sintomas, causas e mais - Thinkstock
Labirintite: veja sintomas, causas e mais Imagem: Thinkstock

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

15/04/2021 09h51Atualizada em 17/05/2022 17h37

A região interna do seu ouvido, também chamada de labirinto, contém duas estruturas. Uma delas é responsável pela audição, enquanto a outra tem como função sentir a posição e os movimentos da cabeça. Quando há algum problema nesse sensor de movimentos, ocorre a sensação de que a cabeça está rodando ou se movendo: trata-se da vertigem, também conhecida como tontura - e diversas doenças podem gerar os tais "sintomas da labirintite".

Na maioria das vezes, as pessoas se referem a esses incômodos como labirintite. Contudo, esta enfermidade é apenas uma das doenças do labirinto (labirintopatias) que podem se manifestar por meio de vertigem. Sentir tontura é uma queixa de 42% da população adulta em São Paulo, é mais comum entre as mulheres e idosos, mas pode também acometer crianças. Os dados foram publicados na Revista Brasileira de Otorrinolaringologia.

Para boa parte dessas pessoas, o diagnóstico precoce e o devido tratamento podem levar ao desaparecimento do problema. Para os demais, os especialistas garantem que é possível controlar sintomas, prevenir crises, solucionar ou controlar as doenças associadas. Mas o melhor desse quadro é saber que as doenças do labirinto podem, muitas vezes, ser prevenidas. O segredo é adotar hábitos de vida saudáveis.

Labirintite: sintomas, o que é e mais

O que é labirintite?

Esse termo é uma forma popular de se referir às doenças do labirinto. As pessoas usam essa palavra equivocadamente para descrever sintomas como tontura, vertigem ou desequilíbrio.

Na verdade, labirintite é o termo técnico para designar a inflamação do labirinto, uma causa (rara) das alterações do equilíbrio que, geralmente, acontece apenas uma vez na vida, em geral, após uma meningite, por exemplo, e ainda pode ter como sequela a surdez.

Qual a causa principal?

Entre todas as enfermidades que causam vertigem, a mais frequente é uma doença do labirinto conhecida como VPPB (Vertigem Posicional Paroxística Benigna), que se manifesta em 3 a cada 10 pessoas que se queixam de vertigem.

"Trata-se de uma doença que decorre de um problema mecânico, que é o deslocamento de partículas de cálcio (pequenos cristais) do labirinto, que saem do local correto e vão para o local errado", explica Márcio Salmito, otorrinolaringologista e Coordenador do Departamento de Otononeurologia da ABORL-CCF.

"Assim, toda vez que a pessoa mexe a cabeça, ou a coloca em posição específica, esses 'cristais' se movimentam pelo labirinto, e promovem a sensação de que tudo está rodando", acrescenta o especialista. Esse incômodo durará até que as partículas se estabilizem, o que equivale a alguns segundos, e pode se repetir de forma recorrente.

Outras causas comuns da labirintite

  • Metabólicas - decorrem de alterações glicêmicas (diabetes e hipoglicemia), do colesterol e triglicérides alto, alterações da tireoide (hipotireoidismo e hipertireodismo), além de taxas altas de ácido úrico.
  • Dieta - consumo excessivo (especialmente entre os jovens) de itens ricos em cafeína como café, chás preto e mate, chocolate (principalmente o meio-amargo), bebidas gaseificadas à base de cola, açúcar, carboidratos, gorduras, frituras, bebidas alcoólicas, bem como jejum prolongado;
  • Problemas cardiovasculares - alterações das artérias que irrigam o labirinto, doenças do coração e pressão alta (hipertensão), principalmente entre os idosos.
  • Obstruções - excesso de cera e corpo estranho no conduto auditivo externo;
  • Problema articular - como a disfunção da articulação temperomandibular (ATM).

Causas menos comuns

Mayra Martinelli, otorrinolaringologista que integra o corpo clínico das clínicas Clinoft e Endocap, diz que, além da VPPB, as doenças do labirinto podem estar relacionadas às seguintes causas

Menos comuns:

  • Medicamentos: alguns antibióticos e anti-inflamatórios, anticonvulsivantes, anti-hipertensivos, ansiolíticos, anti-histamínicos, narcóticos, antiarrítmicos, diuréticos, vasodilatadores, betabloqueadores e outros fármacos (tanto o seu uso como a sua suspensão).

Raras:

  • Tumores
  • Doenças neurológicas
  • Alergias
  • Alterações genéticas
  • Trauma
  • Doenças autoimunes
  • Sífilis e HIV

Sintomas da labirintite e doenças semelhantes

De acordo com o otorrinolaringologista Luiz Carlos Sava, professor da Escola de Medicina da PUC-PR, o sintoma típico das doenças do labirinto é a vertigem, uma sensação na qual você sente que a cabeça está rodando, ou está se movimentando mesmo que esteja parado.

"É preciso estar atento à duração e intensidade, que podem ser mais ou menos intensas, a depender da região afetada", adverte Sava.

Veja quais são as outras manifestações associadas:

  • Tontura
  • Desequilíbrio
  • Palpitações
  • Calafrios
  • Náuseas e vômitos
  • Vertigem ao mexer a cabeça ou assumir determinadas posições
  • Surdez ou zumbidos
  • Alteração na fala
  • Alteração da coordenação muscular e da marcha
  • Alterações neurológicas, como visão dupla, assimetria da face etc.
  • Suor frio
  • Movimento involuntários dos olhos (nistagmo)
  • Dor de cabeça ou sensação de cabeça oca

Quem precisa ficar mais atento?

As doenças do labirinto podem acometer adultos de ambos os sexos, inclusive crianças. No entanto, é mais frequente entre idosos e mulheres. No grupo feminino, fatores hormonais estão relacionados, seja na idade fértil, seja no período da menopausa.

Quando é a hora de procurar ajuda?

A regra é não desprezar seus sintomas, nem automedicar-se. Os especialistas sugerem que mesmo que você tenha experimentado uma crise passageira, é essencial ser avaliado sem demora por um especialista, principalmente para descartar causas mais graves como o AVC.

Mas quando as crises se repetem, ficam mais fortes e já atrapalham o seu dia a dia também é preciso procurar ajuda. A medida não só aliviará a crise, como também resultará na definição de sua origem.

Nos casos em que a causa seja alguma alteração do ouvido, o médico mais indicado para a consulta é o otorrinolaringologista. Em alguns quadros, outros especialistas poderão examiná-lo e tratá-lo, como o neurologista, o clínico geral, o cardiologista, endocrinologista, e até o reumatologista, entre outros profissionais da área da saúde.

Como é feito o diagnóstico?

Na hora da consulta, o médico vai ouvir sua queixa e levantará o seu histórico de saúde. Além disso, fará o exame físico que, muitas vezes, inclui manobras específicas.

"Entre os 'otorrinos', a mais comum é a chamada Dix-Hallpike, uma série de movimentos definidos e bruscos que fazemos com a cabeça do paciente para esclarecer qual é a causa do problema. Por vezes, tais medidas são suficientes para o diagnóstico", explica o otorrinolaringologista José Fernando Polanski, professor da Faculdade de Medicina da UFPR.

Apesar disso, alguns médicos podem solicitar testes complementares para avaliar a função do labirinto, como o exame de oculografia com prova calórica, o teste do impulso cefálico (vHIT) e o VEMP), a audição (audiometria), além de exames sanguíneos e de imagem (tomografia, ressonância magnética), quando for o caso.

A ideia é identificar uma das enfermidades que tenham essa manifestação, como a doença de Ménière e neurite vestibular, entre outras, e descartar outras doenças que podem simular o quadro, como algumas doenças neurológicas.

Como é feito o tratamento?

A depender da causa da doença do labirinto, o objetivo terapêutico pode ser a cura, o alívio dos sintomas, a prevenção de crises, além da solução ou controle de doença associada.

Em geral, o plano terapêutico se baseia nas seguintes estratégias:

  • Mudanças de hábitos e estilo de vida (como dieta, prática de atividade física e controle do estresse;
  • Manobras de reposicionamento (como a de reposição dos otólitos), exercícios de reabilitação vestibular (com fonoaudiólogos ou fisioterapeutas)
  • Uso de medicamentos específicos
  • Procedimentos (injeção intratimpânica)
  • Cirurgia (casos mais complicados, como uma falha óssea)

A boa notícia é que, de modo geral, o prognóstico é bom. Isto é, há melhora significativa dos sintomas e da qualidade de vida.

Os especialistas advertem que os medicamentos utilizados para alívio da vertigem são seguros e efetivos. Contudo, caso sejam usados sem orientação médica, eles podem levar à sensibilização. Isso significa que o remédio passa a ter o efeito contrário, ou seja, em vez de aliviar o sintoma, ele o agrava. Assim, evite usar medicamentos de terceiros, ou comprá-los por conta própria, e busque uma avaliação médica.

Possíveis complicações da labirintite

A vertigem intensa pode se tornar incapacitante, impedindo os movimentos, o que aumenta o risco de trombose venosa profunda. Além disso, as quedas são comuns. Portanto, é preciso ter mais cuidado com práticas como subir escadas, dirigir e atravessar a rua, especialmente entre os idosos.

A depender da gravidade da doença do labirinto, pode haver comprometimento das atividades sociais, profissionais, com perda da qualidade de vida, além da sensação de insegurança, depressão, pânico e surdez. Entre as crianças, há risco de atraso na fala, na escrita e prejuízo da coordenação motora.

Dá para prevenir a labirintite?

Sim. Boa parte das doenças do labirinto tem relação com doenças do corpo todo (metabólicas). Algumas delas podem ser evitadas com a adoção de medidas gerais de saúde: dieta saudável, atividade física, peso ideal e outras, o que contribui para uma circulação saudável e a prevenção de todas as doenças relacionadas.

No caso do labirinto, ele funciona como um órgão "fim de linha" —porque na ordem das artérias ele recebe as mais finas. Assim, o diabetes, a hipertensão, a dislipidemia, e mesmo as doenças cardiovasculares podem ter como primeira manifestação algum problema no labirinto.

Fontes

Márcio Salmito, médico otorrinolaringologista, coordenador do Departamento de Otononeurologia da ABORL-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial) e do Núcleo de Tontura do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP); Mayra de Freitas Centelhas Martinelli, otorrinolaringologista, integrante do corpo clínico das clínicas Clinoft e Endocap; Luiz Carlos Sava, médico otorrinolaringolosita e professor da Escola de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná); José Fernando Polanski, médico otorrinolaringologista e professor da Faculdade de Medicina da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e da FEMPAR (Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná). Revisão técnica: Márcio Salmito.