Topo

Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Tontura pode indicar problema arterial, neurológico e alteração de glicose

iStock
Imagem: iStock

Paula Roschel

Colaboração para VivaBem

14/05/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Tontura é um sintoma muito comum que é deixado de lado por boa parte das pessoas
  • A causa mais comum é a alteração no labirinto, órgão presente em nossa orelha interna
  • Ela pode acontecer também entre pessoas com diabetes, problemas vasculares, neurológicos e psicológicos
  • A automedicação em casos de tontura pode mascarar o problema central, fazendo com que haja um quadro persistente

Ter a sensação que vai desmaiar, subitamente, e a impressão que o ambiente está girando, mesmo com tudo estático, são algumas das características da tontura. Tal quadro, contudo, não é uma doença em si, mas um sintoma de que o corpo passa por algum desequilíbrio.

Essa alteração momentânea da consciência pode indicar um problema arterial, neurológico, de glicose baixa ou alta, ter relação com uma alimentação pobre ou com uma disfunção hormonal. Apesar de ser bastante corriqueira, a tontura não deve ser deixada de lado. No entanto, a realidade é outra.

Em São Paulo, por exemplo, a prevalência do sintoma, também conhecido como vertigem, era de 42% na população adulta, segundo estudo realizado em 2013 e publicado pela Revista Brasileira de Otorrinolaringologia. Apenas 46% dos pacientes da pesquisa procuraram um médico, no entanto. Ou seja, menos da metade.

A quem recorrer?

Caso você sinta vertigens frequentes, o ideal é procurar ajuda médica. Quando a crise de tontura for intensa, deve-se ir a um pronto-socorro. Os melhores especialistas para analisar o quadro são neurologistas e otorrinolaringologistas, uma vez que os problemas mais comuns de perda momentânea de equilíbrio se relacionam com o labirinto, um órgão localizado dentro da nossa cabeça, a chamada orelha interna.

Basicamente, o labirinto funciona como uma balança de dois pratinhos, para dar equilíbrio. Se um lado desse balizador está descompensado, o cérebro entende que estamos pendendo, o que pode resultar em náuseas, vômito e desequilíbrio.

São várias as causas dos problemas labirínticos. "Às vezes, tonturas e vertigens podem significar o primeiro sinal de alguma doença importante. Nosso ouvido é um consumidor voraz de energia e depende de suprimento constante de açúcar e oxigênio. Qualquer fator que impeça a chegada ou o consumo adequado desses elementos é um gerador de tontura", diz Ricardo Bento, professor titular de otorrinolaringologia da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

Entre as inúmeras causas de problemas no labirinto, é possível citar:

  • hipertensão
  • reumatismos
  • diabetes
  • utilização de substâncias ototóxicas (alguns antibióticos e anti-inflamatórios que alteram as funções do ouvido)
  • alterações bruscas de pressão barométrica (mergulhos e viagens de avião) ou do metabolismo
  • infecções por vírus e bactérias
  • doenças próprias do ouvido
  • excesso de cafeína
  • tabagismo
  • álcool ou drogas
  • aterosclerose
  • traumas sonoros
  • problemas de coluna cervical ou de articulações da mandíbula
  • estresse
  • quadros psicológicos
  • traumatismos na cabeça

Diabéticos, atenção!

Por causa dos níveis de glicose, pessoas diabéticas também podem desenvolver um problema relacionado ao equilíbrio chamado VPPB (vertigem posicional paroxística benigna). Nele, pequenos cristais que fazem parte do sistema auditivo, também chamados de otólitos, vão parar em locais errados e, com isso, ocorre um quadro de tontura.

A ciência ainda não consegue dar uma resposta exata do porquê o deslocamento ocorrer através da variação da glicose.

Para tratar o problema, a melhor via é estabilizar o diabetes e também ir ao otorrinolaringologista para fazer manobras mecânicas para que os pequenos cristais possam voltar ao seu devido lugar e assim diminuir ou acabar com a tontura de forma rápida.

Outros quadros que podem ocasionar o movimento dos cristais para além de sua cavidade de origem são problemas metabólicos, como hormônios da tireoide fora do nível padrão ou acidentes envolvendo impacto.

Neste último caso, os cristais são "lançados" para áreas erradas por causa do movimento brusco. Mais uma vez, um otorrinolaringologista habilitado poderá devolver os cristais para o lugar certo através de movimentos realizados em consultório.

13.jun.2017 - imagem ilustrativa - medicação de glicose no sangue - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Diabéticos devem ficar atentos aos níveis de glicose, que podem ter relação com vertigem
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Não é sempre labirintite

Muitas pessoas julgam que é labirintite todo e qualquer quadro de tontura. Com isso, acabam recorrendo, até mesmo sem a indicação de um profissional, a medicamentos para o controle desta inflamação do labirinto ou sedativos labirínticos, sem entender a causa real do problema.

Com isso, a pessoa pode perceber uma melhora momentânea, mas, sem tratar a causa, a tontura volta e pode acompanhar a vida do paciente.

Aliás, nomear toda e qualquer tontura como labirintite é um modo equivocado de classificação, uma vez que tal inflamação é muito menos comum do que outros tipos de vertigem. O certo então é falar "labirintopatia", que significa "doença do labirinto".

Falta de sangue

Existe também a vertigem advinda de problema vascular. Nela, a pessoa sentirá a cabeça pesada ou terá a sensação de visão turva, ou escura, como resultado da área do ouvido estar menos abastecida de sangue do que o esperado.

É muito comum isso ocorrer em pessoas com pressão baixa, ao se levantarem rapidamente. Indivíduos com a pressão alta, em ambientes quentes, também podem se sentir mal pelo mesmo motivo.

Uma grande tensão no pescoço é outro quadro que pode fazer com que a artéria basilar, que alimenta a região da orelha, deixe de enviar a quantidade ideal de sangue para a área do labirinto. Como resultado, o paciente sente que está perdendo o controle do corpo até com movimentos simples, como ao girar a cabeça.

Vale ressaltar que os problemas com o labirinto dificilmente causam desmaio. Se a tontura evoluir para a perda de consciência, o ideal é procurar um neurologista.

O especialista avaliará se não existe alguma alteração no sistema nervoso central que possa ocasionar tal desequilíbrio, como tumores.

Tratamento

Após ter o diagnóstico em mãos, o paciente pode receber medicamentos para aliviar a tontura, fazer manobras com a cabeça para colocar os cristais no lugar e, principalmente, se submeter a tratamentos para sanar o problema central envolvendo a vertigem.

Exercícios para as pernas, ingestão de líquidos e evitar locais muito quentes também ajudam pessoas que têm problemas de tontura relacionadas à pressão sanguínea, como a hipotensão postural.

Saiba como prevenir

Evitar o cigarro e a ingestão de bebida alcoólica ou cafeína em excesso são pontos importantes para quem não quer sentir tontura. As atividades físicas previnem a obesidade e fortalecem a musculatura, evitando problemas metabólicos que podem causar vertigem, também sendo ótimos aliados do equilíbrio.

Fracionar a dieta também é um bom caminho. Procure alimentar-se a cada três horas, evitando grandes quantidades de comida, excesso de sal e açúcar.

Tome muito líquido também. A maior filtração renal elimina as toxinas acumuladas no organismo, que funciona em maior equilíbrio quando hidratado. Por último, e talvez o mais difícil atualmente, é procurar relaxar. O estresse piora qualquer condição orgânica, inclusive a tontura.

É possível viver sem tontura através da eliminação de sua causa, seja de ordem metabólica, vascular ou neurológica. Para isso, tenha uma vida saudável, procure um médico e não se automedique.

Fontes: Richard Louis Voegels, otorrinolaringologista, professor associado e livre docente da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo); Ricardo F. Bento, professor titular de otorrinolaringologia da FMUSP e diretor da divisão de otorrinolaringologia do HC-SP (Hospital das Clínicas de São Paulo); Patricia Arena, otorrinolaringologista do setor de otoneurologia do HC-SP e Norma de Oliveira Penido, coordenadora da equipe de otorrinolaringologia do Hospital 9 de Julho, de São Paulo.