Topo

Paulo Chaccur

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Diabetes: você sabe quais problemas a doença pode causar?

iStock
Imagem: iStock

Colunista do UOL

05/02/2023 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

No topo da lista das condições crônicas que mais preocupam, o diabetes é uma doença que, sem o controle e tratamento adequados, pode provocar uma série de consequências à saúde.

Problemas que muitas vezes nem associamos à condição. Entre os danos, há, por exemplo, a possibilidade de comprometimento da visão, da saúde bucal, do coração, dos vasos sanguíneos, rins e nervos, além de riscos elevados de desidratação, aumento das chances de infecções, questões de pele e dificuldade de cicatrização.

O que é

Diabetes é um termo genérico para condições que envolvem níveis elevados de açúcar —ou glicose— no sangue.

No organismo, a glicose é utilizada como combustível para uso imediato ou pode ficar armazenada, como uma reserva de energia, em forma de gordura. O seu excesso, porém, pode ser muito prejudicial.

O problema ocorre devido a defeitos na secreção ou na ação da insulina, hormônio liberado do pâncreas pelas chamadas células beta, responsável justamente por esse controle glicêmico.

Quando o corpo não fabrica insulina suficiente ou não consegue utilizar adequadamente o que produz, as taxas de glicose ficam altas, o que chamamos de hiperglicemia. A principal causa do diabetes varia de acordo com o tipo.

Tipos de diabetes

Entre os tipos mais comuns estão o 1 e o 2.

O primeiro é causado pela perda da capacidade do pâncreas em produzir insulina. Quando o hormônio está em falta, faz com que a glicose não entre nas células e se acumule na corrente sanguínea.

O tipo 1, que geralmente aparece na infância ou adolescência, é caracterizado por ser genético e autoimune (o sistema imunológico ataca e destrói as células do pâncreas que produzem insulina).

Já o 2 é frequentemente adquirido com o passar dos anos e pode ser desencadeado por hábitos e estilo de vida.

Nesses casos, as células adiposas e musculares não conseguem aproveitar completamente o hormônio liberado pelo pâncreas e a glicose passa a ser utilizada de modo ineficaz. Cerca de 90% das pessoas diagnosticadas com diabetes têm o tipo 2.

Possíveis complicações e consequências do diabetes:

  • A relação com as rugas e a pele

O envelhecimento precoce da pele é uma característica comum em pacientes com diabetes. Sinais como rugas, manchas e até flacidez podem surgir mais cedo que o esperado. Isso porque o diabetes (tipo 2) pode acelerar o envelhecimento da pele quando não tratado de forma correta. A explicação vem de um processo chamado glicação proteica.

Em resumo, ela ocorre quando uma molécula de glicose adere a uma molécula de proteína: o açúcar pode se ligar, por exemplo, a elastina e o colágeno e desestabilizar essas proteínas.

E como elas estão relacionadas à sustentação e elasticidade da pele acabam contribuindo para um envelhecimento precoce. E esse é apenas um ponto, até simples e superficial. O fato é que a alta taxa glicêmica causa diversas questões na pele, inclusive graves.

Dentre as manifestações dermatológicas comuns em diabéticos, podemos citar: dermatites, dermopatia diabética (manchas pelo corpo com aspecto escurecido ou amarronzado) e acantose nigricans (regiões de dobras, como pescoço e axilas, escurecidas).

  • O "pé diabético"

O pé diabético é uma dessas complicações, talvez a mais frequente entre os portadores da doença.

A condição é caracterizada pelo aparecimento de feridas na pele, além da falta de sensibilidade, coceiras e a sensação de queimação, frio, formigamento e pontadas.

Isso acontece devido a lesões nos vasos sanguíneos e a degeneração progressiva dos nervos —a neuropatia diabética, que causa danos nos nervos, principalmente os periféricos, como das mãos e pés.

Assim, uma simples pedra no sapato pode machucar a pele e o indivíduo não perceber porque tem pouca sensibilidade nas extremidades.

A pele do diabético, portanto, está mais propensa a sofrer lesões e infecções de todo tipo. Um fator que agrava o cenário é que a glicemia alta provoca uma reação inflamatória nos vasos sanguíneos. No caso dos vasos pequenos, que nutrem a pele, ela prejudica a irrigação e, desta forma, torna a cicatrização mais lenta.

  • Infecções

Durante um processo de cicatrização, é necessário um conjunto de reações para que os tecidos se reorganizem e reparem o trauma sofrido.

No diabetes, se não bem controlado, temos a glicose em excesso circulando de forma constate (o que favorece a proliferação de microrganismos) e muitas moléculas glicadas (reação espontânea entre moléculas de açúcares e compostos como proteínas, lipídios e ácidos nucleicos (DNA e RNA), formando os "produtos de glicação avançada" - AGEs).

Diante do cenário, as células da imunidade podem ficar comprometidas, aumentando o risco de infecções, uma vez que o sistema imunológico não funciona plenamente.

Como a pele não recebe irrigação suficiente para recuperar o tecido lesionado, essa infecção pode avançar para úlceras, atingir músculo, gordura e ossos. Quando a situação chega a esse ponto, é possível que o membro afetado precise ser amputado a fim de evitar que a infecção se espalhe.

Diabéticos estão ainda propensos a desenvolver problemas e doenças relacionados à saúde bucal, como cáries, gengivite, periodontite e até a perda óssea ao redor dos dentes.

  • Queda capilar

O diabetes desequilibra o metabolismo e com isso todos os mecanismos fisiológicos do organismo. E, como dito, um organismo que não funciona bem não tem uma vascularização perfeita.

Como consequência, apresenta pouca nutrição nos tecidos, inclusive no couro cabeludo, podendo predispor a queda de cabelos de forma mais acentuada.

  • Consequências para o coração e os vasos sanguíneos

A condição causa danos diretamente na parede dos vasos sanguíneos, lesões que podem acontecer em vasos de diferentes calibres e localizações, afetando diversos órgãos.

No caso do coração, com muita glicose no sangue, o nível de colesterol aumenta, formando um número maior de placas de gordura nas artérias coronárias (as responsáveis por irrigar o órgão), que correm o risco de serem obstruídas. O excesso de glicose na circulação favorece ainda a produção de coágulos, que, da mesma maneira, podem bloquear as coronárias.

No entanto, para se manter em pleno funcionamento, o músculo cardíaco necessita de uma demanda constante de sangue. A obstrução desses vasos sanguíneos, seja parcial ou total, tem como consequência o surgimento de fatores de risco ou doenças cardíacas, como a hipertensão, insuficiência cardíaca, aneurisma da aorta e o infarto do miocárdio.

Existe a possibilidade de que o mesmo processo ocorra em outras artérias do corpo. O resultado pode ser, por exemplo, a falta de sangue no cérebro e um consequente acidente vascular cerebral.

  • Impactos na vida sexual

É possível que o diabetes afete também o desempenho sexual. Para os homens, aumentam as chances de disfunção erétil, que pode ser causada por danos nervosos, juntamente com a ejaculação retardada e qualidade reduzida do esperma. Para as mulheres, as complicações incluem a vaginite e a cistite.

  • Gestação

Mesmo sem nunca ter apresentado qualquer problema ou tendência ao diabetes, é possível que a mulher veja suas taxas de açúcar subirem para além do normal durante a gravidez.

Isso porque o organismo da criança exige uma demanda alta de açúcar para garantir seu desenvolvimento. Por outro lado, o corpo da mãe responde com insulina, na tentativa de controlar o excesso da substância no organismo.

No entanto, na gravidez outros hormônios são liberados pela placenta e acabam atrapalhando esse controle.

Se não for devidamente monitorado e tratado, o diabetes gestacional pode trazer complicações à saúde da mãe e do bebê: ganho de peso excessivo (para ambos), aumento no líquido amniótico, malformações fetais e parto prematuro. Crescem ainda as chances de doenças que afetam o coração, entre elas a obesidade, hipertensão, eclâmpsia e diabetes (tipo 2) depois da gravidez ou do nascimento.

  • Danos aos rins

O diabetes é uma das principais causas da doença renal, responsável pelo aumento significativo no risco de insuficiência renal crônica.

O excesso de açúcar no sangue causa uma alteração nos vasos sanguíneos dos rins, o que pode sobrecarregá-los e prejudicar sua capacidade de filtragem do sangue, levando à perda de proteínas pela urina.

  • Problemas nos olhos

Alterações na visão são igualmente provocadas pela quantidade excessiva de açúcar circulante no sangue, havendo maior risco de: cataratas, glaucoma, edema macular (deposição e acúmulo de fluidos e proteínas na região central da retina, tornando-a mais espessa e inchada) e retinopatia diabética (lesão nos vasos sanguíneos da retina que pode causar cegueira).

Um mal que pode ser silencioso

O diabetes pode apresentar sinais, como: sensação de sede contínua, desidratação, vontade de urinar com mais frequência, perda de peso injustificável, cansaço, irritação, visão embaçada, feridas de cicatrização lenta, além de infecções sequenciais (tais como nas gengivas, pele e infecções vaginais).

Entretanto, é possível conviver com a doença por meses ou anos até que os sintomas se tornem evidentes ou que as alterações nos níveis de glicose sejam detectadas em exames de rotina.

O agravante é que muitos acreditam que sem sintomas o problema está sob controle ou nem exista. Acabam descuidando da alimentação, da prática atividades físicas e dos medicamentos.

A falha no início do tratamento, no entanto, pode ter consequências graves e irreversíveis, como vimos. Por isso, vale reforçar que estamos falando de uma doença crônica, ou seja, uma condição que tem longa duração ou não tem cura e precisa de atenção e monitoramento constantes.