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Paulo Chaccur

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Pessoas com problemas cardíacos podem fazer cirurgia plástica? Entenda

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

19/06/2022 04h00

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A busca pela perfeição, pela conquista da "forma física ideal" e por uma aparência mais jovem fazem com que cada vez mais pessoas recorram às cirurgias plásticas estéticas. Estamos entre os países com o maior número de realizações de procedimentos deste tipo no mundo —entre os mais comuns estão a lipoaspiração, abdominoplastias, cirurgias faciais e mamárias (aumento ou redução). Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica apontam que são mais de 1,5 milhão de interversões todos os anos.

Mas até que ponto vale a pena? Além de exercer influência sobre a autoestima, é possível que esses procedimentos tragam também riscos à saúde. Em muitas situações, a falta de cuidados e os exageros são desencadeadores de complicações sérias.

Creio que todo mundo já ficou sabendo, por exemplo, de algum caso de morte ou problema grave por causa de uma lipoaspiração. Histórias de parada cardíaca e reações adversas a anestésicos. E por que ocorrem?

Não podemos descartar os riscos

Primeiro, precisamos lembrar: a plástica, como qualquer outra cirurgia, envolve riscos e possíveis efeitos colaterais. Por mais que, na grande maioria dos casos, se trate de estética, eles vão de alguma forma —ou de muitas— mexer com o funcionamento do organismo, independentemente da especialidade em que a intervenção se realiza.

Os avanços aconteceram, isso é um fato, tornando os procedimentos cada vez mais seguros, mas ainda assim, estamos falando de uma cirurgia e, portanto, da necessidade de cuidados e atenção especiais.

Principais complicações

No caso da lipoaspiração, alguns dos riscos envolvem uma embolia gordurosa (oclusão de pequenos vasos por gotículas de gordura), seroma (excesso de líquido retido próximo à cicatriz, causando inflamação) e hematomas —consequências que podem igualmente se manifestar em outros procedimentos oferecidos atualmente.

Na lista de complicações frequentes entram também: problemas respiratórios, rejeição de implantes, distúrbios sensoriais e de pele, necrose de tecidos, assimetria, sangramento, dor e reações alérgicas, além de infecções —a possibilidade de que uma infecção ocorra é pequena, geralmente menos de 1%, porém ela existe e não pode ser ignorada.

No pós-operatório de uma cirurgia de grande porte, como uma abdominoplastia ou mamoplastia, existe ainda a chance de trombose, ou seja, a formação de coágulos, normalmente nas veias das pernas, e o risco de embolia pulmonar.

Isso porque se o coágulo migra para o pulmão e causa um bloqueio na circulação sanguínea, e pode provocar uma descompensação do funcionamento do coração, com diminuição do volume de sangue para o organismo e até o risco de morte.

Aqui podemos listar alguns fatores que aumentam as chances deste tipo de complicação: obesidade, histórico prévio de trombose e varizes de membros inferiores, condições crônicas graves ou fora de controle (tais como pressão alta ou diabetes), tabagismo, idade superior aos 40 anos, uso prolongado de anticoncepcionais orais, consumo de drogas, determinados medicamentos, muitas cirurgias associadas e até o tempo de realização —operações muito longas tendem a um aumento exponencial dos riscos.

Mas afinal, um paciente com problemas cardíacos pode ou não realizar uma plástica?

A resposta é complexa e de grande responsabilidade, que não deve ser resumida em um simples sim ou não. De modo geral, o coração é um órgão com baixa probabilidade de ser afetado por uma cirurgia plástica, desde que bem avaliado no pré-operatório. Como vimos, há uma série de questões a serem consideradas.

Os sistemas cardiovasculares daqueles que se submetem a anestesia geral e procedimentos cirúrgicos estão sujeitos a múltiplas tensões e complicações. O coração, como nossa bomba vital, é exigido num cenário como esse. Portanto, precisa estar em boas condições de saúde para dar conta de uma provável sobrecarga, mesmo que pequena.

Riscos

Assim, antes de qualquer tipo de intervenção, é fundamental que tanto médicos quanto pacientes tenham compreensão clara de quaisquer condições presentes que possam ser o estopim para o surgimento de uma complicação cardiovascular, como uma arritmia (frequência de batimentos anormal, irregular, muito acelerada ou lenta).

Problemas cardiológicos somados ao estresse metabólico e circulatório que qualquer cirurgia causa podem colocar a vida em risco. É possível ocorrer perda de sangue, liberação de substâncias na circulação, hipotermia, isquemia miocárdica e efeitos de drogas ou medicamentos administrados por conta do procedimento.

Uma doença no coração instável ou não tratada, por exemplo, sob os efeitos da anestesia pode desencadear uma arritmia e até mesmo causar um infarto —a maioria dos anestésicos são depressores respiratórios e cardíacos, o que significa que afetam o batimento normal do coração.

Isso mesmo em indivíduos saudáveis. Naqueles com uma questão cardíaca preexistente, esses possíveis efeitos anestésicos tornam-se muito mais preocupantes, uma vez que os pacientes podem não tolerar grandes oscilações de frequência e pressão.

Outra situação: um indivíduo com pressão alta pode se submeter a uma abdominoplastia —ou qualquer outro procedimento, desde que sua pressão esteja controlada. A hipertensão é uma doença crônica determinada por elevados níveis de pressão sanguínea nas artérias, o que exige que o coração tenha que exercer um esforço maior do que o normal para fazer circular o sangue através dos vasos. Desse modo, uma operação plástica em alguém com pressão descontrolada pode ser extremamente perigosa.

Antes de qualquer cirurgia...

É preciso ter conhecimento das precauções adicionais que devem ser tomadas. E nem sempre o paciente sabe disso no momento da decisão da plástica. Alguns só descobrem problemas quando o cirurgião solicita uma avaliação cardiológica antes do procedimento desejado.

Hoje, essas intervenções oferecem um alto grau de segurança. Mesmo assim, novamente, estamos falando de uma cirurgia, e como tal exige atenção nos cuidados pré, intra e pós-operatório. Ou seja, os pacientes precisam ser avaliados seguindo os mesmos padrões rigorosos adotados para outros procedimentos cirúrgicos.

Por isso, quanto mais completo o check-up, mais segurança. É aí que se tem noção das condições do coração para durante a operação reduzir intercorrências, como hipertensão, insuficiência cardíaca, arritmia ou a presença de diabetes, dislipidemia (colesterol alto), obesidade, entre outras.

Diferente de outras cirurgias emergenciais, normalmente a plástica pode ser esperada, planejada e até sua real necessidade revista —e aqui vale um parêntese: nem sempre a plástica é por vaidade, uma vez que também é usada para correções físicas importantes. Em casos assim, há, muitas vezes, urgência.

Por fim, é preciso ter em mente que no pós-operatório o organismo está se restabelecendo, com o sistema imunológico comprometido. Uma pequena reação pode virar uma grande infecção. Logo, o cuidado deve se manter até a total recuperação.

Fica evidente, portanto, a importância do profissional e local da cirurgia. É necessário atenção e critérios na hora de escolher a clínica e o médico que fará o procedimento.