Topo

Paulo Chaccur

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Seus hábitos podem influenciar a saúde cardiovascular de quem vive com você

iStock
Imagem: iStock

Colunista do UOL

09/05/2021 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Um estudo realizado na Harvard Medical School (EUA) e publicado no periódico Jama em outubro de 2020, revelou que casais e famílias que vivem juntos precisam estar sempre atentos à saúde do coração de todos.

Isso porque parceiros e pessoas que dividem o mesmo teto compartilham fatores de risco e hábitos que influenciam na saúde cardiovascular. Ou seja, apesar de se cuidar, você pode sofrer a interferência de um costume não tão benéfico ao coração de alguém que está presente no seu dia a dia.

E que fatores e hábitos são esses? Os cientistas consideraram na pesquisa sete pontos de risco para doenças cardíacas: tabagismo, atividade física regular, índice de massa corpórea, alimentação, níveis de açúcar no sangue, colesterol e pressão arterial.

Como destacam os próprios autores do estudo, isso não quer dizer que relacionamentos e a convivência são ruins para o coração —muito pelo contrário, elas podem ser benéficas. O importante aqui é entender como seus comportamentos e costumes influenciam na saúde de quem convive com você e o que pode ser feito, em conjunto, pensando no bem de todos aqueles que compartilham o mesmo espaço.

Por onde começar?

Ao falar no assunto, precisamos lembrar primeiro que não devemos nos restringir apenas a questão física. Há outros tipos de saúde que interferem no nosso organismo, bem-estar, qualidade de vida e no surgimento de doenças, inclusive aquelas que afetam o coração.

O físico, sem dúvidas, é peça-chave para estarmos bem, até para ter energia e disposição suficientes para as atividades diárias. Porém, mais do que a prática de exercícios, atenção aos sinais do corpo e uma alimentação saudável, aqui entram também questões como pausas para repouso e noites de sono adequadas.

Outro ponto importante está relacionado ao nosso estado emocional. A saúde mental tem a ver com o bem-estar psicológico ou a forma de como você se sente em relação a si mesmo, a qualidade das relações que mantém, a capacidade de entender seus sentimentos e o nível de estresse que está presente na sua rotina.

Podemos incluir ainda, segundo estudos relacionados à saúde coletiva, a saúde espiritual (algum tipo de prática espiritual ou relacionada a fé); saúde intelectual (estimular novas ideias, a criatividade e a imaginação); saúde financeira (sabe aquele temor sobre como você fará para pagar contas?); saúde profissional (trabalho e carreira) e saúde social (interação e relação com amigos, familiares e outros membros da comunidade).

Um grande desafio?

Parece muita coisa, não é mesmo? Se cuidar da nossa própria saúde já é um desafio enorme diante das demandas e correria da vida diária, nos preocupar com quem está ao nosso redor pode soar como um desgaste ainda maior. Porém, não precisa ser assim.

Dar atenção à saúde familiar e de pessoas próximas que vivem conosco pode ser mais fácil do que você imagina. Fazer pequenas mudanças no estilo de vida é capaz de nos levar a escolhas saudáveis que requerem pouca reflexão ou esforço. Vamos a algumas sugestões e pontos para pensar:

1. Todo mundo mexendo o corpo!

Modalidades diferentes de exercícios físicos, atividade física, fitness, academia - iStock - iStock
Imagem: iStock

Não, não é preciso inscrever a família toda na academia amanhã ou montar um time de corrida com os membros da casa. Que tal começar identificando tempo livre para atividades? Comece por você, principalmente se o sedentarismo anda rondando seu dia a dia. A prática de exercícios físicos regulares é fundamental para o bom funcionamento do sistema cardiovascular.

É possível criar uma rotina de práticas individuais ou em conjunto. Seja em aulas de dança, de ginástica ou práticas esportivas —que podem ser feitas inclusive online. Se você tem crianças em casa, brincadeiras podem ajudar todo mundo a manter o corpo em movimento. O importante é achar este espaço e usar a criatividade.

Parou para avaliar o tempo que passamos sentados na frente da TV e/ou computador? Limitar o tempo de tela (ou usá-lo para se mexer) pode ser uma ideia necessária. É possível, por exemplo, começar com 30 minutos, todos os dias. E aumentar o tempo conforme a disponibilidade e a vontade. Teste faixas de horários também.

Vale reforçar ainda que, ao manter atividades em grupo, é possível promover uma competição saudável, gerar comprometimento, aumentar a motivação (especialmente quando bate aquela preguiça), além de contribuir para a convivência, o tempo de qualidade e lazer com aqueles que estão ao seu redor.

E os benefícios não param por aí: se exercitar com outras pessoas está relacionado a baixos níveis de estresse e a melhora na qualidade de vida. Pontos importantes para a saúde mental, física e emocional.

2. O que entra no prato

Dieta balanceada/ Dieta mediterrânea/ Alimentação saudável/  - iStock - iStock
Imagem: iStock

O que fazer pela saúde do coração da sua família, parceiro ou das pessoas que dividem a casa com você quando pensamos nas refeições? Tente limitar a quantidade de fast-food, alimentos industrializados e processados.

Busque planejar, criar e comer juntos pratos saudáveis. Pense que aquilo que você consome pode interferir nos hábitos de quem está vivendo sob o mesmo teto. Afinal, não é fácil resistir ao cheiro de um hambúrguer com batatas fritas!

E isso não quer dizer cortar tudo, mas ponderar. Buscar uma dieta mais equilibrada para a rotina e deixar para dias especiais aquele cardápio com as delícias preferidas de cada um. Busque incluir no cotidiano o consumo de frutas, vegetais, fontes de proteína magra e carboidratos de grãos integrais.

Lembre-se: alimentos ricos em carboidratos e açúcares simples, gorduras saturadas e trans e sódio só nos fazem ganhar peso, aumentar o risco do desenvolvimento da hipertensão, colesterol e diabetes, além de estimular o processo de deposição de gorduras nas artérias do organismo, o que pode ser determinante para o aparecimento da doença arterial coronária, inclusive com risco de infarto e, em casos graves, até de morte.

3. Aqueles hábitos que devemos evitar...

AMP Quer parar de fumar? Veja 12 dicas para abandonar o vício Mão mulher segurando cigarro - Unsplash - Unsplash
Imagem: Unsplash

Tabaco e bebidas alcoólicas são dois exemplos. O fumo danifica os vasos sanguíneos e pode causar uma série de doenças cardíacas. O cigarro promove, entre outras consequências, aumento da pressão arterial, aceleração do ritmo dos batimentos, depósito de colesterol na parede das artérias, além de sua oxidação, o que favorece a formação de coágulos sanguíneos que dificultam a circulação e podem provocar um acidente vascular cerebral (AVC) ou infarto. Fumar é prejudicial à sua saúde e expõe aqueles que moram com você ao fumo passivo.

Já o álcool, quando ingerido rotineiramente e em grande quantidade, causa enfraquecimento das células musculares cardíacas e, como consequência, a miocardiopatia alcoólica. O hábito também pode estimular o fechamento das artérias, desencadear arritmias, aumentar os perigos de hipertensão arterial, obesidade e risco de uma insuficiência cardíaca (a falência estrutural e funcional do coração), infarto ou AVC.

No caso das bebidas alcoólicas, mesmo que socialmente, o ponto é a moderação. Embora o vinho e a cerveja sejam apontados em diversos estudos como aliados do coração, suas vantagens estão sempre atreladas a um conjunto de hábitos saudáveis.

4. Como está o clima da casa?

Saúde Mental_GovTech - wayhomestudio/Freepik - wayhomestudio/Freepik
Imagem: wayhomestudio/Freepik

Quando a mente e as emoções não andam bem, o corpo sofre as consequências! Em um ambiente baseado em relacionamentos abusivos ou problemáticos, falta de companheirismo, desrespeito, a chance de haver tristeza, angústia, desequilíbrio alimentar e insônia são grandes. Sintomas que contribuem para o desencadeamento dos eventos cardiovasculares.

Hoje já se tem conhecimento de que as emoções e sentimentos afetam também a saúde física, inclusive do coração. Num cenário em que o indivíduo passa incessantemente por momentos de raiva, traições, mentiras e estresse emocional, as consequências podem ser graves.

Para se ter ideia, quando sentimos raiva ou entramos num estado de irritação intensa, a chance de um ataque cardíaco aumenta em mais de oito vezes.

A raiva, assim como outros sentimentos negativos, está ligada à produção de hormônios do estresse, como cortisol e adrenalina, que são lançados na circulação e causam efeitos nocivos ao organismo.

Quando sentimentos assim se tornam constantes, a vasoconstrição (redução do calibre dos vasos sanguíneos) é estimulada e em consequência as artérias diminuem seu potencial de adaptação, gerando aumento da pressão arterial, elevação dos batimentos cardíacos e uma sobrecarga no coração. Quadro que pode desencadear o desenvolvimento de uma doença cardiovascular, um crise hipertensiva, arritmia ou até um infarto do miocárdio.

5. Saúde financeira e profissional

Quem está sem trabalho também pode ter como consequência os problemas cardíacos e afetar aqueles que vivem ao seu redor. O desemprego gera estresse, insegurança, ansiedade, desamparo e sensação de incompetência. Além disso, a ameaça de desequilíbrio financeiro pode levar o indivíduo à tristeza, e caso isso se agrave, a uma depressão.

Por outro lado, viver em uma situação de assédio moral constante no ambiente de trabalho é mais um dos fatores que eleva os riscos de problemas cardiovasculares, segundo pesquisas. Isso porque esse cenário aumenta os níveis de estresse crônico, de colesterol ruim (LDL), da proteína C reativa e da pressão sanguínea.

Se identifica com alguma das situações? Talvez seja importante avaliar e buscar ajuda. Como vimos acima, um ambiente em desequilíbrio pode afetar a saúde de todos que convivem sob o mesmo teto.

6. Vá com calma!

Família cozinhando - iStock - iStock
Imagem: iStock

Na sociedade de hoje espera-se que façamos tudo isso e mais um pouco! Além do que, sabemos que pais ou responsáveis diretos são a maior influência na vida dos pequenos. Se eles não estiverem fazendo escolhas saudáveis, as crianças também não vão querer fazer.

Porém, é preciso ser realista e adotar aquilo que cabe ao seu ambiente e família, de maneira que seja um estilo de vida sustentável e saudável para todos. De nada adianta promover mudanças que gerem estresse em casa. Vale reforçar que um ambiente em que há amor, respeito, companheirismo e consideração, há também mais bem-estar, qualidade de vida e saúde.

Por isso, procure priorizar as coisas que mais importam —ou que vocês identifiquem que são mais urgentes de serem melhoradas. Peça a todos da família ou da casa que façam a sua parte. O segredo é ir com calma. Tornar-se saudável é uma jornada. Você não precisa fazer tudo de uma vez!