Opinião

Estudo aponta impacto da covid-19 nos diagnósticos de câncer no EUA

O impacto do primeiro ano da pandemia em pacientes com câncer, nos Estados Unidos, foi avaliado em um trabalho publicado recentemente pela revista Lancet Oncology. Os pesquisadores utilizaram informações do Banco de Dados de Câncer americano e compararam os casos registrados de janeiro a dezembro de 2020 com os diagnósticos de 2019.

  • Foram mais de 2,4 milhões de pacientes oncológicos analisados (neste recorte, para comparação, incluindo os danos de 2018, 2019 e 2020), com idade média de 63 anos, 53,5% mulheres.
  • Cerca de 75% eram indivíduos brancos.

As análises mostraram que a quantidade de diagnósticos de câncer em 2020 foi expressivamente menor do que no ano de 2019. Essa diminuição ocorreu, principalmente, em estadiamentos precoces (fase inicial da doença).

O que significa que os diagnósticos foram feitos em estágios mais avançados da doença. E essas diferenças foram mais acentuadas para as pessoas de menor poder aquisitivo.

Os pesquisadores enfatizaram que o número mensal de novos diagnósticos de câncer, considerando aqui todos os estágios, diminuiu logo após o início da pandemia em março de 2020. As contagens mensais retornaram a níveis próximos à pré-pandemia no fim do ano.

O texto aponta, ainda, que a covid-19 "interrompeu os cuidados de saúde, com consequências para os diagnósticos e desfechos do câncer, principalmente para os diagnósticos em estágio inicial, que geralmente apresentam prognósticos favoráveis". E reforça que a análise levou em consideração os tipos de câncer e principais fatores sociodemográficos nos EUA.

Isso levou ao "subdiagnóstico substancial de câncer e reduções na proporção de diagnósticos em estágio inicial".

Os responsáveis pelo estudo ressaltam a necessidade de monitoramento dos efeitos de longo prazo da pandemia na morbidade, sobrevivência e mortalidade dos pacientes com câncer.

Aqui no Brasil, um estudo do Observatório de Oncologia, com base nos dados abertos do Ministério da Saúde, já mostrou os impactos da pandemia sobre os procedimentos com finalidade diagnóstica.

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  • Em 2020, a queda foi de 22%.
  • No ano seguinte, o número continuou inferior comparado com o ano de 2019 (pré-pandemia) e registrou baixa de 9%.

Ainda em 2020, as mortes por "algumas doenças infecciosas e parasitárias" se tornaram a segunda principal causa de óbitos no país, atrás das doenças cardiovasculares.

No entanto, o câncer já é primeira causa de morte em mais de 10% dos municípios brasileiros. E deve ocupar o topo da lista antes do fim desta década.

Esta é uma causa urgente no Brasil e no mundo e precisa de uma ação conjunta da sociedade e das autoridades para mudar estas previsões, com informação, prevenção e colaboração para soluções que possam estimular o diagnóstico precoce e o acesso mais equânime aos tratamentos disponíveis em nosso país.

*Fernando Maluf é diretor associado do Centro Oncológico da BP - Beneficência Portuguesa de São Paulo, membro do Comitê Gestor do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein e fundador do Instituto Vencer o Câncer. É formado em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, onde hoje é livre-docente.

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Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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