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Mariana Varella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que tomar a vacina bivalente contra a covid?

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

01/03/2023 04h02

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"Falar de covid virou ultrapassado, démodé", escutei de um amigo há uns dias. Compreendo o cansaço. Depois de três anos de uma pandemia que gerou um trauma coletivo no mundo, ninguém aguenta mais ouvir falar do assunto.

No entanto, entre os poucos alarmistas que ainda não entenderam que não será possível eliminar o vírus da sociedade e aqueles que acham que a pandemia acabou, há os que entendem de saúde pública e alertam para a necessidade de aprendermos a conviver com o vírus.

Isso significa que, para reduzirmos os riscos individuais e coletivos, precisamos tomar algumas medidas. A principal delas é, sem dúvida, manter a vacinação em dia. É graças às vacinas que hoje a covid não faz o estrago que fazia há dois anos.

As variantes do Sars-CoV-2 mataram, de 2020 para cá, quase 7 milhões de pessoas no mundo (a OMS estima que esse número possa chegar a 15 milhões, considerando os casos não registrados oficialmente). Quando a gente se acostumava com o nome de uma variante, em poucos meses outra se tornava dominante. Foi assim com a alfa, a beta, a gama, a delta, até o surgimento da ômicron e suas subvariantes, que desde o fim de 2021 e o começo de 2022 tornaram-se predominantes no mundo todo.

Graças a esse fator e ao fato de que a imunidade gerada pela vacina cai com o tempo, os cientistas entenderam ser recomendável e possível atualizar as vacinas criadas antes do surgimento da ômicron.

Assim, foi elaborada uma vacina com o RNA mensageiro da cepa original do Sars-CoV-2 e das subvariantes da ômicron, chamada de bivalente, que já vem sendo aplicada em países da União Europeia, Canadá, Estados Unidos, entre outros, desde o ano passado. A Anvisa autorizou o uso emergencial da bivalente da Pfizer para aplicação como dose de reforço em indivíduos acima dos 12 anos no fim de 2022.

Importante salientar que as vacinas anteriores, chamadas de monovalentes, feitas com a cepa original do vírus, embora protejam menos contra a ômicron, ainda ajudam a reduzir o risco de morte e de desenvolver doença grave (por isso, inclusive, continuam sendo indicadas para o esquema vacinal primário de duas doses).

Reforços da vacina contra a covid-19 serão necessários, pois a imunidade contra a doença diminui depois de alguns meses, assim como ocorre com a gripe. Portanto, é importante que as pessoas se conscientizem da necessidade da vacinação contra a infecção, e que o governo organize campanhas de vacinação bem comunicadas.

A atual gestão do Ministério da Saúde colocou como prioridade aumentar a cobertura vacinal de todas as vacinas oferecidas pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), incluindo a contra a covid, e para isso lançou a campanha de vacinação na última segunda-feira (27/2), já com a vacina bivalente da Pfizer.

No entanto, é importante lembrar que quem não completou o esquema vacinal primário com duas doses da vacina monovalente deve fazê-lo antes de tomar a vacina bivalente.

Quem tomou duas, três ou quatro doses de qualquer imunizante contra a covid pode tomar a vacina bivalente, desde que espere 4 meses depois da última dose.

Embora cada município tenha autonomia para organizar campanhas de vacinação próprias, o MS orientou que se comece com as pessoas com mais de 70 anos, indivíduos acima de 12 anos que vivam ou trabalhem em instituições de longa permanência, pessoas com imunossupressão e de comunidades indígenas, ribeirinhas e quilombolas. As capitais têm seguido a orientação, com uma ou outra alteração (algumas já incluíram pessoas entre os 60 e 70 anos, por exemplo).

Os critérios para estabelecer grupos prioritários muitas vezes geram discussão entre especialistas, pois alguns defendem que sejam priorizados os que têm mais risco de desenvolver quadros graves da doença, enquanto outros recomendam que seja considerado o critério de vulnerabilidade, vacinando primeiro quem tem mais probabilidade de se expor ao vírus e menos condições de acesso a serviços de saúde.

No começo da pandemia, especialistas divergiam quanto à seguinte questão: quem deveria se vacinar primeiro, um aposentado de 80 anos com um ótimo plano de saúde e que mora com a esposa em um apartamento confortável, onde pôde se isolar em segurança durante os meses mais intensos da pandemia, ou um motorista de ônibus de 55 anos que cuida da mãe idosa, mas não teve escolha e precisou sair para trabalhar?

É uma discussão importante, sem dúvida, e há bons argumentos dos dois lados. Desde o início da pandemia, contudo, o Brasil tem levado em conta o critério de risco aumentado de desenvolver quadros graves para estabelecer os grupos prioritários. Assim, a vacinação começou pelos idosos, e mesmo os mais velhos que não estavam tão expostos ao vírus puderam se vacinar com prioridade.

O importante para de fato deixarmos a pandemia para trás é que aprendamos a conviver com o vírus. Para isso, todos devem tomar as doses recomendadas assim que elas se tornarem disponíveis.