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Mariana Varella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que quase não falamos de climatério e menopausa?

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Imagem: iStock

Colunista do VivaBem

09/03/2022 04h00

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Saúde da mulher nunca foi tema tratado com o cuidado e a atenção que merece. Nas últimas décadas, felizmente, o cenário tem mudado, e assuntos como menstruação, gravidez, parto e puerpério, infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), anticoncepção e sexualidade são cada vez mais abordados (nem sempre da maneira adequada, é verdade).

Há um assunto, entretanto, ainda pouco discutido pela mídia e profissionais de saúde: a menopausa. Mulheres conseguiram trazer à luz temas considerados tabus e que com frequência eram empurrados para debaixo do tapete, mas quase todos se referem às mais jovens. Pouco se fala nos temas associados à maturidade sem cair nos lugares-comuns e preconceitos.

Apesar de a expectativa de vida ter aumentado cerca de 15 anos nas últimas quatro décadas, ainda relutamos em aceitar que mulheres com mais de 50 anos ou 70 anos podem e devem levar uma vida ativa e saudável, que não as restrinja aos cuidados com os netos.

Isso, todavia, só será possível se falarmos abertamente sobre envelhecimento longe dos estereótipos, o que inclui abordar a menopausa com a devida seriedade.

Algumas mulheres com condições financeiras para lotar as clínicas de estética e os centros cirúrgicos, muitas vezes não ousam discutir abertamente as dificuldades enfrentadas no climatério e na menopausa. É o preço de vivermos em uma sociedade que cobra a juventude eterna e ignora que mulheres não têm prazo de validade, muito menos determinado pela fertilidade ou por uma pele sem rugas.

Aquelas que não podem mais ser chamadas de jovens, mas que tampouco se encaixam no estereótipo que se criou a respeito das mulheres mais velhas, precisam enfrentar questões de saúde difíceis, que poderiam ser amenizadas se tratadas com atenção e, sobretudo, sem preconceito.

Menopausa não é doença nem deve ser encarada como tal. Contudo, isso não significa ignorar que inúmeras mulheres têm sintomas muito desagradáveis, em especial na fase de climatério (também chamado de pré-menopausa), que pode ocorrer anos antes da última menstruação. Ondas de calor (fogachos), sudorese, perda da libido, cansaço excessivo, secura vaginal, dor na relação sexual (dispareunia), aumento do peso corpóreo, acúmulo de gordura na região abdominal, irritabilidade, distúrbios do sono e depressão são alguns dos sintomas mais comuns nos anos que antecedem a menopausa.

Para tratá-los, é possível utilizar a terapia de reposição hormonal com estrogênio ou com estrogênio e progesterona. No entanto, há algumas contraindicações, como ter histórico de câncer de mama, AVC, infarto, trombose, entre outras doenças. Além disso, nem todas as mulheres se adaptam à reposição ou desejam fazê-la.

Nesses casos, há outras opções para ajudar a diminuir os sintomas físicos, como cremes vaginais contendo hormônios e hidratantes vaginais. O mais importante é entender que cada mulher apresenta sintomas de intensidade diferente, que podem afetar mais ou menos sua vida, e por isso precisam ser tratados de forma individualizada.

Além disso, a menopausa não pode ser entendida apenas como um fenômeno biológico, mas também psicossociocultural. Isso significa dizer que, por simbolizar o envelhecimento, fase em geral pouco valorizada nas culturas ocidentais, a menopausa também pode causar problemas que não pertencem apenas à esfera biológica, mas nem por isso devem ser desconsiderados.

Exatamente por ser um evento complexo, a menopausa deve ser encarada de forma multidisciplinar, que vá além do tratamento farmacológico e leve em conta aspectos sociais, culturais, psicológicos e econômicos.

O sistema único de saúde vem abrindo cada vez mais serviços de atenção à saúde da mulher no climatério e na menopausa. As mulheres são as principais usuárias do SUS, e dadas as condições socioeconômicas e culturais do Brasil, muitas chegam ao climatério com doenças pré-existentes, como diabetes e hipertensão, que podem dificultar a abordagem dessas pacientes.

A rede privada de saúde, embora ainda se concentre muito na oferta de tratamentos estéticos, mais rentáveis, já conta com profissionais especializados no atendimento multidisciplinar dessas mulheres.

Seria muito importante, também, ver mais espaços disponíveis na mídia para tratar questões pertinentes às mulheres mais velhas. E que os jovens não esqueçam que aqueles e aquelas que vieram antes deles ainda têm muito a oferecer à sociedade.