Lúcia Helena

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Reportagem

As medidas do bumbum ideal e o que a ciência sugere para o seu chegar lá

Vou colocar um asterisco bem ali, para não correr o risco de, nestes tempos por vezes maldosamente corretos, acharem que me atrevi a publicar uma má palavra. Mas quem a escreveu em poesia foi o mineiro Carlos Drummond de Andrade, em "B*nda, que engraçada". Os versos dizem: "Não importa o que vai pela frente do corpo. A b*nda basta-se. Existe algo mais? Talvez os seios. Ora — murmura a b*nda — esses garotos ainda lhes falta muito o que estudar."

Aí que se enganaria o autor nos dias de hoje, quando uns iriam preferir que ele se referisse, sem graça, a "nádegas". Os "garotos" finalmente a estudaram — e como!

No início deste mês, em Paris, durante o IMCAS World Congress 2024 — considerada a maior conferência de cirurgia plástica, dermatologia e procedimentos médicos estéticos do mundo —, um outro mineiro, o cirurgião plástico Luddi Luiz de Oliveira, nascido em Teófilo Otoni, a 343 quilômetros da Itabira de seu conterrâneo poeta, mostrou à audiência como seria, segundo uma extensa revisão da literatura científica, o bumbum ideal. Existem critérios para saber se o seu está, ou não, quase lá.

Forma: um coração de cabeça para baixo

É o critério mais subjetivo, vai do gosto de cada um. Mas há favoritismos. Em uma pesquisa encomendada pelo laboratório Galderma, foram mostradas a mais de mil pessoas imagens de bumbuns de quatro formatos para que escolhessem o mais bonito.

Nas mulheres, o que ganhou disparado foi o do coração invertido. "Nele, a base é mais larga e arredondada, enquanto o ápice, isto é, a parte superior, é mais estreita", descreve Luddi de Oliveira. Há, ainda, o bumbum redondo, o que lembra um quadrado e aquele em "V", que é o oposto do coração invertido, sendo largo em cima e estreito embaixo.

"Já o bumbum mais admirado no homem é longitudinal, reto de cima a baixo, praticamente retangular", conta o médico.

Volume: um outro ponto "G"

A letra, no caso, vem de glúteo. "Você examina a pessoa em pé, de lado. O 'G' seria aquele ponto máximo de projeção do bumbum", ensina o doutor. A partir dele, então, é como fosse traçada uma linha para se observar a quantidade de tecido. "Tanto em homens quanto em mulheres, o ideal seria metade do volume estar acima desse traço e metade, abaixo", diz o cirurgião plástico.

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Em quem tem mais tecido na metade superior, a impressão é de que as nádegas afundam. "O mais comum, porém, é o contrário, por conta do processo de envelhecimento que faz o tecido cair, concentrando-se na metade inferior."

Projeção: para ver se está empinado

Com a pessoa ainda de lado, os médicos conferem medidas considerando três pontos: além do "G", o "T"e o "P". O segundo é o do trocânter, região logo acima da cabeça do fêmur, o osso da coxa. Já o "P" fica no início do monte pubiano ou monte de Vênus.

"Pensando em um bumbum que não seja projetado em exagero, nem achatado, a distância entre o ponto 'T' e o 'G' deve ser o dobro daquela entre o ponto 'T' e o 'P'", explica Luddi de Oliveira.

Qualidade da pele: lisinha

"A pessoa pode ter um bumbum com o volume ótimo e bem projetado, mas apresentar estrias ou celulite", nota, ainda, o médico, que sugere pedir às mulheres para contraírem os glúteos durante a avaliação. Sim, porque a celulite é mais frequente nelas. "Às vezes, só quando puxam o bumbum para dentro é que o problema se torna visível", justifica.

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Flacidez: quando vive sacudindo

Um bumbum pode até ser razoavelmente volumoso e ter uma boa projeção. No entanto, se é flácido, cai e "samba" — não no Carnaval, mas a cada passo, sacolejando o tempo inteiro.

Contorno: critério diferente para elas e para eles

A revisão da literatura aponta: o ideal é que a nádega feminina seja arredondada na lateral. Mas, até por causa da idade, pode surgir uma depressão bem ali, que os médicos chamam pelo nome em inglês, "deep hip", algo como quadril fundo. "Essa característica também é capaz aparecer nas mulheres muito musculosas", explica o cirurgião plástico.

Por essa região afundada não deixar o contorno de parecer redondinho, ela se torna esteticamente bem-vinda nos homens. "Neles, o achatamento lateral é desejável", diz o doutor.

Por que olhar para tudo isso?

"Não existe tratamento com ótimo resultado sem um bom diagnóstico. Isso vale para tudo em Medicina e não é diferente quando é uma questão estética", responde o doutor Luddi de Oliveira.

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A ideia é que os médicos chequem os parâmetros do bumbum ideal, um por um, dando uma classificação de zero — quando determinada característica é excelente — a 3, quando é um ponto, digamos, fraco. "Devemos focar o tratamento no aspecto que recebe a pior nota para oferecer o maior benefício", explica.

A avaliação também é fundamental para alinhar expectativas. "Nem sempre é possível deixar mulher com um bumbum em forma de coração invertido", esclarece o doutor. "Talvez as nádegas possam se aproximar disso se são quadradas, mas eu não consigo prometer o mesmo se o formato é em 'V'", afirma. Por sorte, a maioria das mulheres brasileiras já tem o bumbum redondo ou em coração.

Alternativas de tratamento

No Brasil, uma em cada dez cirurgias plásticas é para aumentar o bumbum. Operar pode ser uma opção para quem deseja grandes volumes que, cá entre nós, talvez até ultrapassem os parâmetros ideais. Mas, claro, cada um que sabe do seu.

"A prótese de glúteo, feita de silicone, costuma ser de 500 a 800 mililitros", conta Luddi de Oliveira. "Só que, apesar de o bumbum crescer um bocado por conta do implante no meio do músculo, não há mudanças nos outros critérios." Mais: a força da gravidade seguirá impiedosa, correndo o risco de o resultado, com o tempo, ficar meio caído.

"Há também a possibilidade de o cirurgião realizar uma lipoenxertia, se a paciente tem muita gordura para retirar de outra área do corpo e enxertar no bumbum. Aí, geralmente se coloca 1/2 litro de gordura em cada nádega", conta o cirurgião. A aparência da pele também poderá melhorar.

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A tendência, porém, é a realização de procedimentos ainda menos invasivos. O preenchimento é um deles. "Mas jamais considere aquele feito com PMMA, substância plástica condenada por sociedades médicas", alerta veementemente Luddi de Oliveira. O risco de reações capazes de causar deformações e necroses é elevado. O preenchimento seguro é realizado com ácido hialurônico. Ele aumenta o volume e a projeção do bumbum — e só.

"Na realidade, o único tratamento que consegue melhorar todos os seis critérios de um bumbum ideal é o com ácido poli-L-láctico SCA", assegura o médico. Não é uma constatação pessoal — isso aparece em 125 estudos indexados no PubMed, a plataforma de busca de trabalhos científicos da National Library of Medicine, nos Estados Unidos.

A substância, mais conhecida pelo nome Sculptra, não é novidade. Foi desenvolvida há 25 anos pela mesma Galderma que está por trás da revisão de critérios anatômicos em que se baseia a escala de diagnóstico apresentada pelo médico mineiro em Paris.

Como age o PLLA-SCA

O pó branco no frasco — que o médico mistura à água estéril e a um anestésico, minutos antes de dar a injeção no bumbum — é o tal ácido poli-L-láctico SCA. Diferentemente do ácido hialurônico, nosso organismo é incapaz de produzi-lo, o que provoca um estranhamento do sistema imunológico.

Logo chegam os macrófagos para englobar e digerir suas partículas, como sempre fazem diante de algo esquisito. Mas a tentativa é frustrada. "A partículas medem de 48 a 50 mícra e os macrófagos não dão conta de envolvê-las", revela o doutor.

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Eles, porém, não desistem. Acabam se fundindo em uma célula gigante — ou célula de Langhans —, liberando moléculas que irão atrair os fibroblastos, os produtores de colágeno. Luddi de Oliveira brinca: "Claro que as defesas não fazem isso para deixar o bumbum mais bonito. É como se quisessem reforçar o tecido para ele suportar a substância estranha, que poderia lhe causar algum mal."

As partículas de PLLA-SCA acabam, sim, sendo degradadas, mas de maneira lenta. O processo leva umas três semanas. Enquanto isso, os fibroblastos vão sendo deslocados para a região e o bom é que eles ficam por lá depois. Três meses após o início do tratamento — feito em três sessões com intervalo de 30 dias entre elas —, a produção de colágeno alcança o auge, o que se percebe no espelho.

"No local, há também uma retração do tecido. Por isso, sempre injetamos parte do produto na área superior de cada nádega", conta o médico. Ora, ao se retrair, ela puxa o bumbum para cima. O restante será injetado em pontos específicos, conforme aquele diagnóstico baseado nos seis critérios.

Se o maior problema for falta de projeção, o cirurgião aplicará mais PLLA-SCA bem no meio de cada nádega, por exemplo. Já se for celulite, distribuirá as picadas por toda a região. O frasco, porém, custa acima de 3 mil reais, sendo necessário, no mínimo, um em cada lado por sessão. É o que faz muito bumbum esperar por essa chance sentado.

Observação: esta colunista viajou para cobrir o IMCAS 2024 a convite de Galderma.

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