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Gustavo Cabral

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Varíola dos macacos: homofobia é burrice e dificulta combate da doença

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

15/08/2022 04h00

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A forma como muita gente está tratando a varíola dos macacos, associando a doença à orientação sexual das pessoas, é uma piada de mau gosto. Na verdade, desculpem a palavra, uma tremenda burrice, pois mostra a incapacidade de compreender o básico sobre transmissão de doenças infecciosas —mesmo depois de dois anos e meio de pandemia de covid e dos erros absurdos cometidos no passado, com a taxação de que o HIV era um vírus de homossexuais.

Recentemente, o presidente Jair Bolsonaro participou de um podcast e se comportou como alguém que vive no jardim de infância, insinuando que a pessoa que tomar a vacina contra o monkeypox é gay. Esse tipo de postura pode incentivar outras ações homofóbicas e não merece ser tratada apenas como "preconceito inocente", uma "brincadeira machista".

Como o preconceito afeta o combate à doença

Uma boa estratégia para controlar a disseminação de vírus começa com seu correto monitoramento. Mas, com esse preconceito esdrúxulo, muita gente pode se sentir envergonhada e inibida para procurar um médico e informar às autoridades de saúde sobre possíveis sintomas da doença.

A consequência é que a pessoa não receberá devidamente o diagnóstico, a orientação e o tratamento do problema. Consequentemente, ela vai espalhar o vírus para diversas outras pessoas, sem saber que está fazendo isso —além de sofrer com infecção, pois não terá a ajuda necessária.

Volto a repetir: o monitoramento é a base para que ações contra a disseminação da doença sejam tomadas de forma efetiva. É com base nos dados obtidos no monitoramento que todo o trabalho científico será feito, desde a vacinação aos grupos de maior risco até o diagnóstico e tratamento.

Infelizmente, esse erro de associar uma virose a determinada orientação sexual não é novo, pois temos o exemplo da Aids nas décadas de 1980 e 1990, que foi chamada de doença de homossexuais. Essa desinformação levou muitos a acreditarem que não seriam infectadas, por serem heterossexuais. Bom, muita gente se lascou ao pensar assim, pois não tomou as devidas precauções durante relações sexuais e se infectou.

Ah, mas alguém pode dizer que os primeiros infectados (com o HIV e agora com o monkeypox) são majoritariamente homossexuais. Para essas pessoas, alerto que os dados atuais não dizem nada sobre os próximos grupos que serão afetados. Qualquer um pode pegar a doença e o olhar científico deve sempre focar nas formas de transmissão, nunca na orientação sexual.

No caso da varíola dos macacos, a transmissão ocorre no contato com lesões na pele, fluidos corporais, gotículas respiratórias e materiais contaminados. Ou seja, são situações em que (repito) qualquer pessoa pode ter contato com o vírus, não apenas quem é homo ou bissexual.

Vamos parar de preconceitos esdrúxulos, que só mostram o quanto podemos ser burros e maus. Precisamos estimular nosso lado humanitário, com um olhar fraternal. Ao ser homofóbica, a pessoa está contribuindo para a morte de muitas pessoas que são assassinadas todos os dias por causa de sua orientação sexual.

Não pense que os assassinos são apenas aqueles que matam. Ao ter ações homofóbicas, a pessoa está incentivando e apoiando o crime e também é responsável pelos assassinatos.

Por fim, afirmo veementemente que, quando alguém diz que a varíola dos macacos é uma doença de homossexuais, está sendo idiota, homofóbico e atrapalhando o combate da doença.