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Gustavo Cabral

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

É irresponsabilidade dizer que a pandemia será endêmica em semanas ou meses

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Imagem: iStock

Colunista do VivaBem

25/02/2022 13h10

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Após quase dois anos de uma das piores pandemias da história, que já matou quase 650 mil pessoas no Brasil e quase 6 milhões no mundo, diversos países ainda cometem o erro de flexibilizar cuidados sanitários (como o distanciamento social e o uso de máscara) antes do tempo, o que logo depois tem como consequência um novo pico de infecções e mortes.

Veja o exemplo do Brasil. Ainda estamos registrando quase mil mortes por dia, mas várias cidades, como São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Salvador liberaram festas particulares de Carnaval, com ingressos que chegam a R$ 700. Além disso, segundo reportagem da Folha de S.Paulo, o governador de São Paulo deve anunciar a flexibilização do uso de máscaras após a folia e vemos vários "especialistas" do nosso país e do mundo dizendo que, nas próximas semanas ou meses, a pandemia vai acabar e a covid-19 se tornará uma endemia —doença com atuação local, que tem um número de casos esperados e prevalência estável.

É muita irresponsabilidade dizer isso em um período de festa, em que as pessoas costumam se aglomerar. A informação é uma desorientação e pode fazer com que a população relaxe ainda mais nos cuidados para se proteger da covid-19.

Isso é revoltante, pois ainda temos uma média móvel de aproximadamente 800 mortes por dia e a taxa vacinal da dose reforço muito baixa, com menos de 40% —sendo que, como já falei, agora as três doses é que devem ser consideradas como imunização completa. Sem falar que ainda temos as crianças de 0 a 4 anos desprotegidas e boa parte das crianças acima de 5 anos sem as duas doses.

Temos que ter em mente que uma hora essa pandemia vai acabar, mas não será da noite para o dia e ainda é muito difícil determinar o momento em que isso vai acontecer. Não podemos viver de suposições e baixar a guarda. Já passamos por isso no final do ano, quando o número de mortes caiu, nos descuidamos e rolou um clima de liberação geral. Então, surgiu a variante ômicron e a situação piorou novamente.

Em 2022 ainda teremos de lidar com outro problema: as eleições. Muitos políticos que "acreditavam e defendiam" a ciência vão passar a discutir e defender flexibilizações, para agradar parte da população —enquanto outra parte está nos hospitais.

A situação lá fora é diferente?

Países europeus, como França, Dinamarca e Reino Unido, anunciaram recentemente que a covid-19 será tratada como endemia. Então, porque não podemos fazer o mesmo?

Bom, cabe a cada um responder por suas decisões. Mas os Estados Unidos, por exemplo, flexibilizaram os cuidados no meio do ano passado e vimos o que aconteceu: voltaram a ter mais de 2.000 mortes por dia.

Além disso, vale ressaltar que o Brasil age de forma bizarra e interesseira. Quando outros países fazem algo que desejamos, queremos copiar. Porém, não queremos em copiar o lockdown, o passaporte vacinal, a vacinação em massa e rápida de crianças etc.

Em breve haverá o fórum de governadores para discutir a possibilidade de abrirmos mão das máscara e voltarmos a ter uma vida normal. Mas por que não aceitar que o "novo normal", por enquanto, é com máscara no rosto, vacina no braço e evitando aglomerações? O problema de tocar a vida sem isso é que a morte pode bater na porta de mais e mais pessoas.

Outro ponto triste é perceber que, em ano político, torna-se uma estratégia a busca de cargos, dessa forma, as ações passam a ser mais flexíveis do ponto de vista técnico. No entanto, devemos buscar uma posição em que a gente consiga viver de forma leve e sem o medo contínuo da morte, pois é isso que a pandemia gera. Sem falar nos diversos outros problemas, como o aumento do desemprego, da fome, a destruição do futuro de milhões devido à precariedade da educação etc.

Para controlar uma pandemia, mesmo depois de dois anos de luta, não basta ficar com papinho para agradar político ou parte da população, precisamos de ações técnicas e decisões conforme os resultados obtidos.

Como sabemos que não dá para contar com o bom senso de muitos políticos, pessoal, peço que cada um de vocês tenha responsabilidade: esperem para flexibilizar apenas quando chegarmos a vários dias sem nenhuma morte provocada pela covid-19 e a taxa de contágio estiver muito baixa.

Só quando isso acontecer poderemos dizer que a pandemia se tornará uma endemia, sem afetar nossas vidas de maneira calamitosa. Por agora, busquem a vacinação de reforço, vacinem as crianças, continuem com a máscara no rosto e evitem aglomerar com pessoas que você não conhece e que não sabe se estão tomando os devidos cuidados.