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Fernanda Victor

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Entenda o que são disruptores endócrinos e como podem afetar a saúde

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

03/02/2022 04h00

Disruptores ou desreguladores endócrinos são definidos como qualquer substância química exógena (não natural), ou mistura de substâncias químicas, que interferem na ação dos hormônios. Esses contaminantes ambientais podem imitar os nossos hormônios naturais e causar desequilíbrios no corpo.

Apesar de ainda serem desconhecidos por muitos, estamos diariamente expostos aos disruptores endócrinos. A exposição prolongada a tais substâncias pode causar mudanças biológicas e contribuir para o surgimento de diversas doenças.

Atualmente, os disruptores endócrinos representam um problema global e onipresente. Estima-se que cerca de mil substâncias químicas já foram identificadas com potencial de interferir na ação dos hormônios. Além disso, em todos os indivíduos testados, os resultados demonstraram consistentemente a presença, em quantidade variável, dessas substâncias no corpo.

Esses produtos químicos podem ser identificados em casa, no escritório, nos alimentos que ingerimos e até mesmo no ar que respiramos. Alguns exemplos comuns de disruptores endócrinos incluem pesticidas (DDT), metais pesados (chumbo, alumínio), parabenos, bisfenol A (BPA) e ftalatos.

Eles são frequentemente encontrados em produtos infantis e de higiene pessoal, objetos de plástico, papel térmico de recibos, recipientes para alimentos, materiais eletrônicos e de construção, antibacterianos etc.

A exposição crônica e cumulativa tem sido associada ao aumento do risco de cânceres (mama, próstata), puberdade precoce, obesidade, diabetes tipo 2, infertilidade, endometriose, doenças na tireoide, doenças neurodegenerativas, distúrbios neurocomportamentais (autismo, transtornos de déficit de atenção e hiperatividade), dentre outros impactos negativos na saúde.

Há boas razões para a suspeita de que a crescente produção e utilização desses produtos químicos esteja relacionada à crescente incidência de doenças endócrinas nas últimas duas décadas. No entanto, ainda não está claro se as exposições químicas causam toxicidade em humanos, com exceção das contaminações químicas maciças, e se há algum nível seguro ou aceitável de exposição para cada indivíduo.

Estamos expostos a substâncias químicas por toda a parte e precisamos estar atentos à qualidade do que consumimos. Mas não há motivos para pânico e nem necessidade de sair jogando tudo fora!

Mudanças simples e algumas trocas conscientes já são capazes de minimizar nossa exposição a essas toxinas:

  • priorizar comida de verdade e evitar alimentos (ultra)processados (enlatados, fast food, entre outros);
  • dar preferência a alimentos orgânicos (livre de agrotóxicos);
  • evitar recipientes de plástico e substituí-los por utensílios de vidro, aço inoxidável ou porcelana;
  • evitar dedetizações desnecessárias;
  • evitar pegar em vias de cartão de crédito e notas fiscais impressas em papel térmico;
  • buscar produtos de higiene pessoal sem parabenos.

Enquanto aguardamos mais estudos nessa área para entender melhor o real efeito nocivo dessas substâncias no nosso corpo, é fundamental buscarmos reduzir os riscos de exposições e investir em um consumo mais limpo e saudável. Então, sempre que possível, opte por opções mais naturais e livres dessas substâncias.

Referências:

1. Introdução aos Disruptores Endócrinos (DEs) - Um Guia para Governos e Organizações de interesse público. Iniciativa conjunta da Endocrino Society - IPEN. 2019.

2. Mustieles V, Arrebola JP. How polluted is your fat? What the study of adipose tissue can contribute to environmental epidemiology. J Epid Com Health. 2020;74(5):401-407.