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Menopausa, rugas, cabelos brancos: como Rita Lee nos inspira a envelhecer

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Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista de VivaBem

12/05/2023 04h00

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Se você, como eu, foi uma jovem rebelde crescendo nos anos 70 e 80, certamente teve Rita Lee como uma grande inspiração. Ela era a jovem que eu queria ser: livre, debochada, que se jogava a 100 por hora em tudo que quisesse experimentar, do sexo ao rock'n'roll (sim, passando pelas drogas também). Nos ensinou que estava tudo bem ser a ovelha negra da família. Sempre foi a vanguarda, brigando para dar às meninas os mesmos direitos que os meninos. Rasgando sempre o livro das regras de como deveríamos nos comportar.

E Rita não deixou de ser rebelde e abrir caminhos para gente também ao envelhecer. Passou a encarar essa fase da vida como sempre fez. De maneira escancarada, vivendo e dizendo tudo que há para dizer. À sua moda, combateu o etarismo muito antes desse assunto virar pauta. Vejam um exemplo disso, no vídeo abaixo, aos 45 anos, em 1992 quando absolutamente ninguém falava sobre menopausa, Rita conta numa entrevista à Bruna Lombardi que estava estudando o assunto.

É claro que não existem regras para envelhecer, cada uma descobre sua maneira ao longo da jornada. Mas, certamente, vou levar para sempre essas falas da minha musa eterna sobre como encarar essa fase da maneira mais livre possível. Obrigada por tanto, Rita.

"Eu estou com 45 anos e estou lendo muito sobre menopausa, que é um assunto tabu. É difícil você trocar uma figurinha com uma mulher que esteja na menopausa e que não se sinta constrangida porque está na menopausa. É uma prisão, é uma loucura. Eu falei, 'não', Joana D'arc, vamos nós de novo, nosso cavalinho, para resgatar a beleza das mulheres!"

"Quando você tem 20 anos, você faz tudo que quer. O corpinho bonitinho, tudo funciona. Eu fiz tudo que quis. Mas agora é a hora de você ter acesso ao arquivo das feiticeiras. E você só tem isso depois dos 40."

"Gosto das minhas rugas, são cicatrizes da vida, eu respeito as minhas pelancas. Já fui loira, já fui ruiva, agora os meus cabelos têm a cor da lua, são brancos."

"Aprendi a gostar de mim. Rita Lee não tinha tempo pra ver se gostava dela, sempre nos shows, estrada, cuidando dos filhos, de casa. Quando você morre, você não leva nada da vida. Só leva os conhecimentos que aprende com você mesmo."

"Estou gostando muito desta Rita de hoje. Ela é a mais familiar para mim. Sinto que sempre fui essa daqui e representei as outras. Gostei de várias delas, não gostei de outras. E, se eu quiser, às vezes puxo arquivos das outras: posso voltar à criança, à grávida... Mas sinto que essa sou eu, com meu cabelo branco, minhas rugas, de bem com tudo o que vivi e continuo vivendo."

"E se encontrasse com a Rita dos 17 anos e pudesse dar um conselho a ela? Envelheça! Mas saiba que envelhecer é uma loucura! Envelhecer não é para maricas. Daria conselhos para ter mais cuidado com a postura, com a coluna! E também diria: experimente todas as coisas que quiser, mas se proteja um pouco mais. Não precisa entrar tão de sola em tudo. Dá uma maneirada em uma coisa ou outra."

"Dizer que a idade está na cabeça é debochar da minha coluna vertebral. Nada contra quem apela a botoxes e plásticas, mas eu 'garrei' carinho nas minhas rugas, pelancas e cabelos brancos, essa é a minha old new face."

"Agora é a hora de ter acesso ao arquivo das feiticeiras. Você só tem isso depois dos 40, e aos 45 anos é outro tipo de arquivo. Aí é que está: não há em que ficar procurando plástica nessa coisa. A fonte da juventude não está aí, está no belo da mulher feiticeira, aquela índia velha serena que sabe de tudo. É isso que eu quero, [...] é a feiticeira que me interessa."

"Tive uma vida maravilhosa, tive sorte de ter nascido na família em que nasci, sorte de ter trabalhado com música durante 50 anos, alegrado as pessoas, isso é uma loucura! Ter encontrado o Roberto, ter tido três filhos maravilhosos, agora dois netos. Essa coisa de envelhecer é uma feitiçaria feminina, assim como a menstruação. O envelhecimento, para a mulher, é muito louco."

"A gente fica com poderes, a gente fica mais atenta à sutileza do invisível, do espiritual falando com você. Nessa balbúrdia que está o mundo, você mal escuta a sutileza do sopro do anjo, da luz… Quando jovem, você tem aquele vulcão em erupção, fazendo música, trepando. Quando o vulcão do velho entra em erupção, a minha velha ficou com vontade de ler mais, de aprender, de pintar… Você troca a libido pela 'mortido' - e no bom sentido! Você não quer mais trepar, já trepou a vida inteira! Quero coisas que eu não sei. "

"A fonte da juventude não está na plástica. Não está aí. O belo da mulher feiticeira, aquela índia velha, que é serena, sabe de tudo. É isso que eu quero, é isso que estou procurando."

"Tem duas maneiras de você envelhecer. Ou você segue o caminho das peruas, ou você segue o caminho das feiticeiras. As peruas perseguem a fonte da juventude, e o grande inimigo delas é o tempo. Já as feiticeiras, o maior amigo delas é o tempo."