'Não quero ter filhos, mas virei doadora de óvulos para realizar sonhos'

Há quatro anos, Aline Caires, 28, decidiu que queria ajudar outras mulheres a realizarem o sonho de ser mãe. Inspirada pela irmã, ela se tornou doadora de óvulos, um processo que envolve injeções e sedação.

Casada com outra mulher, a baiana nunca teve vontade de ser mãe e, se mudar de ideia, também terá de passar por reprodução assistida se quiser ter um filho biológico.

A situação tornou ainda mais fácil a escolha por doar, que é sempre voluntária no Brasil — sem qualquer tipo de compensação financeira.

"Minha irmã já estava fazendo doação em uma clínica de fertilização, ela falou comigo sobre isso e decidi começar a doar também, para realizar sonhos de outras mulheres. Quis fazer parte de um sonho que não é meu", contou ela a Universa.

De 2019 para cá, Aline já fez oito doações — na pandemia, teve de fazer uma pausa forçada.

Depois de coletados os óvulos, as doadoras não têm mais controle sobre eles.

Não tenho controle (de quantos bebês foram gerados), mas as médicas já disseram que meus óvulos são bons e fizeram várias mamães realizarem o sonho.

A idade limite para a doação de óvulos é de 37 anos, segundo uma resolução do CFM (Conselho Federal de Medicina) do ano passado.

"Também existe o limite de doações que varia de acordo com a população da cidade, para evitar encontros entre irmãos biológicos, e um limite para proteger a saúde da doadora", detalha a jovem, que mora em São Paulo.

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Segundo o CFM, deve-se evitar que um doador tenha produzido mais de dois nascimentos de crianças de sexos diferentes em uma área de 1 milhão de habitantes.

Aline nunca teve contato com mulheres que receberam seus óvulos.

Para passar pelo procedimento, ela conta que é preciso fazer exames para descartar infecções e problemas ginecológicos ou genéticos.

'Não são meus filhos'

Há alguns meses, Aline passou a compartilhar os bastidores das doações no TikTok, onde tem mais de 300 mil seguidores. Muitas pessoas elogiam a coragem da influenciadora ao aplicar as ampolas de hormônio que fazem parte da preparação — elas assustam pelo tamanho das agulhas.

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O processo, conta ela, envolve a aplicação de injeções por cerca de 15 dias e uma anestesia na hora de fazer o procedimento.

Outras criticam a decisão da jovem de "abrir mão de seus óvulos", mas ela destaca: "Não são meus filhos, porque uma criança não depende só de óvulos para vir ao mundo."

"Sempre fui uma pessoa independente e nunca dei ouvidos à opinião alheia, sempre fui muito decidida com as minhas decisões", diz Aline.

Já que eu ovulo tão bem e sei que muitas mulheres lutam para engravidar, não me custa nada doar. Não me considero doadora de óvulos e sim doadora de sonhos.

Como é o processo de doação

Após aplicar as seringas de hormônios para estimular a ovulação, Aline vai ao hospital para a retirada dos óvulos. O procedimento é feito sob sedação e exige repouso depois, com atividades físicas mais pesadas proibidas por cerca de uma semana.

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"Tudo isso é feito com acompanhamento médico. No pós, se pegarmos algum peso, pode acontecer de dar alguma hemorragia e dores abdominais muito fortes. Mas, se isso acontecer, eles [a clínica que recebe as doações] dão total assistência. Mandam um Uber nos pegar em casa e oferecem internação e medicamentos, tudo por conta deles", detalha Aline, que nunca teve complicações.

Ela afirma que sentiu apenas desconfortos abdominais e fica um pouco inchada até alguns dias depois, quando menstrua.

"Aí sim o corpo começa voltar o normal e a vida segue, podendo pegar peso, comer de tudo e ter relação sexual", explica. Duas amigas de Aline já se inspiraram e também viraram doadoras.

Doação de óvulos ajuda pessoas que dependem da reprodução assistida
Doação de óvulos ajuda pessoas que dependem da reprodução assistida Imagem: Getty Images/iStockphoto

Conheça o passo a passo

Que tem interesse em fazer a doação voluntária deve procurar uma clínica especializada em reprodução humana ou hospitais que realizem tratamentos com óvulos doados.

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Antes de ser aceita, a candidata passa por uma bateria de exames e investigações do histórico médico familiar. Ela também passa por investigação de doenças genéticas.

Depois, a doadora usa injeções para estimular o crescimento dos óvulos por um período entre 10 a 14 dias.

Nesse intervalo, ela faz de 4 a 5 ultrassons. Em seguida, é feita a coleta de óvulos com sedação.

Entre os efeitos colaterais mais comuns estão a retenção de líquido, mamas inchadas e desconforto abdominal.

O anonimato de doadora e receptora é garantido. Segundo o CFM (Conselho Federal de Medicina), em situações especiais, podem ser fornecidas exclusivamente aos médicos informações sobre os doadores por motivação médica. A identidade do doador deve ser resguardada.

* Com informações de reportagem publicada em 2022.

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