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'Sugeriu oral nele': mulher diz ter sido vítima de ginecologista preso

Felipe Sá Ferreira, ginecologista de Maringá preso por suspeita de violação sexual  - Reprodução/YouTube
Felipe Sá Ferreira, ginecologista de Maringá preso por suspeita de violação sexual Imagem: Reprodução/YouTube

Juliana Almirante

Colaboração para Universa

21/06/2023 04h00

Encorajada pela investigação feita pela polícia em Maringá (PR), uma psicóloga de 34 anos diz ter sido vítima do ginecologista e obstetra Felipe Sá Ferreira, 40. Ele foi detido na última quinta-feira (15).

Vivian Prestes procurou na sexta-feira (16) a Delegacia da Mulher para dar depoimento e também denunciar o médico —investigado por violação sexual mediante fraude, importunação sexual e estupro de vulnerável.

A psicóloga contou a Universa que ouviu dele insinuações de cunho sexual enquanto se consultava com o médico, em março do ano passado. Ferreira teria dito, segundo ela, que estava excitado durante a consulta e sugerido que a paciente fizesse sexo oral nele.

Ele [Ferreira] começou a sexualizar a conversa. Olhou o resultado do exame e disse que eu estava 'limpinha', se referindo a não estar com ISTs [Infecções Sexualmente Transmissíveis]. Depois, começou a sugerir que eu fizesse sexo oral nele. Disse que 'o pau dele estava duro'. 'Você tem cara de que chupa bem', falou. Ele segurou no braço da cadeira dele, como se fosse se levantar, e olhou em direção à salinha de exame, me provocando e dizendo: 'Vamos'.
Vivian Prestes, em entrevista a Universa

"O meu cliente nega as acusações contra ele", disse o advogado de Ferreira, Francisco Clarimundo de Resende Neto, ressaltando que "ninguém é considerado culpado até que tenha havido o trânsito em julgado de uma decisão judicial condenatória." (leia abaixo a íntegra do posicionamento).

Depois da consulta, Vivian disse ao médico que precisava sair do consultório e resolveu não voltar. Ela conta que ficou "atônita, anestesiada, sem reação e ansiosa".

"Acho que a gente demora a entender o que está de fato acontecendo. Eu disse que precisava sair para atender um paciente e ele respondeu que a gente não precisava de muito tempo e que seria rápido. A secretária dele ligou nessa hora e disse que a próxima paciente estava esperando."

O médico era conhecido pelo incentivo ao parto humanizado e também se posicionava a favor de pautas feministas. A psicóloga disse que era atendida por Ferreira havia cinco anos e procurou o profissional por indicação de amigas que tiveram o parto conduzido por ele.

À época da consulta, Vivian disse que teve medo de denunciar o caso, mas mudou de ideia depois que o médico foi preso temporariamente por 30 dias —o prazo pode ser prorrogado.

Ela conta que chegou a pensar em denunciá-lo em julho do ano passado, quando foi divulgada a prisão de um anestesista em São João de Meriti (RJ).

Essa notícia [da prisão de outro médico] mexeu muito comigo porque me lembrei do que tinha acontecido com o Felipe e entendi a gravidade e a seriedade. Tinha certeza de que não seria a única vítima.
Vivian Prestes

Na ocasião, ela disse ter conversado com outras duas pacientes que também denunciariam Ferreira por situações semelhantes, mas desistiu por medo de ele não ser punido.

Ele é muito conhecido, bem relacionado, foi candidato a deputado e professor de universidade. A gente não acreditava que pudesse acontecer uma investigação séria, então desistimos. Agora, fiquei aliviada porque ele foi preso, mas também tenho medo de retaliação.
Vivian Prestes

Depois que denunciou o médico, a psicóloga disse que ficou até com medo de cuidar da saúde, já que não se sente segura. "Na ginecologia, a vulnerabilidade é maior, ficamos expostas. [...] Ele se apropria do saber e do lugar que tem, da posição que tem. Tudo isso acontece no consultório. Não é flerte, é usar o lugar de médico."

Prisão do médico

  • Ferreira tem registro ativo no Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) desde 2011, e trabalhava em um consultório particular no centro de Maringá, onde foi preso.
  • A polícia fez busca e apreensão de celulares e computadores, que serão encaminhados para perícia. As investigações do caso já duram seis meses.
  • A polícia já ouviu entre 7 a 8 mulheres que denunciaram formalmente o médico. Outros oito depoimentos de mulheres estão agendados, segundo o delegado Dimitri Tostes Monteiro.
  • Todas as vítimas relataram que os abusos ocorreram dentro do consultório.
  • Algumas das mulheres que o denunciaram afirmaram que ele massageava a região íntima delas durante o exame ginecológico, segundo Monteiro.

Ele teria tentado hipnotizar uma das pacientes para praticar um crime sexual contra ela. Ela percebeu como era conduzida e interrompeu.
Dimitri Tostes Monteiro, delegado

  • Ferreira pode ser investigado por importunação sexual em relação à denúncia feita por Vivian, segundo o delegado.
  • O CRM apura as denúncias em sigilo, conforme determina o código de processo ético-profissional.

Quem é Felipe Sá Ferreira

  • Mestre em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo, já atuou como professor em universidades paranaenses, segundo biografia publicada em seu site.
  • Nas redes sociais, seu perfil profissional tem 32 mil seguidores. Na descrição de uma das páginas, o médico defende o "parto com respeito".
  • Felipe Sá também foi candidato a deputado federal no ano passado, mas não foi eleito.

Veja a nota da defesa do médico

O meu cliente nega as acusações contra ele. E, por previsão da própria Constituição Federal, ninguém é considerado culpado até que tenha havido o trânsito em julgado de uma decisão judicial condenatória. Então a gente reforça esse princípio da presunção da inocência, reiterando a inocência de nosso cliente, cujas provas serão produzidas durante a instrução do processo
Francisco Clarimundo de Resende Neto, advogado que representa Felipe Sá

Como denunciar violência médica

Em casos de violência cometida por um profissional de saúde, seja obstétrica ou sexual, é possível fazer denúncias em diversos canais.

Você pode procurar a ouvidoria do próprio hospital ou clínica. Também recebe denúncias o conselho regional de medicina de cada Estado (é possível encontrar informações neste link acessando a aba contatos). Caso o denunciado seja um enfermeiro, auxiliar ou técnico, procure o conselho de enfermagem da região (veja contatos dos órgãos por Estado neste link).

O Ministério Público Federal é outro órgão que pode receber denúncias, inclusive pela internet, neste link. Ainda podem ser acionados o Ministério da Mulher por meio do Ligue 180, canal do governo federal que funciona 24 horas por dia —funciona também por WhatsApp no número (61) 9610-0180 ou clicando neste link. O Disque Saúde, do Ministério da Saúde, é outra alternativa, e funciona no número 136.