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Apps oferecem viagem grátis para mulheres denunciarem violência à polícia

Mulher pediu ajuda por meio de aplicativo de corrida em Porto Alegre - Arquivo pessoal
Mulher pediu ajuda por meio de aplicativo de corrida em Porto Alegre Imagem: Arquivo pessoal

De Universa, em São Paulo

10/02/2023 21h36Atualizada em 10/02/2023 21h36

O motorista de aplicativo Lucas Bettio, 22, levou um susto quando viu uma mensagem de uma mulher pedindo para que ele aceitasse a corrida, mesmo que ela não tivesse dinheiro para pagá-la, porque estava sendo agredida pelo marido. O caso ocorreu no dia 18 de janeiro, em Porto Alegre, mas só foi divulgado por ele nesta semana.

Lucas trabalha com a 99 há apenas quatro meses e, até então, não sabia que a plataforma disponibilizava viagens grátis para mulheres vítimas de violência que queiram denunciar o caso à delegacia. No entanto, mesmo assim, ele aceitou fazer a viagem sem que a mulher pagasse pela corrida.

"Eu passei para buscá-la por volta das 10h30. Foi difícil acreditar no que estava acontecendo. Era começo do dia e já teve essa bomba. Fiquei meio sem reação, ainda mais porque na minha infância eu já presenciei cenas de violência contra a mulher. O choque foi muito grande, e respondi que estava indo ajudá-la sem problemas", contou ele ao UOL.

Ao chegar na casa da vítima, Lucas disse que ela já estava na calçada, com sinais de agressão no rosto. "Eu entrei na rua devagar, fiquei com medo de ser algum golpe, então fiz tudo com muita calma. Ela acenou e eu logo peguei ela. Ela entrou rápido no carro, chorando muito, com o rosto inchado. Ela comentou que era algo que acontecia com frequência. Eu tentei deixar ela o máximo confortável possível e orientei ela a procurar os direitos dela, porque ela dizia que não aguentava mais."

Lucas deixou a vítima em outra residência e depois não teve mais contato com ela.

Ao UOL, a 99 informou que disponibiliza um voucher de desconto em corridas para Delegacias de Mulheres desde 2021. Para utilizá-lo, é necessário utilizar o cupom de desconto com o código DELEGACIADAMULHER. Ao retornar à tela inicial, a usuária deve digitar o destino como "Delegacia da Mulher" e a corrida vai direcioná-la para a delegacia mais próxima.

"A iniciativa faz parte do 99 Mais Mulheres, um programa que marcou o compromisso da companhia com a luta feminina. O programa inclui também a parceria com o projeto Justiceiras, destinado a acolher e encaminhar vítimas de violência doméstica a equipes especializadas", disse a empresa, que atua em todo o território nacional.

Ainda, segundo a 99, o projeto estimulou uma média de três mulheres por dia a procurarem voluntárias do grupo para denunciar abusos e agressões.

Além da 99, a Uber também disponibiliza serviço semelhante. Desde o início da pandemia da covid-19, a plataforma disponibilizou o "Ângela", uma assistente virtual que pode ser acionado como um contato conhecido no WhatsApp, no qual as mulheres podem recorrer para obter orientações e códigos promocionais para viagens gratuitas para delegacias da mulher.

Além disso, a Ângela também passou a ser um recurso que orienta pessoas que querem ajudar outras mulheres que estejam passando por uma situação de violência.

Dispositivos para apoiar mulheres em situação de violência também foram lançados por prefeituras ao redor do país. Em Goiânia, o "Botão do Pânico" foi desenvolvido para mulheres que têm medida protetiva. Ao ser acionado, ele automaticamente alerta a equipe mais próximo da Guarda Municipal, que se desloca até onde a vítima está.

Cerca de 100 ocorrências são registradas por mês. Segundo a Prefeitura, 2 mil mulheres foram atendidas no ano passado por meio da plataforma.

Violência doméstica - denuncie

Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 180 e denuncie.

Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.

É possível realizar denúncias pelo número 180 — a Central de Atendimento à Mulher, que funciona em todo o país e no exterior, 24 horas por dia. A ligação é gratuita. O serviço recebe denúncias, dá orientação de especialistas e faz encaminhamento para serviços de proteção e auxílio psicológico. O contato também pode ser feito pelo WhatsApp no número (61) 99656-5008.

A denúncia também pode ser feita pelo Disque 100, que apura violações aos direitos humanos. Há ainda o aplicativo Direitos Humanos Brasil e a página da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH) do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC).

Vítimas de violência doméstica podem fazer a denúncia em até seis meses. Caso esteja se sentindo em risco, a vítima pode solicitar uma medida protetiva de urgência.