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Caso Brennand: 'Prisão encoraja outras mulheres a denunciá-lo', diz modelo

A atriz Helena Gomes foi agredida pelo empresário Thiago Brennand em uma academia de luxo de São Paulo no início de agosto - Reprodução/TV Globo
A atriz Helena Gomes foi agredida pelo empresário Thiago Brennand em uma academia de luxo de São Paulo no início de agosto Imagem: Reprodução/TV Globo

Hysa Conrado

De Universa, em São Paulo

14/10/2022 15h29

A prisão do empresário Thiago Brennand, 42 anos, na manhã desta sexta-feira (14) em Abu Dhabi, representa uma sensação de "alívio" para a modelo Alliny Helena Gomes, 37, que foi agredida por ele em uma academia de luxo em São Paulo em agosto deste ano. Em entrevista para Universa, ela afirmou que, além das denúncias formalizadas pelo MPSP (Ministério Público de São Paulo), cerca de 200 pessoas a procuraram para relatar que também viveram alguma situação de violência com Brennand.

Agora que ele está preso, Alliny Helena acredita que o número de vítimas dispostas a denunciá-lo pode aumentar. "A prisão é um apoio maior para todas as pessoas que ainda não falaram, que entraram em contato com a gente, mas que tiveram medo de abrir um processo no Ministério Público. São violências de todos os tipos possíveis", afirma.

Além disso, a modelo acredita que a prisão também é uma garantia de segurança para as pessoas que já denunciaram o empresário formalmente no MPSP - além das 14 mulheres, um homem também o denunciou por agressão.

"Eu estou bem aliviada, não com relação à prisão do Thiago em si, meu alívio é poder finalmente passar uma segurança maior para as outras vítimas que entraram no processo com a gente. É o sinal que a gente estava esperando, e estamos super felizes vendo esses objetivos sendo alcançando", afirma Alliny Helena.

O advogado Marcio Janjacomo Jr., que faz a defesa da modelo, afirmou que o próximos passo é aguardar a extradição de Brennand para o Brasil. O empresário estava foragido desde setembro, quando teve a prisão preventiva decretada, e foi preso pela Interpol nos Emirados Árabes Unidos.

Relembre o caso

Na época da agressão à Alliny Helena Gomes, as imagens das câmeras de segurança registraram o momento em que Brennand parte para cima dela, que se exercitava ao lado do empresário.

Em entrevista a Universa, ela falou sobre o histórico de investidas do empresário e afirmou que "todos tinham medo dele" no local. Helena treinava na academia havia três meses e chegou a ser orientada por outras mulheres para se manter afastada dele que, segundo elas, "não aceitava o 'não'" como resposta às suas investidas como "conquistador".

Depois da repercussão deste caso, outras 14 mulheres denunciaram o empresário por agressão e abuso sexual, além de um homem que também afirma ter sido agredido por Brennand. O MPSP está ouvindo as vítimas e os processos estão sob segredo de justiça.

Os crimes teriam ocorrido entre 2017 e 2022, segundo documentos aos quais o jornal Folha de S. Paulo teve acesso. Em um dos casos, uma mulher de 37 anos chegou a ser mantida em cárcere privado por Brennand, em uma casa na cidade de Porto Feliz, no interior de São Paulo, e sido obrigada a manter relações sexuais com ele. Após o crime, o empresário chegou a divulgar imagens do ato e enviá-las para a filha da vítima.

A Polícia Civil também apreendeu 54 acessórios de armas de fogo na mansão do empresário. Após a ação, o Exército suspendeu o certificado de registro de CAC (caçadores, atiradores e colecionadores) do acusado.

Em 2021, por medo do comportamento agressivo de Brennand, o cavaleiro e medalhista olímpico Doda Miranda chegou a pedir uma medida protetiva contra o empresário, além de solicitar que ele fosse impedido de chegar próximo da sua família e de frequentar o centro de treinamento hípico do qual o atleta é dono na cidade de Itatiba (SP).

Relação conturbada com a família

A relação do empresário com a família é conturbada e, em 2019, seus pais, José Aécio Fernandes Vieira e Joana Tavares da Silva Fernandes Vieira, chegaram a registrar em cartório ameaças recebidas do filho. Brennand teve sua parte na herança adiantada e, depois, ele e seu filho foram deserdados das possíveis variações positivas que o patrimônio da família possa registrar.

Em documentos aos quais Universa teve acesso, a mãe de Brennand relata ter sido chamada de "figura abominável", "figura abjeta" e "figura imunda" em e-mail enviados pelo filho. "Muito f*da ter essa coisa horripilante como genitora", diz um dos trechos da mensagem enviada por ele, que também comparou sua mãe ao nazista Joseph Goebbels, conhecido por ter sido o Ministro da Propaganda de Hitler.

Brennand também dirigiu ofensas ao pai, e afirmou ter sido "roubado descaradamente em uma partilha macabra" e "alvo dos mais malsinados boatos". "Se você, por essa razão, quiser pagar de louco e fizer uma nova arrumação do que liberalidade e do que é legítimo, ou de qualquer outra safadeza, anuncio desde já que o cacete vai comer entre nós filhos. E não haverá descanso até que as coisas sejam resolvidas, pelo bem, ou pelo mal", diz um trecho do e-mail recebido por José Aécio Fernandes Vieira.

O empresário também afirmou na mensagem que "custe o que custar", não aceitaria ser deserdado pela família. "Marque minhas palavras: a possibilidade disso terminar assim é zero, custe o que custar. Perco a minha liberdade, mas não a honra. Não vou deixar meus filhos viverem a história de um pai roubado que foi feito de palhaço [...] Não é ameaça, é promessa, e não irei cumprir se morrer antes".

O programa "Fantástico", da TV Globo, também divulgou que o empresário mandou entregar um caixão na casa do primo Jason Vieira, que havia recebido o diagnóstico de câncer. A reportagem mostrou um áudio em que Brennand chama o primo de "Cancinho. "Já tá todo mundo sabendo da metástase, Cancinho. Que pena, né? Parece ferrugem no teu corpo".