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Bi ou pan? 'Sempre senti atração por pessoas', diz Dora Figueiredo

05/09/2022 04h00

Em entrevista ao podcast Sexoterapia, Dora Figueiredo falou sobre a sua dificuldade de entendimento da própria sexualidade. A atriz, apresentadora e criadora de conteúdo conta que, depois de passar a adolescência em dúvida se era heterossexual ou lésbica, ela acabou se identificando como bissexual.

Mas isso foi só até descobrir que a bissexualidade não contempla o envolvimento com pessoas transexuais. Então, achou que o conceito de pansexualidade a definia melhor.

"Aí me falaram que dentro do pan se encaixam pessoas não binárias, que não se identificam com nenhum dos dois gêneros. E eu não me atraio muito, até agora, por pessoas não binárias".

"Fluidez sexual pode falar de orientação e também de identidade", diz sexóloga

Segundo Ana Canosa, no entanto, pansexual é a pessoa que tem atração por outra, independentemente do gênero. "Pode ser feminino, masculino, não binário, pode ser tudo". Sendo assim, a sexóloga questiona: "Se você se interessa por pessoas que tenham características de gênero, alguma característica, então não dá para ser pan?".

Na falta de uma resposta conclusiva, Dora prefere, então, se definir como bissexual/pansexual. "Na minha opinião, bissexual contempla os dois gêneros, independentemente de ser uma mulher trans ou um homem trans. Eu me identifico mais como bi, se for isso. Mas, se como algumas pessoas falam, bi não contempla pessoas trans, definitivamente eu não sou bi. Aí eu vou para o Pan".

"Sempre senti atração por pessoas", diz Dora Figueiredo

Para alguns, essa necessidade de colocar um rótulo na sexualidade, encaixá-la em alguma sigla relativa às diferentes identidades de gênero e sexuais, pode criar mais dúvidas do que respostas, aprisionar em vez de libertar. No entanto, Ana Canosa ressalta que, quando se está tentando entender a própria orientação sexual ou identidade de gênero, nomear pode ajudar o processo.

"Quando a pessoa está experimentando essas mudanças, eu sinto que o nome ajuda a se sentir pertencendo a algum grupo, a se entender. Depois, talvez a pessoa não precise mais. Eu acho que é um processo".

A sexóloga ressalta que existem questões científicas, políticas e de parâmetros médicos nessa nomenclatura. "Você vai ver grupos que têm suas características e suas justificativas políticas para se autodenomina. Por exemplo, as travestis vão dizer: 'Não somos mulheres trans, somos travestis'. É um grupo com necessidades muito específicas, que tem a ver como a sociedade vê travestis em relação a mulheres trans", explica. Por isso a importância da nomenclatura.

"Acompanhar parcerias em transição de gênero é um convite amoroso"

Por fim, Ana Canosa esclarece que as pessoas atualmente estão mais curiosas sobre vivências não-binárias, o que não significa que terão fluidez sexual por toda a vida. "Posso ser hétero e transar por diversão com homens ou posso ser homo e transar por diversão com mulheres. Isso pode não se enquadrar na bissexualidade por se trata apenas de sexo e não de relacionamento afetivo", afirma.

A sexóloga também comentou o caso da ouvinte que está vendo o marido passar por uma possível transição de gênero. "Acompanhar parcerias em transição de gênero é um convite amoroso, que precisará acomodar mudanças em uma importante dimensão da pessoa humana do outro. Mas como bel hooks dizia, não há amor sem dor e sim, há um um processo de enlutamento", lembra.

Muito embora estejamos desconstruindo essas normatividades, também precisamos acolher a dificuldade de quem está do outro lado. Não é simples assim. O desejo e as identidades não devem ser encarceradas, mas isso serve para todes: para os fluídos e também para os não-fluidos.

Sexoterapia é o espaço criado por UOL/Universa para falar de sexo e relacionamento. Você pode conferir o programa em plataformas de áudio como Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e Amazon Music. No Youtube de Universa, o programa também está disponível em vídeo.