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Só 3 produtos, sem ácidos: farmacêutica bomba com rotina simples para pele

A farmacêutica Marina Cristofani ficou famosa no TikTok produzindo conteúdo sobre skincare descomplicado - Acervo pessoal
A farmacêutica Marina Cristofani ficou famosa no TikTok produzindo conteúdo sobre skincare descomplicado Imagem: Acervo pessoal

Rute Pina

De Universa, em São Paulo

31/07/2022 04h00

Dezenas de nomes de ácido, complexos de peptídeos e outros componentes: você já teve a sensação de que para falar de cuidados com a pele, de uns anos para cá, parece que virou obrigatório ser um bacharel em química de tão complexas que as rotinas se tornaram?

Na contramão desse movimento, a farmacêutica Marina Cristofani, 27 anos, que se formou em Farmácia na Universidade Federal do Paraná em 2020 e faz pós-graduação de pesquisa e desenvolvimento de cosméticos pelo Instituto de Cosmetologia do Brasil, viu seu número de seguidores no TikTok pular de 40 para mais de 820 mil, em três meses, fazendo exatamente o contrário: enxugando a rotina de skincare e investindo no básico.

Marina tem feito sucesso nas redes sociais com dicas que mostram que nem sempre é preciso empilhar dezenas de produtos para cuidar da pele. No seu vídeo mais famoso, ela conta que é possível montar uma rotina de cuidados com apenas três itens: um sabonete ou limpador, como um cleansing-oil, um hidratante e um protetor solar.

Em abril, ela publicou seu primeiro vídeo sobre o tema desvendando fatos sobre o ácido hialurônico. Na publicação ela diz, por exemplo, que nem sempre o componente queridinho da indústria cumpre as funções que os fabricantes de produtos de beleza prometem, como preenchimento de linhas finas. "Sabia que ele tinha potencial para visualizar, mas era um achismo, porque também nunca tinha estudado marketing, sou só uma usuária de TikTok", conta a influenciadora de Curitiba a Universa.

Em dois dias, ela já tinha 5 mil seguidores e o vídeo contabilizava mais de 300 mil visualizações. Então, decidiu apostar e publicar mais um vídeo sobre cabelos que, de novo, viralizou. No Twitter e no Instagram, não é difícil encontrar meninas que compartilham fotos de "antes e depois" de conhecer Marina —que faz vídeos reagindo ao sucesso das seguidoras em adotar suas dicas.

"Penso que as pessoas se interessaram pela minha formação também, pelo meu conteúdo técnico, mas principalmente pela simplificação das coisas. Estão falando para o pessoal comprar 10 mil produtos. Mas o que aconteceu com a minha pele foi que eu usei mil coisas, deu tudo errado, e decidi voltar para o básico", conta.

'Pessoas querem perfeição e resultados imediatos'

Para ela, as rotinas cada vez mais complexas e a popularização de ácidos e outros componentes são resultados de uma busca pela perfeição, e de forma imediata.

"Não sou muito fã de ácidos para o rosto. Entendo que eles tenham um propósito, que eles funcionam —inclusive, na farmácia em que eu trabalhava, os produtos que mais saíam eram os que tinham ácidos. Ter conhecimento é também o motivo pelo qual tenho tanta cautela", diz a farmacêutica.

"Hoje as pessoas usam três ácidos na mesma rotina, misturando tudo. Vejo muita gente desesperada, muito ansiosa para obter resultados imediatos. Foi também por conta dessa disseminação endoidada de ácidos que quis começar a criar conteúdo."

Ela afirma que o uso de fórmulas com ácidos, por exemplo, pode ser benéfico para diversos tratamentos, como para atenuar rosácea e acne, desde que usados conscientemente e com a supervisão de um especialista. "Leva tempo para marcas de espinhas amenizarem e elas não vão embora simplesmente", lembra Marina.

"Demorou anos para eu me acertar com essa rotina, foi uma aposta. Minha pele melhorou muito, mas volta e meia tenho uma espinha. Essa onda de perfeição, de estar com a pele sempre perfeita, fez com que as pessoas começassem a se desesperar atrás de ácidos."

Vitamina C para quê?

Outro ativo que ganhou fama por causa da mídia, diz Marina, é a Vitamina C. "Às vezes me pedem indicação de um produto com vitamina C e eu pergunto 'para que você quer?' Ninguém sabe responder. 'Ah, mas é que todas as blogueiras usam'. Sim, ela pode ser um acessório superlegal, mas precisamos pensar que a maioria das pessoas não tem dinheiro para comprar um protetor solar. Não vou ficar colocando um ativo, então, goela abaixo das pessoas."

Esse caminho de simplificação da rotina, acrescenta ela, pode dar bons resultados e ainda render economia em produtos desnecessários. "Às vezes, as pessoas usam três produtos com ácidos diferentes, mas que agem em uma mesma enzima para uniformizar a pele, por exemplo. Ela só está gastando mais dinheiro. É melhor comprar o seu sabonete, seu hidratante e protetor, economizar e investir em bons produtos", resume.

Parceria e linha própria

Com a popularização de seus vídeos, Marina já fechou parcerias com marcas grandes, como O Boticário. Mas o plano é ter sua própria linha de cuidados com a pele. A vontade de atender em consultório como farmacêutica clínica veio da experiência com a acne, desde a adolescência.

"Quando falamos de acne ou problemas de pele, sabemos o quanto isso pode afetar a autoestima. A gente deveria se sentir bonita, independentemente da acne. Mas eu não tive esse entendimento quando busquei por tratamentos", conta. "Deixei meu rosto muito sensível porque eu passei muita coisa. Quando comecei a pós-graduação, meu intuito era ter minha própria marca. Só que empreender no Brasil é difícil e requer injeção de dinheiro que eu não tinha."

Marina Cristofani planeja ter uma marca própria de cosméticos futuramente - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Marina Cristofani planeja ter uma marca própria de cosméticos futuramente
Imagem: Acervo pessoal

Ela foi contratada pela farmácia de manipulação em que fez estágio, onde tinha um centro de pesquisa e desenvolvimento de cosméticos, com o foco em atender empresas, não só o público final. Com essa prática, Marina conta que entendeu sobre o funcionamento das indústrias de cosméticos e de seus componentes.

Em abril deste ano, infeliz com os rumos profissionais, ela decidiu publicar no TikTok seu primeiro vídeo. "Eu estava trabalhando como representante comercial, ainda estava pesquisando novidades para farmacêuticos e muito a par das coisas novas, só que isso não era alguma coisa que me encantava muito. Eu sentia que eu não estava conseguindo ajudar tantas pessoas e que eu tinha um conhecimento muito amplo que poderia ajudar."

"Descobri um poder de influência que não sabia que eu tinha. Não sei como lidar com isso, mas sou muito ética, quero pecar pelo excesso de cuidado", diz ela. "Mas estou muito feliz na posição que eu estou e conseguindo falar com tanta gente."