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Professor de medicina é suspeito de torturar ex por 8h, 2 dias após noivado

Professor chegou a quebrar celular da vítima durante ataque, após mulher cumprimentar vizinho em elevador - Arquivo Pessoal
Professor chegou a quebrar celular da vítima durante ataque, após mulher cumprimentar vizinho em elevador Imagem: Arquivo Pessoal

Jéssica Lima

Colaboração para Universa, em Brasília

28/07/2022 12h32Atualizada em 28/07/2022 13h48

A Polícia Civil do Distrito Federal investiga um professor do Departamento de Medicina da Universidade de Brasília (UnB). O homem de 45 anos é suspeito de agredir e ameaçar a ex-noiva de morte com uma faca durante oito horas. O episódio de torturas, disse ela, ocorreu na quarta-feira (21) em Taguatinga (DF), na casa do docente, dois dias após ele a pedir em casamento.

Ela contou a Universa que estava com o professor no elevador do prédio do docente, quando um morador entrou e cumprimentou o casal. Isso teria desencadeado mais um episódio em que o então noivo demonstrava comportamento possessivo e controlador.

"Eu apenas respondi o 'bom dia'. Depois disso, ele fechou a cara e fomos para a academia. Como não estava me sentindo bem, voltei para o apartamento. Minutos depois, ele chegou dizendo que não tinha gostado da minha postura e começou a me xingar", relata a mulher, que prefere não se identificar.

Ainda muito fragilizada, a vítima diz que viveu oito horas de terror psicológico e físico e que foi agredida com socos, chutes e puxões de cabelo de 9h30 às 17h30. Além disso, o professor teria a ameaçado de morte, colocando uma faca em seu pescoço.

"Todas as agressões possíveis eu vivi. Ele jogava água gelada em mim e ligava o ar-condicionado. Me dava murros na cabeça. Pensei que fosse morrer. Só pedia a Deus para que me tirasse dali", conta a vítima.

Tomada pela dor, a mulher explica que chegou a pensar em pular a janela, mesmo estando no 3º andar. No entanto, conseguiu convencer o professor a deixá-la ir embora, com a promessa de que não iria procurar a polícia.

Ele disse que iria atrás de mim e me mataria caso procurasse a polícia. Depois, quebrou meu celular e apagou todos registros. Fui embora toda machucada e desesperada.

Após horas de terror, a vítima procurou a Delegacia Especial de Atendimento à Mulher II, em Ceilândia, e registrou um boletim de ocorrência contra o professor. Em nota, a Polícia Civil do DF informou que a 17ªDP , em Taguatinga Norte, vai investigar o caso.

"Por se tratar de violência doméstica ou familiar contra a mulher, dentro do âmbito da Lei Maria da Penha, o caso corre em sigilo", explica o texto.

A Justiça do Distrito Federal também emitiu uma medida protetiva, que impede que ele volte a se aproximar da ex-companheira.

No processo, ao qual Universa teve acesso, a juíza Nádia Vieira de Melo Ladosky, do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, de Taguatinga, alega que "a situação merece intervenção do Judiciário, a fim de que a integridade física e psicológica da requerente sejam protegidas pelo Estado".

"Ele não era um desconhecido."

A vítima contou que conhece o professor há pelo menos 25 anos. No final de 2020, decidiram namorar. Até então, o docente nunca havia sido agressivo. Porém, as atitudes de controle e posse por parte dele eram motivo de brigas.

"Nós éramos amigos. Ele não era um desconhecido, sabe? Então decidi apostar nesse relacionamento. O sinal de alerta foi em abril do ano passado, quando ele surtou com meu tio."

O motivo da briga, segundo ela, foi a forma que em que o número do telefone do tio estava salvo no telefone celular dela: "Tio Baby."

O apelido do meu tio é Baby. Todos chamamos ele assim. O meu ex surtou, falou muitas coisas pesadas para mim. Envolveu minha família. Eles não queriam que eu voltasse, mas eu perdoei. Ele permaneceu calmo e sem crises até o dia 21. Estávamos bem, ele tinha me pedido em casamento dia 19. E eu, claro, aceitei. Dois dias depois, ele quase acabou com a minha vida.

A mulher ainda está com ferimentos pelo corpo, com hematomas nas pernas e braços. Mas, segundo ela, o abalo psicológico é mais profundo.

"Vivo chorando pelos cantos. Sofri por oito horas. Os machucados vão sair. E o trauma? Não durmo, não como direito. Tenho medo que ele volte e cumpre as promessas", afirmou ela, emocionada.

O que diz a UnB

A Universidade de Brasília (UnB) informou que ainda não recebeu comunicado formal sobre o caso. E quem em ações que extrapolam a alçada administrativa da UnB, dentro das prerrogativas legais, cabe aos órgãos competentes tomar as providências necessárias.

"De toda forma, é importante frisar que a Administração Superior da UnB repudia todo e qualquer ato de violência contra as mulheres. No âmbito de sua competência, a UnB vem empenhando esforços pela promoção dos direitos humanos e para a erradicação da violência. A Universidade é espaço de respeito, tolerância, pluralidade, integração, debate e reflexão", disse.

Universa tentou contato com o professor por e-mail, sem respostas, e por telefone, em ligações que foram para a caixa postal. Até a publicação dessa reportagem, o médico ainda não havia se manifestado e, portanto, a identidade dele também será preservada, até que haja um posicionamento.

Em caso de violência, denuncie

Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 190 e denuncie.

Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.

Também é possível realizar denúncias pelo número 180 — Central de Atendimento à Mulher — e do Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.

Há ainda o aplicativo Direitos Humanos Brasil e através da página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos (ONDH) do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). Vítimas de violência doméstica podem fazer a denúncia em até seis meses.