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Autoras recriam foto histórica em SP e outras 11 cidades: 'Imagem de força'

Fotografia "Um Grande Dia no Harlem", feita por Art Kane, em 1958 - Art Kane
Fotografia "Um Grande Dia no Harlem", feita por Art Kane, em 1958 Imagem: Art Kane

Mariana Gonzalez

De Universa, em São Paulo

10/06/2022 04h00

Uma fotografia histórica de 1958, conhecida como "Um Grande Dia No Harlem", será recriada neste domingo, em São Paulo —mas, ao invés de retratar um grupo de músicos de jazz, quase todos homens, agora vai reunir apenas mulheres escritoras na Praça Charles Miller, onde acontece, neste final de semana, a Feira do Livro, organizada pela Associação Quatro Cinco Um e pela Maré Produções.

"É uma imagem de força, do poder de um coletivo —mulheres escritoras juntas, diversas, singulares— que diz para quem vê que, se você não está lendo e ampliando seu modo de pensar a partir do que as mulheres têm escrito, a questão está com você", fala Natalia Timerman, autora de "Copo Vazio" (ed. Todavia, 2021) e colunista de Universa.

Ela é uma das três escritoras que organizam a iniciativa, que ganhou o nome de "Um grande dia em São Paulo" —além de Natalia, também estão à frente Giovana Madalosso e Paula Carvalho.

A imagem será feita pela fotógrafa Mariana Vieira Elek no próximo domingo (12), às 11h, na Escadaria Patrícia Galvão, na praça Charles Miller, em frente ao estádio do Pacaembu. Podem participar, chegando uma hora antes, todas as mulheres que tenham publicado algum livro no Brasil, incluindo e-books digitais.

Depois que as escritoras anunciaram a iniciativa em São Paulo, mulheres de pelo menos outras dez capitais brasileiras e de Lisboa também decidiram recriar a imagem de 1958. "Aconteceu espontaneamente, com adesões rápidas de várias cidades, o que só confirma a força desse movimento de mulheres".

Momento histórico na literatura

A fotografia "Um Grande Dia No Harlem" retrata cerca de 60 músicos, quase todos homens e a maioria negros, durante a chamada era de ouro do Jazz, em Nova York, quando o ritmo surge e se firma como resistência à opressão racista.

Para as três autoras à frente de "Um Grande Dia em São Paulo", também estamos vivendo hoje, no Brasil, um momento cultural histórico: "As mulheres têm ocupado estantes e prêmios, mesas e debates como nunca antes no Brasil", falam.

"Desde os primórdios da literatura brasileira, nunca tantas mulheres foram publicadas, lidas, discutidas, ouvidas. As mulheres estão, de uma década para cá no Brasil, escrevendo e teorizando a si mesmas e ao mundo de modo massivo pela primeira vez", percebe Natalia Timerman. "O mercado está enfim percebendo que questões como maternidade e trabalho doméstico não dizem respeito apenas a elas, mas aos homens também."

Giovanna e Paula concordam, e acrescentam: "Há 20 anos, se você entrava numa livraria ou olhasse os livros da sua casa, encontraria uma ou duas mulheres entre inúmeros homens. O cenário está mudando —na verdade, estamos dizendo: 'já mudou'."