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Do Ceará a Paris: Catarina Mina, marca que valoriza o artesanato nordestino

Catarina Mina aposta na capacitação de artesãs para um negócio sustentável - Divulgação Catarina Mina
Catarina Mina aposta na capacitação de artesãs para um negócio sustentável Imagem: Divulgação Catarina Mina

Júlia Flores

De Universa, em São Paulo

26/04/2022 04h00

O ano era 2005 quando a recém-formada Celina Hissa migrou da publicidade para a moda, graças a sua paixão pelo artesanato de seu estado natal, o Ceará. Mal sabia ela que ali era apenas o começo de uma marca de roupas e acessórios femininos que conquistou não só as fashionistas, como também as passarelas internacionais: a Catarina Mina.

Era a própria Celina quem fabricava as primeiras peças de sua marca que, somente em 2010, passou a ter CNPJ próprio; hoje a Catarina Mina é famosa pelas bolsas e clutches de crochê, que já desfilaram nos principais eventos de moda do Reino Unido, dos Estados Unidos, da França, da Alemanha e da Itália.

Se no começo a marca apostava apenas na produção de roupas e acessórios, hoje a linha se estende também para a moda casa. Com uma proposta sustentável —tanto de matéria-prima quanto de proposta organizacional—, a Catarina Mina abriu os custos de produção em 2015 e desde então, reposicionou a grife dentro do mercado brasileiro com um recado: "Mais importante do que trabalhar com artesanato, é importante trabalhar com artesãs".

Universa conversou com Celina para entender a história da empresa que quer revolucionar a maneira como o consumidor encara o artesanato.

De grupo em grupo

A primeira vez que Celina criou um grupo de artesãs de crochê foi em 2010; a partir dali, ela percebeu que, unidas, as crocheteiras performavam melhor e, com isso, promoviam mais mudanças em suas comunidades.

De 2010 a 2014, ela se empenhou para formar novos grupos de artesãs (quando falamos formar, é formar mesmo, com cursos de capacitação e empreendedorismo). A primeira comunidade surgiu em Itaitinga, no interior do Ceará, com sete mulheres.

Hoje os projetos desenvolvidos por Celina já atendem mais de 370 pessoas e estão espalhados por Fortaleza, capital do Ceará, e outras regiões no interior do estado, como no distrito de Aracatiaçu, no município de Sobral.

Além da Catarina Mina, Celina também criou o "Olê Rendeiras", o "FIA oficina" e o projeto "Uru", todos com foco em desenvolver as comunidades de artesãs locais. "Uma peça de renda de bilro (especialidade do "Olê"), por exemplo, demora 20 dias para ser feita; quando essas artesãs se unem em grupo, esse prazo diminui e elas conseguem pegar mais demandas e, consequentemente, atender mais clientes, inclusive os internacionais".

Artesanato é um trabalho para ser feito em grupo, não por uma só pessoa

Celina Hissa, fundadora da Catarina Mina

Mais recentemente, as peças "must have" da designer Celina Hissa passaram a ficar disponíveis para venda no e-commerce do Magazine Luiza, por meio do projeto "Nordestesse", um coletivo de marcas e empreendimentos que valorizam a moda e a cultura do Nordeste brasileiro.

Por trás de cada peça, uma história

Toda peça da Catarina Mina vem com um QR Code anexado à etiqueta. "Se você acessar esse código, ele vai contar quem é artesã que fez a bolsa e onde ela está localizada no mapa", demonstra Celina.

De acordo com a fundadora da marca, 5% das vendas das bolsas vão diretamente para o caixa da associação de artesãs. "Já tivemos mulheres que saíram de uma situação de violência doméstica por causa dessas comunidades, o impacto é grande", comenta Celina.

Celina Hissa com uma bolsa da Catarina Mina e um kimono de bolsa de Bilro, feito pelas artesãs do projeto "Olê Rendeiras" - Divulgação Nordetesse - Divulgação Nordetesse
Celina Hissa com uma bolsa da Catarina Mina e um kimono de bolsa de Bilro, feito pelas artesãs do projeto "Olê Rendeiras"
Imagem: Divulgação Nordetesse

Para a empreendedora, é fundamental capacitar essas mulheres para que elas aprendam a parte técnica e administrativa de seus trabalhos. "Com o tempo, a gente se deu conta que a maioria das contas para quais enviávamos os salários eram dos maridos das artesãs. É parte do nosso trabalho também ensinar nossas colaboradoras a gerir e ter autonomia sobre o dinheiro", pontua.

Por essa e outras iniciativas inovadoras, a Catarina Mina venceu em 2015 o prêmio Vogue Brasil /Ecoera, em 2015, e em 2016 com o Brasil Criativo, da 3M. Para Celina, o desafio vai além de uma premiação: "Queremos que os clientes entendam que a peça é mais do que apenas um produto; cada uma delas conta —e carrega— história".

Para o futuro, Celina sonha em fazer parte de um ecossistema 100% sustentável: "O mundo ideal é aquele em que as próprias crocheteiras tenham condições de consumir o que produzem".