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'Não gosto dele': Como ajudar as amigas a sair de um relacionamento ruim

Morsa Images/Getty Images
Imagem: Morsa Images/Getty Images

Rafaela Polo

Da Redação

12/03/2022 04h00

Ah, o amor... Quantas vezes já não escutamos que ele é responsável por nos deixar cegas e topar coisas que não deveríamos? É ainda pior quando vemos uma amiga que está presa em um relacionamento roubada sem perceber. Aí vem aquela dúvida: a gente faz o quê? "Existem vários tipos de relacionamentos. Falar para uma pessoa que tem ciúme excessivo ou amor patológico, por exemplo, é bem complicado. Provavelmente ela não consegue enxergar o que você vê. A principal diferença aqui é: sua amiga está em risco?", diz Liliana Seger, doutora em psicologia pelo Instituto de Psicologia da USP.

"Se a relação estiver tomando um rumo perigoso, pode chamá-la para uma conversa e dizer que está na hora de entender melhor o que é aquilo que eles vivem. Muitas vezes a mulher pode estar com medo ou ter vergonha de se abrir", diz a psicóloga Edwiges Parra.

Tomar a atitude de deixar tudo às claras também está relacionado ao nível da amizade. Você, por exemplo, teria coragem de contar para sua amiga que viu o namorado dela com outra? Para evitar atitudes reativas, Edwiges dá outra dica: ajudar a amiga a perceber sozinha que aquele relacionamento não está fazendo bem a ela.

"Se chegarmos rotulando o comportamento, em vez de ajudar, podemos fazê-la interpretar de forma errada. Sua amiga gosta dele e pode até saber que o cara não é tão legal, mas ainda assim busca motivos para continuar", diz. Por isso, converse sobre a relação de uma maneira bem tranquila. Vale fazer perguntas como: "Como está seu relacionamento? Como você se sente junto dele? O que ele faz para te agradar que você mais gosta?", assim vai ajudá-la a chegar sozinha à conclusão de que algo não vai bem —principalmente se ouvir histórias diferentes de outras amigas.

"A paixão dura até dois anos, aí passa aquela sensação de coração acelerado ao ver a pessoa. Por isso, é necessário também esperar o momento certo para falar", diz Liliana. "Discuta o caso de uma outra pessoa, comente a história de um filme. Assim, vai conseguir perceber o quanto ela está disposta ou não a ouvir", conclui a especialista. Às vezes, na gana de ajudar, acabamos sendo muito diretas e afastamos a amiga, em vez de protegê-la da situação.

E, claro, é sempre importante lembrar que em alguns relacionamentos as duas pessoas do casal têm comportamentos controladores e desagradáveis. "Isso é uma relação de codependência. Os dois precisam se sentir vigiados para se sentir amados. Normalmente, procuramos pessoas que complementam nossas necessidades. Não é tão aleatório quanto parece", diz Liliane.

Universa conversou com duas mulheres que viram amigas viverem situações desagradáveis com os parceiros. Leia a seguir:

'Eu tinha de resgatá-la das brigas'

Bianca Furquini - Arquivo Pessoal  - Arquivo Pessoal
Bianca Furquini
Imagem: Arquivo Pessoal

"Minha amiga e o ex dela ficaram juntos por quatro anos. Desde o comecinho eu sentia que o meu santo não batia com o dele. O jeito que ele falava com ela e as informações que ela nos passava davam a sensação de que algo desagradável poderia acontecer. Na primeira vez em que eles terminaram, tiveram uma briga bem calorosa e abusiva.

Àquela altura, eles estavam juntos havia quase um ano e ela já tinha tido tempo de abrir o coração para ele sobre assuntos que a incomodavam. Então, ele usava essas fragilidades contra ela: as inseguranças em relação ao corpo, as notas da faculdade, o cabelo... Sempre que eles brigavam, passava um dia e ele já voltava pedindo desculpas, falava que era depressivo (nós não sabíamos se era algo realmente patológico), dizia que a amava, dava um bombom e ela caía no conto.

Por ser a minha melhor amiga, eu sempre acabava envolvida de alguma forma. Ele a maltratava e era eu quem a consolava. Quando ela voltava, o ódio dela tinha passado, mas o meu, não. Eu pedia para ela olhar os prós e os contras da relação, mas sempre ouvia da minha amiga que o namorado a entendia. No total, eles ficaram juntos uns quatros. Nós morávamos em repúblicas, então, quando eles brigavam na casa dele, me avisavam que o bicho estava pegando e eu ia lá resgatá-la.

Eu mesma briguei muito com ele. Dizia que ele era abusivo, que usava as fraquezas dela a favor dele. Ou ele me ignorava, ou me bloqueava ou saía andando. Após os términos, minha amiga também mudava de atitude, dizia que era uma nova mulher. Mas em duas semanas essa nova mulher tinha morrido e eles estavam juntos novamente. Para ele, eu era sempre a pessoa que atrapalhava a relação, que tinha ciúmes de vê-los juntos. Ninguém gostava dele; a mãe falava, os amigos falavam, mas só os dois estavam sempre certos. Chegamos a ficar duas semanas sem contato algum, mesmo convivendo na mesma casa e trabalhando no mesmo local. Mas acabei cedendo porque percebi que ia perdê-la. Quando estamos de fora, percebemos coisas que quem está dentro da relação não vê."

Bianca Furquini, 30 anos, produtora digital, de Ouro Preto (MG)

'Ninguém queria sair junto com o namorado dela'

Virginia Delboni - Arquivo Pessoal  - Arquivo Pessoal
Virginia Delboni
Imagem: Arquivo Pessoal

"O ex de uma amiga minha não gostava que ela saísse sem ele e não dava privacidade a ela. Ela ainda assim saía para encontrar as amigas, porque ela não era proibida, o cara só não gostava. O problema era depois arcar com a consequência de ter ido e ouvir um interrogatório: 'Com quem estava? O que estava fazendo?'. Claro que esse comportamento do parceiro dela impactava a nossa amizade, pois ninguém queria ficar perto desse namorado. Ficava um clima chato.

E ainda tinha o fato de que só podíamos ir aos locais que ele escolhesse se quiséssemos que o rolê fosse tranquilo. E como essa era a maneira de vermos a nossa amiga, nós topávamos. Eles ficaram juntos por menos de um ano. Conseguimos dar uns toques nela no decorrer da relação e ela foi acordando. Acho até que foi por isso que eles terminaram —e também pelo fato de ser uma relação recente."

Virginia Delboni, 28 anos, produtora executiva, de São Paulo (SP)