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OAB-SP promove marcha contra misoginia de Do Val; presidente pede cassação

Mariana Gonzalez

De Universa, em São Paulo

07/03/2022 12h44

A OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo) promove na tarde desta segunda-feira (7) uma marcha contra a misoginia, em protesto às falas do deputado estadual Arthur Do Val (Podemos-SP) — na última sexta-feira (4), durante viagem à Ucrânia, ele gravou um áudio dizendo que as ucranianas "são fáceis porque são pobres". "Não peguei ninguém, porque a gente não tinha tempo, mas colei em dois grupos de 'minas' e é inacreditável a facilidade", falou.

Além de reunir mulheres no Monumento às Bandeiras, que fica em frente à Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo), a OAB vai protocolar uma representação pedindo a apuração e eventual punição de Do Val, assinado pela instituição e também pelas 18 deputadas estaduais eleitas no estado. Em entrevista a Universa, a presidente da OAB-SP Patricia Vanzolini, primeira mulher a ocupar o cargo, disse que apoia a cassação do mandato de Do Val.

Patricia afirma que "o contexto em que isso foi pronunciado denota desprezo pelas mulheres, pela situação de guerra, pela miséria, além da indução quase explícita ao turismo sexual. A OAB entende que faz parte da missão da instituição enfrentar questões relativas a discriminação de gênero, à misoginia. Nós avaliamos que essa fala é incompatível com o mandato eletivo e com o decoro parlamentar. Por isso defendemos a cassação dele".

Patrícia Vanzolini disse, ainda, que não enfrentou resistência de nenhuma das deputadas das Alesp para assinar a representação contra Do Val — segundo ela, até mesmo as parlamentares mais ligadas a partidos de direita, Como Janaina Paschoal (PRTB-SP) e Valéria Bolsonaro (PRTB-SP), endossaram o documento sem fazer nenhuma ressalva.

"Há discussões que estão acima de questões ideológicas e partidárias. E essa é uma boa oportunidade para passar essa mensagem", fala Vanzolini.

Fala de Do Val ofende mulheres brasileiras

Para Patrícia, embora a fala de Arthur Do Val tenha sido direcionada a mulheres ucranianas em contexto de guerra, as afirmações afetam diretamente as mulheres brasileiras.

"É uma fala que traduz uma visão universal em relação às mulheres. A fala foi por acaso dirigida às ucranianas, mas revela suas concepções a respeito das mulheres em geral", acredita.

"Tem uma objetificação ali, uma falta de empatia completa com o contexto daquelas mulheres, que estão fugindo de uma guerra que está matando suas famílias, e compará-las a uma fila de balada, observando se elas são mais ou menos bonitas. Isso ofende as mulheres como um todo, inclusive as brasileiras, incita comportamento semelhante nos brasileiros e macula a imagem do Brasil no exterior".