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Luto na adolescência: como ajudar um jovem que perdeu um ente querido?

Adolescentes precisam do máximo de amparo possível para vivenciarem o luto - iStock
Adolescentes precisam do máximo de amparo possível para vivenciarem o luto Imagem: iStock

Ana Bardella

De Universa

18/05/2021 04h00

A morte precoce de Bruno Covas aos 41 anos interrompeu os planos de um futuro promissor e também abriu uma lacuna na vida do filho, Tomás, de 15 anos. O prefeito de São Paulo, reeleito no ano passado, convivia com um câncer em estágio metastático que teve início na cárdia — região localizada entre o estômago e o esôfago — e realizava tratamentos para conter o avanço da doença. Os dois eram bastante próximos: o garoto morava com o pai, em esquema de guarda compartilhada, esteve ao lado de Covas em momentos cruciais da eleição no ano passado e também nos dramáticos dias do agravamento do estado de saúde do político, como mostram fotos de redes sociais e inúmeros relatos.

É claro que em um momento como este a família e especialmente Tomás receberam inúmeras manifestações de solidariedade. Segundo a psicóloga Estela Lourenço, especialista em adolescência, viver o luto em meio a esta fase da vida é, de fato, delicado. "Precisamos considerar que, além da perda, eles estão lidando com transformações e inseguranças inerentes à juventude. Essa pode ser uma experiência desorganizadora, de muita dor e sofrimento", afirma.

Especialistas em saúde mental explicam como os adultos podem tornar essa fase menos dolorosa para os jovens.

Apoio da família é fundamental

A perda pode gerar sentimentos como estresse, angústia, desamparo e sensação de que a segurança está ameaçada. Nem todos, entretanto, demonstram aos mais velhos o que estão sentindo. "De imediato, muitos podem se retrair", explica Laura Romero, psicóloga clínica. Isso não quer dizer, no entanto, que devem ser deixados completamente sozinhos, em especial nos primeiros momentos. "É importante que sintam que podem contar com a família: quanto mais ajuda recebem, mais facilmente conseguem entender e lidar com as situações pelas quais estão passando."

A forma como os adultos lidam com a causa do falecimento também impacta no emocional dos adolescentes. Diferentemente das crianças, eles já possuem maturidade suficiente para compreender quando a saúde do ente querido não vai bem ou quando uma fatalidade acontece, por isso podem sentir irritação quando a família omite ou mente sobre esses fatos.

Participar ou não dos rituais?

"Tanto a criança quanto o adolescente tem o direito de saber a verdade sobre a sua história e de participar ativamente dela. Se é um desejo participar dos ritos fúnebres, essa vontade pode e deve ser realizada", aponta Danielle Ribeiro, psicóloga e psicopedagoga. Só é necessário cuidar, no entanto, para que o jovem não assuma responsabilidades para as quais ainda não está preparado, como organizar a cerimônia, tomar decisões importantes sozinho ou lidar com questões financeiras.

Qual a melhor forma de ajudar?

"Primeiro, é preciso estar disponível para escutar, apoiar e conversar de forma aberta, respondendo a dúvidas, se elas existirem. Algo que pode ser muito dolorido é sentir que seu luto não está sendo validado pelos adultos que tem ele como referência ou pelo seu ciclo de convivência", alerta Estela. Ou seja: é importante que o adolescente se sinta autorizado a falar sobre seus pensamentos e sentimentos sem ser criticado, julgado ou cobrado.

Quando procurar ajuda psicológica?

De acordo com Estela, nem toda perda significativa demanda acompanhamento psicológico, mas em alguns casos ele pode ser necessário — em especial quando os demais membros da família também foram severamente afetados pela perda. "A psicoterapia tem como objetivo prevenir possíveis complicações frente a essa experiência, auxiliar na qualidade de vida e oferecer suporte diante da realidade nova que se impôs", diz. Ou seja: se o jovem manifestar o desejo de se consultar com um psicólogo ou se família perceber que não está sendo suficiente para ampará-lo, ele pode se beneficiar do atendimento profissional.