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"Era minha única chance", diz mulher agredida que pediu ajuda em bilhete

Mulher relata agressões do marido em bilhete na matrícula de filho - Reprodução/Redes sociais
Mulher relata agressões do marido em bilhete na matrícula de filho Imagem: Reprodução/Redes sociais

Aliny Gama

Colaboração para Universa, em Maceió

13/02/2021 04h00

A mulher de 28 anos que pediu ajuda por meio de um bilhete entregue junto a documentos durante matrícula escolar do filho em Maceió contou que essa foi a única forma que ela viu para sobreviver, pois temia ser assassinada naquele dia pelo companheiro. Naquele dia, as agressões e ameaças de morte tinham se intensificado e a ela disse que sabia que não ia mais aguentar.

Em meio a muito choro e medo de não conseguir pedir ajuda, porque o marido não a deixava sozinha dentro de casa, a vítima escreveu rapidamente o bilhete com o pedido de socorro. O bilhete trazia a seguinte mensagem: "Por favor, me ajude. Estou sendo espancada. Não posso falar. Estou com hematomas na perna e meu filho foi seriamente sofrido por psicológico. Ele me bateu com o facão. Me ajude, ele não me deixa falar, me ameaça toda hora. Não consigo mais ficar calada, eu me cansei. Não me ignore."

Em conversa com Universa, ela conta que escreveu o bilhete e escondeu no meio dos papéis para serem entregues na escola do filho. Foi aí que veio a ideia de pedir ajuda durante a matrícula. O caminho foi longo. Da casa dela, localizada em um bairro da parte alta de Maceió até o Cepa Cepa (Centro Educacional de Pesquisa Aplicada) são cerca de 15km, e no trajeto, segundo ela, teve que suportar mais agressões físicas, como beliscões e apertos nos braços, e ameaça de ser morta caso contasse o que estava sofrendo.

"Pedi a Deus que me ajudasse a encontrar uma forma e escrevi no papel. Era a única chance de sair daquela situação, de sobreviver, porque ele disse que ia me matar. Eu disse que precisava fazer a matrícula do meu filho naquele dia, e ele me acompanhou, foi o caminho todo me agredindo, e eu pedindo forças porque não aguentava mais aquilo", lembra.

"Entreguei os papeis e o bilhete juntos à secretaria da escola. Ela leu, não disse nada e saiu. Eu estava angustiada e meu filho, com muito medo. Ficamos sentados aguardando a moça voltar, e quando vi já foi a polícia chegando e prendendo ele. Me senti aliviada", contou a mulher, que, por segurança, terá sua identidade preservada.

A vítima contou que ficou nervosa quando entregou o papel, temia não receber ajuda. "Eu não tinha alternativa, ele não me deixava sozinha e quebrou meu telefone. Ou me ajudavam ali na escola ou não sei o que seria de mim e do meu filho quando voltássemos. Nenhuma mulher merece passar o que sofri. Se você está nessa situação, denuncie", diz.

A servidora estadual que recebeu os documentos e o bilhete se levantou da cadeira e foi até a direção. A escola então chamou a equipe da Polícia Militar do Batalhão de Polícia Escolar, que fazia ronda ali. Em poucos minutos, o homem foi preso em flagrante. O investigado foi levado para a Central de Flagrantes da PC-AL (Polícia Civil de Alagoas).

Depois de audiência de custódia, ele foi preso em uma unidade do sistema prisional de Alagoas, onde ficará à disposição da Justiça. Na audiência de custódia, segundo a polícia, o juiz entendeu que o relato da vítima foi suficiente para reverter a prisão em flagrante em preventiva, sem prazo determinado. O inquérito policial será remetido à Delegacia da Mulher 2.

"Tenho medo do que possa acontecer quando ele sair"

A vítima conta que, no início do relacionamento, o companheiro era amoroso e cuidadoso com ela e o filho. Entretanto, crises de ciúmes começaram a interferir na relação e agressões se tornaram constantes. Há uma semana, ela conta que foi espancada por horas e sofreu uma sessão de tortura, ao ser ameaçada de morte a cada tapa que levava.

Em uma das agressões, ela disse que chamaria a polícia, foi então que o telefone dela foi quebrado. Ela nunca saía sozinha e, quando o homem ia trabalhar, a deixava trancada. Ela também foi proibida de manter contato com a família.
"Meu filho via tudo, estamos traumatizamos, mas aliviados que ele foi preso. Tenho medo do que possa acontecer quando ele sair da prisão. Quero Justiça, pois nenhuma mulher merece sofrer o que passei", afirmou.

Como o caso foi registrado na Central de Flagrantes do bairro Gruta de Lourdes, ela vai precisar ir até a Delegacia da Mulher 2 para os procedimentos burocráticos de investigação, como prestar depoimento, levar testemunhas de acusação para serem ouvidas, para então, o inquérito ser finalizado e remetido à Justiça, o que ela diz que fará nos próximos dias. "Vou esperar um tempo para organizar minha cabeça e vou. Ele já está preso, isso que importa."

A mulher afirmou que pretende recomeçar a vida e já conta com ajuda de familiares para isso. "Foram anos nesse sofrimento. Agora, quero trabalhar, estudar, ver meu filho crescer em uma casa sem violência. Já estamos nesta paz. Espero que quando ele se solte do presídio fique bem longe da gente."

Onde buscar ajuda em Maceió

Em janeiro, o Tribunal de Justiça de Alagoas fundou a Casa da Mulher Alagoana Nise da Silveira, localizada na praça Sinimbu, no centro da cidade, para atender mulheres vítimas de violência doméstica. O espaço foi inaugurado, mas ainda não funciona por completo. No mesmo local já existe o Juizado da Violência Doméstica. Devido à pandemia, os atendimentos são agendados e ocorrem de forma online.

O espaço tem um alojamento temporário, salas de atendimento psicossocial, brinquedoteca e centro de mediação e conciliação. Outros serviços voltados para proteção de vítimas de violência doméstica, como a Delegacia Especializada e a Patrulha Maria da Penha ainda não estão funcionando no local. Entretanto, a ideia é que a mulher não peregrine em busca de ajuda. Para informações: (82) 98833-2914.