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#AcnePositivity: movimento de autoaceitação de espinhas ganha força na web

 #AcnePositivity já conta com mais de 88 mil publicações no Instagram - Reprodução/ Instagram
#AcnePositivity já conta com mais de 88 mil publicações no Instagram Imagem: Reprodução/ Instagram

Bárbara dos Anjos Lima e Bia Viana

De Universa

05/08/2020 04h00

"Postar uma foto com acne visível não deveria ser um grande problema", afirma a influenciadora Sofia Grahn, dona do @isotretinoinwiths, que em sua descrição no Instagram diz que tem a meta de "normalizar a acne uma selfie por fez". Ela é uma das pessoas que tem fortalecido o movimento #AcnePositivity, hashtag que já conta com mais de 89 mil publicações pelo mundo e se tornou uma campanha viral pela autoestima de quem sofre com os rostos cheios de espinhas, mesmo depois da adolescência.

Assim como Sofia, milhares de pessoas vem usando o Instagram para compartilhar fotos sem filtros nem maquiagem, mostrando sua verdadeira pele,como forma de se aceitar e lidar com a questão. Entretanto, por mais empoderador que seja, o movimento é também uma fonte de preocupação para especialistas.

Posting a picture with visible acne should not be a big deal. Showing up in the real world without covering up your skin condition should not be a big deal.? ? I remember the times when I would notice people staring at my skin. One time it was at the gym, I was walking on the treadmill. By this time my skin was at the hight of severity, there was no way to cover it up so I was forced to go without makeup.? ? I saw this teenager on the treadmill looking right at me. When you notice someone observing your skin condition a whirlwind of emotions fills your body. But for me shame has always been the most prominent one. You feel exposed, ashamed and most of the times I just want to remove myself from the situation. It takes a lot of mental energy to try to navigate what approach you should have to someone staring.? ? This one particular time I had it in me to look up and meet their eyes. As we looked at each other I think I saw some level of embarrassment in the person next to me and I decided to just smile gently and then returned to my browsing my playlist as I walked on.? ? I used to hold onto a lot of resentment towards people staring at my acne flares. As I?ve tapped into this further I?ve started to let go of that resentment. More so I try to remember that we live in an airbrushed reality. The ways that we?ve come to edit our lives and appearance has crept its way into our everyday lives in the most sly way. In the matter of a few seconds you can blur your skin texture and your acne flares can become less visible via a filter on Snapchat.? ? Even if it makes me uncomfortable, I can?t blame anyone for being caught off guard actually seeing a version of real skin in reality when so much of our reality online has been warped into a airbrushed version. I don?t blame individuals, I blame structures. ? ? So maybe it is a big statement to post a picture of your acne, it shouldn?t have to be, but it is. . #normalizeacne #acnepositivity #effyourbeautystandards

Uma publicação compartilhada por SOFIA GRAHN?? (@isotretinoinwiths) em

A jornalista Juliana Duarte, 26 anos, de Praia Grande (SP) disse para Universa que o movimento ajuda na aceitação de um problema com o qual convive há muitos anos. "Eu sempre tive espinhas e pra mim sempre foi um processo muito difícil de aceitar. Fiquei sabendo do movimento nesse processo de aceitação completa, não só de pele, mas também do meu corpo, meu cabelo e tudo mais. Sobre a pele, entendi que estava tudo bem gostar de maquiagem e não ficar o dia inteiro com a cara rebocada, passando base, corretivo. Daí veio aceitar meu rosto com as espinhas que tenho". Ela ainda conta que postou a foto num dia que estava mal e compartilhar a imagem e ver a recepção positiva das pessoas melhorou seu astral.

Esta é a minha pele hoje. Um misto de período menstrual, má alimentação, ansiedade e auto sabotagem. Dizem que nossa pele reflete o que acontece dentro da gente e, de certa forma, até concordo.? ? Isso ficou muito óbvio pra mim quando percebi que sempre cutucava as espinhas antes de um momento "importante". Era totalmente inconsciente, juro. Apenas uma forma da minha própria mente me manipular e auto sabotar.? ? Porque ela sabe que eu iria me sentir feia com o rosto todo marcado. Que seria o suficiente pra me paralisar.? ? Que eu sentiria vergonha de mim por ter espinhas e manchinhas.? ? E é muito f0d@ entender como tudo está conectado. Mas, ainda pior, é perceber como algo tão "pequeno" (em tamanho, não em significado) como alguns pontinhos na cara tem tanto poder de nos machucar.? ? Minha pele não me define - e fico muito feliz de ter pessoas como a @adultaacne pra me lembrar disso. Eu sou muito mais que minhas cicatrizes. Sou muito mais que uma pele. Sou muito mais que um corpo.? ? Sou muito mais que um padrão de beleza imposto.? ? E eu PRECISO entender isso. NÓS precisamos entender isso. Porque somos capazes de qualquer coisa.? ? Nada deveria nos deter - nem nós mesmas.? ? Somos lindas - com ou sem acne, magras, gordas, ou seja lá como for. Somos capazes. Somos incríveis.? ? Somos mais do que tentam nos fazer ser.? ? Por isso, neste dia do amigo, eu quero te propor uma coisa: faça as pazes com a sua pessoa. Faça as pazes com você mesma.? ? Permita se perdoar. Por tudo. Pelas cicatrizes, pelas negações, pelas frustrações, pelas sabotagens. Por tudo mesmo.? ? Nossa relação com o corpo ou com a pele não é linear. E tá tudo bem. Mas, quando as coisas apertarem por aí, lembre-se que você não precisa estar dentro de um padrão pra ser linda.? ? Você pode ser seu próprio padrão de beleza. E tá tudo bem, sabe?? ? Porque, afinal, você é única. E quão incrivelmente maravilhoso é acordar sabendo que ninguém, ninguém mesmo no mundo todinho, é como você? Não se deixe esquecer disso - nem duvidar do quão capaz, incrível e necessária é ??? ? #pelereal #aceitacaodocorpo #bodypositive #acneadulta #cuidadoscomapele #juliedebatom #autoaceitacao #pelelivre #corpolivre

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Já a designer Thaís Pinheiro, 22 anos, Pelotas (RS) vinha sofrendo com os comentários negativos. "Desde que abandonei os contraceptivos hormonais, as espinhas passaram a fazer parte da vida, e isso me frustrava muito. Me sentia feia mesmo, sabe? Busquei ajuda dermatológica, mas é uma condição com a qual preciso conviver". Com o movimento #AcnePositivity, encontrou o conforto que precisava. "Descobri um mundo inteiro de posts de outras pessoas que passavam pelo mesmo que eu. Segui essa e outras hashtags e meu feed hoje se parece mais comigo, e isso não tem preço. Hoje sou muito mais amiga da minha pele, respeitando e cuidando dela, e tenho recebido comentários positivos de pessoas na mesma situação", afirma.

Para a dermatologista Fernanda Nichelle, Clínica MAC - Medicine Aesthetic Clinic, de Porto Alegre, o movimento é válido, pois enfrenta a falsa promessa de beleza perfeita que é difundida pelas redes sociais. "Beleza virtual não é uma beleza verdadeira. Considero positiva a questão de aceitação do próprio corpo. Mas enaltecer uma doença e mantê-la para se autoafirmar pode ser muito perigoso".

A especialista lembra que a acne é, acima de tudo, uma doença inflamatória, e precisa ser tratada com seriedade. "As pessoas não devem ter vergonha de postar nas redes sociais, mas quando se trata de doenças inflamatórias, temos que buscar um médico e um tratamento apropriado".

Espinhas podem ser sinal de alerta

Mesmo para quem não se importa muito com a parte estética, é importante prestar atenção no desenvolvimento da acne. As espinhas, que são mais comuns na adolescência, podem ser um indicativo de doenças quando atingem pessoas acima de 25 anos.

"As acnes surgem pelas mais diversas situações, incluindo alterações hormonais, evidenciando por exemplo uma síndrome de ovários policísticos. Também podem indicar alguma alteração endócrina ou suprarrenal, então é necessário investigar". Esse diagnóstico não é feito apenas por dermatologistas, podendo exigir exames ou indicações para outros médicos, como endocrinologistas ou ginecologistas.

Além de questões fisiológicas, Fernanda relembra a influência de fatores externos na formação acneica. "Fatores externos como uso de produtos mais oleosos, como cremes e maquiagens mais comedogênicas, também podem causar acne". Por conta do uso de maquiagem, as mulheres costumam ser as principais vítimas da acne adulta. "Muitas vezes, a paciente já está com a pele oleosa e alguma tendência a esse processo inflamatório, o que acaba agravando seu quadro de acne", completa.