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Mulheres protagonizam um mundo em evolução


Professora sertaneja é premiada por incentivar mulheres nas ciências exatas

Professora Cristiane Agra Pimentel - Arquivo Pessoal
Professora Cristiane Agra Pimentel Imagem: Arquivo Pessoal

Carlos Madeiro

Colaboração para Universa

17/07/2020 04h00

Por 12 anos de sua vida, a engenheira de materiais Cristiane Agra Pimentel, 43, atuou em indústrias metalúrgicas em diversos estados e sentiu na pele as dificuldades que uma mulher enfrenta no setor industrial. "Fui a primeira mulher a atuar como engenheira de processos em uma indústria de fabricação de alumínio primário, em São Luís, em 2000. Ao acabar minha graduação, tive que passar por algumas situações que, se tivesse tido apoio e orientação durante a graduação, não teria passado", explica.

Ela deixou o emprego na área industrial em 2012 para se tornar professora da Centro de Ciência e Tecnologia em Energia e Sustentabilidade da UFRB (Universidade Federal do Recôncavo Baiano). Lá, usou sua experiência pessoal e começou a se dedicar a incentivar mulheres na área das ciências exatas. Sua luta pela igualdade e respeito a mulheres no sertão da Bahia foi reconhecida: ela venceuo prêmio de Ensino de Graduação 2021 da IEEE (Electrical and Electronic Engineers, ou Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônico), uma das maiores honrarias da área no mundo.

O IEEE foi criado em 1884, nos EUA, e é uma entidade dedicada para o avanço da engenharia nos campos da eletricidade, eletrônica e computação. Hoje, mais de 400 mil associados atuam cerca de 150 países do mundo. O prêmio vencido por Cristiane existe há 30 anos.

wie - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Garotas da equipe da WIE UFRB
Imagem: Arquivo Pessoal

Várias ações no sertão

O reconhecimento veio por uma série de ações dela no interior do Nordeste. "O prêmio não veio por um projeto em si. A atuação nossa é composta de várias formas dentro da universidade e da sociedade. A gente atua para permitir uma igualdade, uma melhor atuação dessas meninas na área profissional voltada a área de exatas", conta.

Cristiane conduz hoje um projeto que trabalha no incentivo de mulheres na área de engenharia. Dentro do IEEE, ela atua em um grupo com estudantes e profissionais, que busca trabalhar a parte técnica, envolvendo conhecimento da área de exatas e de engenharia.

"O grupo de afinidade é chamado 'Women in Engineering', que incentiva mulheres na área de engenharia. Não só sou a coordenadora, como orientadora do projeto aqui na UFRB e também eu faço parte da direção do grupo de afinidade de profissionais no Nordeste", explica.

Além dessa ação, um outro projeto conduzido pela professora é o Lean Healthcare, que hoje atua no Hospital da Mulher de Feira de Santana (BA). "Nesse projeto a gente trabalha para mudar a gestão relacionada à parte hospitalar, para que possa ter um menor número de perdas, menor custo e conseguir ter um melhor atendimento da área de saúde pública. Esse projeto é totalmente voltado a hospitais SUS e composto apenas por mulheres. E também é para poder incentivar meninas na área de pesquisa", afirma.

Todas as jovens e mulheres que integram os projetos com Cristiane fazem por amor. "São todas voluntárias. É um trabalho realmente por ideologia, para uma mudança de comportamento da sociedade, através de ações que a gente possa estar incentivando essas meninas na área de engenharia", diz.

A atuação dela, entretanto não se restringe apenas a universitárias. O projeto "Princesas da Tecnologia" (o nome foi escolhido pelo apelido de Feira de Santana: Princesa do Sertão) tenta buscar interesses das jovens ainda na escola.
O projeto leva alunas do terceiro ano do ensino médio para conhecer a universidade, fazer visita técnica, conversar com professoras da área de atuação de engenharia, além de também ter levado projetos desenvolvidos dentro da graduação na UFRB para que essas alunas conhecessem.

"Tentamos abarcar não só as meninas da área de graduação, mas também as de ensino médio, para que possamos iniciar um processo de formação, ainda na escola."

Meninas nas engenharias

Com o apoio dos projetos, a professora conta que tem tido um resultado positivo. "A gente tem vários exemplos de meninas se destacando na área de exatas. Temos um grupo de elétrica e potência que está concorrendo a um dos três melhores prêmios de desenvolvimento de energia sustentável, por exemplo. Elas desenvolveram um poste para energia solar com a utilização de materiais reciclados para levar energia a comunidades que não tinham ainda energia elétrica. Hoje temos meninas que atuam nas indústrias de grande porte da região", conta.

Do mesmo IEEE, uma aluna da UFRB também foi contemplada com uma menção honrosa. É a graduanda em engenharia mecânica Ana Hellen Carvalho, 24, primeira estudante brasileira a receber a honraria do instituto.

"Entre 2018 e 2019, fui representante estudantil dos grupos de afinidade da WIE (Women In Engineering, ou mulheres na engenharia) da seção Nordeste. Nesse período orientei e colaborei com o desenvolvimento de 11 grupos de mulheres na engenharia dentro da nossa região", conta.

Os grupos coordenados por ela estão não só na Bahia, mas em várias universidades do Nordeste. "Com isso consegui causar um impacto muito positivo e veio essa condecoração. Hoje atuo no ramo estudantil da IEEE na UFRB e na equipe de ciências aeroespaciais da UFRB", completa.