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Enfermeira perdeu a mãe com suspeita de covid: "Foi três vezes ao hospital"

A enfermeira Grazielle Barbosa com a mãe, Edneia - Reprodução/Facebook
A enfermeira Grazielle Barbosa com a mãe, Edneia Imagem: Reprodução/Facebook

Luiza Souto

De Universa

11/04/2020 04h00

"Como a vida é injusta. Troquei estar com minha mãezinha quando ela me chamava aos domingos para almoçar e dizia estar com saudades para estar trabalhando direto, salvando outras vidas. E o que eu tenho em troca? A perda da minha mãezinha."

O relato foi escrito pela enfermeira Grazielle Barbosa, 27 anos, na sua rede social, na última quarta-feira (7), dia que a mãe, Edneia, de 51, morreu. A suspeita é a covid-19. Ela ainda aguarda o resultado dos exames, mas, mesmo assim, o corpo da mãe foi enterrado com o caixão lacrado, sem velório, em São Paulo, onde a família vive.

"Essa doença ingrata te separou de mim. Essa doença ingrata não me deixa nem me despedir de você pela última vez. Pra que ser enfermeira se não pude salvar sua vida?", ela lamenta em seu texto.

Grazielle trabalha numa unidade hospitalar e em ambulância, e conta a Universa que toda noite tem transferido de três a quatro pacientes com a covid-19. Por causa da profissão, e por morar sozinha, ela estava evitando visitar a mãe.

Edneia não trabalhava, e morava com o marido e dois filhos. Grazielle diz que a mãe saía de casa apenas quando precisava ir ao mercado, e por isso não sabe como pode ter contraído a doença.

Apresentando sintomas parecidos com os da covid-19, Edneia foi três vezes ao hospital, e em todas as ocasiões mandaram-na para casa, sob a justificativa de que era apenas uma gripe. Edneia tinha cardiopatia.

"Não fizeram nenhum exame. Ela pediu, e disseram que não era necessário, pois não estava tendo febre", relata Grazielle.

Na quarta-feira da última semana (01), porém, a saturação arterial de oxigênio estava a 88%. E, de volta ao hospital, Edneia fez tomografia e exame para verificar se fora acometida pelo coronavírus, mas o resultado do teste ainda não saiu. Mesmo assim, Edneia foi liberada. Em casa, ela passou mal, até a irmã de Grazielle chamá-la no dia seguinte para socorrê-la: a saturação estava em 77%. Ela foi entubada, mas não resistiu.

"Não deixaram fazer velório. O caixão foi lacrado, levado direto para o enterro. Só estiveram presentes eu e meus irmãos. Foi a pior dor da minha vida. Ela não merecia isso", lamenta Grazielle.

Sem ter ainda o exame comprovando de que a mãe, de fato, morreu vítima do coronavírus, Grazielle alerta: "Que todos tenham consciência e fiquem em casa, pois nós, da área da saúde, temos uma família e desejamos revê-la. Não desejo essa dor que estou sentindo a ninguém".