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Aliar nudez a empoderamento é um "equívoco", defende Ana Cañas

"A nudez é uma conquista. A palavra "empoderamento" pressupõe mudanças nas estruturas de poder", explicou a cantora - Reprodução/Instagram
"A nudez é uma conquista. A palavra 'empoderamento' pressupõe mudanças nas estruturas de poder", explicou a cantora Imagem: Reprodução/Instagram

De Universa, em São Paulo

17/01/2020 17h27

A cantora Ana Cañas voltou ao Instagram para comentar a repercussão de uma postagem feita ontem em seu perfil. Ana explicou não ser contra a nudez, mas defendeu que aliá-la ao empoderamento é um "equívoco".

"A nudez é uma conquista, uma ferramenta de autoaceitação e uma dialética com a própria imagem", escreveu a cantora. "Empoderamento é outro rolê, pois a luta é coletiva (vai além do espectro da individualidade) e a palavra 'empoderamento' pressupõe mudanças nas estruturas de poder. O equívoco é aliar as duas coisas."

A publicação de ontem fazia referência a uma foto nua que Ana publicou em 2018. Na legenda, a cantora lembrou que recebeu xingamentos e elogios pela atitude e que aprendeu muito desde então.

"De lá para cá, aprendi muita coisa. A começar pelo entendimento de que nudez não é empoderamento. O movimento feminista define o empoderamento real como a mudança nas estruturas de decisão e poder", escreveu Ana.

E completou: "E se todas nós tirássemos as roupas, os homens ainda continuariam em suas posições de privilégios. Fato. Minha bunda não vai derrubar o patriarcado. Não mesmo. E aliar a imagem com a legenda foi realmente um erro".

um ano e meio atrás fiz um post com uma foto da minha bunda exposta e escrevi na legenda "foda-se o patriarcado". foi uma loucura. um monte de gente me escreveu. agressões e xingamentos. elogios e apoio. de lá pra cá, aprendi muita coisa. a começar pelo entendimento de que nudez não é empoderamento. o movimento feminista define o empoderamento real como a mudança nas estruturas de decisão e poder. e se todas nós tirássemos as roupas, os homens ainda continuariam em suas posições de privilégios. fato. minha bunda não vai derrubar o patriarcado. não mesmo. e aliar a imagem com a legenda foi realmente um erro. ao mesmo tempo, vibrava com o fato das mulheres postarem fotos de seus corpos (nús ou não) no movimento de auto-aceitação e despadronização dos corpos. outro erro meu, pois sou uma mina branca e com um corpo padrão (aí entram a intersecção e a nudez política dos corpos preteridos). de lá pra cá, também aprendi um bocado sobre o body positive, a gordofobia, a pressão estética, o antirracismo e outras coisas. precisei expôr minha ignorância para aprender e evoluir. ninguém sabe tudo e a desconstrução é diária. vejo hoje muitas mulheres postando fotos de suas rabas nas redes e acho válido, de verdade - entendendo, hoje, que isso não é empoderamento. eu mesma tenho meus momentos bundísticos e também posto. e tudo certo. tudo divino maravilhoso. mesmo que a gente ainda não possa andar nas ruas com a roupa que bem desejarmos sem sofrer assédio ou violência (direito esse que é concedido aos homens), nós lutamos também por isso. eu sinto que essa ainda é uma questão que confunde muitas mulheres. como eu sempre acreditei no diálogo como exercício fundamental para evolução e aprendizado e no exercício humilde de tentar fomentar alguma reflexão sobre o feminismo, pergunto: e aí, mânas e minos desconstruídos, o que vocês acham sobre isso? vamos juntxs (juntes). fazendo a revolução e aprendendo, sempre 💜 + + + desenho da @saritts.s

Uma publicação compartilhada por Ana Cañas (@ana_canas) em