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Casamento: por que o primeiro ano é tão difícil?

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Heloísa Noronha

Colaboração para Universa

16/01/2020 04h00

Por mais que o casal de namorados se conheça bem, as coisas mudam bastante quando decidem casar, morar sob o mesmo teto e passar a dividir o dia a dia com todos os seus encantos e dramas. É uma prova de fogo até mesmo para o mais apaixonado dos pares.

O primeiro ano de casamento costuma ser complicado para boa parte dos pombinhos porque, nesse período, segundo a psicóloga Claudia Melo, do Rio de Janeiro (RJ), a dupla está fazendo uma espécie de "reconhecimento".

"É uma etapa de extrema adaptação de hábitos. Um passa a entender melhor qual horário e como ou outro prefere acordar, dormir e se alimentar, por exemplo, além de entender quando o par prefere ficar em silêncio. Relacionamento envolve respeito e quase sempre um dos dois é mais egoísta que o outro. Depois que se casam, descobrem que casamento é sinônimo de abrir mão de certas coisas, dividir, estabelecer regras e metas", comenta Claudia.

De acordo com Joselene L. Alvim, psicóloga clínica de Presidente Prudente (SP) e especialista em Neuropsicologia pelo setor de Neurologia do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), em uma relação a dois, as pessoas têm percepções e expectativas diferentes e que, infelizmente, nem sempre são compartilhadas.

"Um espera que o outro tenha determinadas condutas em relação a projetos de vida a dois que, na maioria das vezes, não acontecem", diz. Isso sem contar, obviamente, as manias...

O pior é que, por ilusão, inexperiência ou idealização, alguns casais consideram que as diferenças serão amenizadas depois do casamento, algo que dificilmente acontece. Os conflitos acabam sendo inevitáveis.

"Vale lembrar que alguns casais que iniciam a vida conjugal cheios de dívidas, seja por conta da festa de casamento ou porque compraram algum imóvel costumam enfrentar mais problemas. A falta de dinheiro, principalmente para o lazer, acaba gerando muitas discussões", observa o psicólogo Yuri Busin, diretor do CASME (Centro de Atenção à Saúde Mental Equilíbrio), em São Paulo (SP).

Com tanto stress, não é de se estranhar que tantos homens e mulheres passem a viver num clima de guerra constante e que acabem optando pela separação, em vez de se unirem para superar os conflitos. Para que a harmonia seja estabelecida, algumas sugestões podem ser colocadas em prática logo no primeiro dia de lua-de-mel. Confira:

Aposte no diálogo franco e objetivo

"Se os dois souberem criar um momento de diálogo profundo e livre de julgamento, é possível entender melhor como funcionam e, assim, trabalhar a relação para que ela flua de um jeito leve. Conversar permite que ambos entendam os eventuais pontos cegos e, assim, é possível evitar alguma ruptura", diz Eduardo Rocha, especialista em PNL e graduando em Psicologia, de Brasília (DF).

Não esconda seus incômodos

É preciso que ambos verbalizem o que incomoda no outro e avaliem até que ponto é possível mudar. "Porém, é fundamental que, antes de tudo, cada um faça uma análise realista sobre tais incômodos e observe se não está ultrapassando a linha divisória do respeito pela individualidade do outro. Toda convivência requer concessões e tolerância para o bem-estar comum. É preciso que ambos tenham tal clareza", pondera Joselene.

Conserve a serenidade diante dos conflitos

No momento de uma discussão, é importante ter paciência para resolver a questão e entender que isso é mais uma etapa pela qual o casal precisa passar. Desconstrua os muros para dissolver o problema. Segundo Claudia, o casal pode até tentar criar regras do tipo "Não vamos sair do sofá sem resolver o problema", "Não vamos deixar de nos falar por causa dos problemas" ou "Não vamos trazer ninguém para o nosso problema".

Tente lembrar das boas experiências que tiveram

Crie "âncoras" que resgatem as experiências mais marcantes que vocês tiveram. Isso reforça sentimentos e sensações que vocês viveram, permitindo que o uso do recurso reforce o vínculo com o par", diz Eduardo.

Estabeleça regras de organização

Cada um traz um jeito próprio, muitas vezes aprendido na família de origem, de guardar mantimentos ou conservar os livros na estante, por exemplo. Então, um não deve cair na armadilha de achar que seu modo habitual será aceito pelo outro. O melhor é que troquem ideias e decidam, juntos, como estruturar as coisas e, óbvio, dividir as tarefas domésticas.

Converse sobre as finanças

"Dinheiro pode gerar bastante briga entre o casal. Afinal, o dinheiro que antes era individual agora é da família. Existem diversas formas de administração financeira do casal, desde 'tudo é nosso' até 'cada um paga determinadas contas'. O casal deve combinar como cada um se adapta melhor logo no primeiro mês, para evitar problemas e cobranças mais para a frente", aponta Yuri.

Entenda que a adaptação é constante

Na verdade, é para toda a vida. Filhos, novos empregos, necessidades urgentes, doenças e o próprio envelhecimento são fatores que levam os casais a irem se ajustando e reavaliando a relação e a estabelecerem combinados diferentes ao longo dos anos. Para isso dar certo, o diálogo precisa ser um grande aliado do casamento.