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Após perder a mãe para câncer, ela treina voluntários que ajudam pacientes

Na abertura da campanha do Outubro Rosa, na Alesp: ajuda continua - Divulgação
Na abertura da campanha do Outubro Rosa, na Alesp: ajuda continua Imagem: Divulgação

Paulo Gratão

Colaboração com Universa

10/10/2019 04h00

Desde o ano passado, a consultora de comunicação Clarísia Ramos, 49, assumiu a presidência da União e Apoio no Combate ao Câncer de Mama (Unaccam), iniciativa criada por sua mãe, Ermantina, há quase duas décadas.

Ao longo de 18 anos, cerca de 1800 voluntários e profissionais da saúde já foram formados pelos cursos da Unaccam, que acontecem anualmente nas dependências da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). O objetivo é fazer com as pessoas saibam como lidar com pacientes diagnosticados com câncer de mama. A ONG recebe, ainda, doações de próteses mamárias e exames de mamografia. "As pessoas voluntárias são, principalmente, pacientes que passaram pelo processo e hoje estão engajadas na causa, ou algum parente que tem uma pessoa com câncer na família e quer conhecer um pouco mais", explica.

O começo de tudo

Ainda na infância, a mãe de Clarísia, Ermatina viu a mãe falecer com um câncer no fígado e no estômago. O trauma a fez prometer a si mesma que um dia ajudaria as pessoas a passarem por aquele momento difícil. Ela cresceu, tornou-se enfermeira e voluntária no Hospital do Câncer, em São Paulo.

Em uma das visitas, ela ouviu uma profissional explicar para uma paciente sobre tumor mamário, mas sem nenhuma sensibilidade. Ela decidiu que criaria uma forma de ajudar a atenuar o sofrimento de pacientes diagnosticados e familiares. Com isso, estruturou uma capacitação para ensinar profissionais e voluntários a lidarem com o diagnóstico e o estímulo à descoberta precoce. Assim nasceu a Unaccam.

Clarísia esteve ao lado da mãe durante os primeiros anos de atividade da entidade, principalmente na parte de comunicação da ONG. Posteriormente, se tornou a representante internacional quando a Unaccam foi selecionada para participar de um intercâmbio em cidades dos Estados Unidos com outras 14 instituições.

Um novo começo

Quando Ermantina recebeu o diagnóstico do próprio câncer de pulmão, Clarísia passou a acompanhar mais de perto as atividades da ONG. Ela se lembra que quando sua mãe soube do diagnóstico, estavam para terminar a 21ª turma, e chegou a dizer "podemos parar por aqui", dando a entender que as ações não seriam continuadas sem sua presença.

Clarísia Ramos assumiu a Unaccam após o falecimento da mãe, em 2018 - Divulgação - Divulgação
Clarísia Ramos assumiu a Unaccam após o falecimento da mãe, em 2018
Imagem: Divulgação

O tratamento de Ermantina durou pouco mais de dois anos. Clarísia foi, pouco a pouco, assumindo mais tarefas e decidiu que não deixaria o legado se perder. "Já no segundo ano doente, ela não estava fazendo a quimioterapia. Chegou a participar algumas vezes do curso, foi de cadeira de rodas. Realmente ela achava que o curso deveria parar, pensando em não dar trabalho a ninguém, era o sonho dela e já havia feito o seu papel", relembra.

Menos de um mês depois do falecimento de Ermantina, Clarísia decidiu continuar o trabalho da mãe e deu início a mais um curso. "O legado é lindo, a causa é importante, e eu não podia deixar com que esse projeto acabasse. Depois que ela faleceu, eu abracei a causa por ela e por todos, era como se ela estivesse presente em nossas vidas, como se a alma dela estivesse em todas nós".

Legado

Atualmente, o plano é permanecer com os cursos regulares, no primeiro semestre, e iniciar especializações ao longo do ano. Clarísia explica que para a Unaccam e outras entidades ligadas ao câncer de mama, o ano começa em outubro, com o lançamento da Campanha Outubro Rosa. É nesse período que os temas de conscientização para o próximo ano são lançados.

Para nortear as ações da entidade, ela procura levar em conta os ensinamentos de sua mãe. "Uma das frases que ela sempre dizia acabou se tornando um norte para nós: quem procura acha, e quem acha, cura".

Futuro

Clarísia explica que tem analisado pesquisas de mercado para entender o que está acontecendo no mundo do diagnóstico precoce. A Unaccam está desenvolvendo um projeto para apresentar à Prefeitura de São Paulo para capacitar médicos e profissionais de saúde a identificarem de forma mais assertiva os sintomas e indícios da doença. Hoje, segundo ela, muitos médicos dizem que "não é nada" e a pessoa volta para casa sem o devido encaminhamento. Isso, além de diminuir as chances de cura, custa mais caro para os sistemas de saúde. O objetivo é que as mulheres passem a ter o diagnóstico em, no máximo, 30 dias.

Ela diz que existem muitos cursos à distância sobre como tratar essas questões, mas que não vê a mesma eficácia. "Quando falamos de ser humano, falamos de abraço, de carinho. Esse curso presencial ainda leva o amor mais perto para o voluntário, para o contato com o paciente, é um meio de humanizar a informação".