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Projeto oferece aulas de dança para mulheres que têm câncer no RS

Projeto criado pela psicóloga Cristina Melnik leva dança a mulheres que vivem com câncer - Divulgação
Projeto criado pela psicóloga Cristina Melnik leva dança a mulheres que vivem com câncer Imagem: Divulgação

Roseane Santos

Colaboração com Universa

28/09/2019 04h00

A médica Geisha Barbosa Moreira, 73 anos, sofreu com um câncer de mama há 13 anos. "Todos sabem como é difícil enfrentar um tratamento oncológico. Em 2014, encontrei uma ajuda extra para resgatar minha autoestima. Conheci uma professora que me encaminhou para um projeto de aulas de dança e isso me ajudou muito. Eu aprendi que apesar da doença, contamos sempre com a oportunidade de recuperar a alegria de viver. Dançar parecia impossível para mim", confessa.

Pensando em pessoas como Geisha, a psicóloga Cristina Melnik, 33 anos, decidiu criar a OncoDance, uma oficina de dança gratuita para mulheres que têm ou tiveram qualquer tipo de câncer. Cristina é psicóloga e mestre em Ciências Médicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), licenciada em Dança e fez especialização em Dançaterapia e Oncologia.

"A OncoDance é um projeto que surgiu depois que vi resultados positivos de pesquisas científicas [sobre câncer e dança]. As aulas começaram em outubro de 2014 e continuam até hoje. O trabalho é 100% voluntário", explica. As aulas acontecem uma vez por semana e o grupo varia entre dez e quinze alunas. Com recursos próprios, a psicóloga alugou um espaço na cidade de Porto Alegre. A sala possui espelhos, som, colchonetes, banheiro e entrada com acessibilidade.

Cris conta que as participantes citam muitos benefícios depois que começaram a frequentar as aulas, tanto na parte física como na emocional. "Elas falam que a dança ameniza a dor e colabora com a expansão do movimento, além de ajudar na volta para a vida social, porque muitas que passam por essa situação ficam isoladas. Nunca me esqueço de uma aluna me contando que quando as pessoas ficavam sabendo do seu diagnóstico de câncer, olhavam para ela com pena, e isso contribuía para a vitimização. Mas quando ela entrou para o grupo, o olhar passou a ser de admiração, pela forma de enfrentar a doença", fala.

Os movimentos são adaptados às necessidades e potencialidades de cada uma, já que o câncer e seu tratamento trazem limitações, mas a dança permite novas formas de lidar com o corpo. "Podemos pensar no exemplo de uma mulher que fez mastectomia e por hora não pode levantar os braços. Ela pode tornar seus movimentos mais delicados e amplos e ainda trabalhar suas possibilidades, sem a obrigatoriedade ou a pressão por determinado resultado", diz a professora.

Luta e progressos

Mesmo com um sorriso no rosto e uma visão otimista, Cris conta que passou momentos difíceis nos últimos anos. Um deles foi que sua mãe foi diagnosticada com câncer depois que ela já tinha iniciado o projeto. "Eu estive um tanto ausente das atividades em face de cinco mortes na minha família. Meu pai ficou em estado vegetativo e morreu, meu tio se matou, minha mãe quase faleceu. Junto a isso, tive gestação de risco. Trabalhava em dois lugares. Tive que tratar destas questões. Agora está tudo se acalmando e estou me movimentando para retomar meu ritmo. Mas durante este período, mantive a OncoDance e nunca pensei em desistir.", desabafa.

Todos os custos do projeto são por conta dela. Quando uma aluna passa por dificuldades e não pode comprar o figurino de dança, outras da turma fazem uma espécie de "vaquinha" para apoiar a colega. Só que nada é imposto e nenhuma mensalidade cobrada. "Com a ajuda da minha mãe e do meu irmão, adquiri dois carros de cor rosa — um fusca e um vectra — que foram adesivados para divulgação da oficina. Realizamos intervenções, palestras e apresentações em eventos de diferentes locais no meio artístico e na área da saúde.", explica.

Se depender de Cris, o público infantil também será beneficiado. "Estamos nos planejando para realizar atividades de dança com pacientes da Oncopediatria, utilizando o lúdico através de personagens, princesas, super-heróis em movimento", adianta. As apresentações duram cerca de quatro minutos e elas costumam se apresentar, em média, quinze vezes por ano para pessoas que também passam ou passaram por um câncer.

Cristina fala que durante os preparativos, o cuidado com a maquiagem e o figurino faz com que as participantes voltem o olhar para si. "O aplauso do público e o reconhecimento são fortalecedores. Mostrar o trabalho é despertar a coragem naquela pessoa que assiste", comenta.