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Blogueira de baixa renda: Nathaly é pobre e ensina minimalismo no Youtube

Nathaly Dias mora no Morro do Banco, no Rio de Janeiro (RJ), e entrou em um estilo de vida minimalista - Reprodução/Instagram
Nathaly Dias mora no Morro do Banco, no Rio de Janeiro (RJ), e entrou em um estilo de vida minimalista Imagem: Reprodução/Instagram

Nathália Geraldo

De Universa

12/08/2019 04h00

Moradora do Morro do Banco, na Zona Oeste do Rio de Janeiro (RJ), a youtuber e instagrammer Nathaly Dias, de 26 anos, tem uma missão na vida: transformar a vivência do pobre, ou dos "baixa-rendinhas", como chama seus seguidores, em uma experiência minimalista -- ou, como prefere definir, essencialista. "É preciso viver com o essencial. Se a gente que é pobre entendesse o quanto pode ser impactante e bom esse estilo de vida, viveria mais feliz", afirma, em entrevista para Universa.

Sem querer comparar, mas, como ela mesma liberou a referência, Nathaly é a "Marie Kondo da Baixa Renda". A guru japonesa da arrumação é uma referência mundial do minimalismo -- uma corrente estética, derivada em estilo de vida, que prega eliminar supérfluos e ter o mínimo de roupas e objetos.

A ideia se popularizou no mundo inteiro depois de uma série de Kondo na Netflix, mas, para alguns especialistas, o 'copia e cola' do método não faz muito sentido para a realidade brasileira. E Nathaly parece entender bem isso.

Potes acumulados: pobre sempre é minimalista?

Nathaly Dias Blogueira baixa renda - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Nathaly define assim o público-alvo de seu "movimento". "Quando falo pobre, é no sentido de faixa salarial, mesmo -- gente que passa perrengue, porque nem sempre dá para determinar que é pobre pelo lugar de origem das pessoas. Tem muito 'baixa-renda' que me segue que não mora em favela, mas em bairros pobres de seus estados."

Nathaly contou para Universa que tem consciência dos benefícios que esse modo de lidar com a vida pode trazer aos pobres, mas pondera que, para o baixa-renda, livrar-se acúmulo de objetos ou da ideia de acesso ao consumo pode ser mais difícil.

"É só parar para pensar sobre o que o pobre faz com o primeiro salário. Geralmente, compra algo que sempre quis ter, vai consumir alguma coisa", avalia. Também explica que não é porque a pessoa não tem dinheiro que pode dizer que é minimalista. "Não, mesmo. Minha mãe tem um monte de pote, por exemplo."

Para ela, apenas revendo as prioridades é que o pobre vai conseguir entender que "a indústria da moda, do consumo, fica dizendo com jogadas de marketing que a gente precisa disso ou daquilo, mas, na verdade, nós não precisamos".

A voz do baixa-renda na internet

Nathaly Dias Blogueira de Baixa Renda - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Nathaly na sala de sua casa, depois de ter redecorado o espaço no estilo 'menos é mais'
Imagem: Reprodução/Instagram

Apesar de nunca ter se considerado uma pessoa consumista, Nathaly assistiu ao documentário "Minimalism" (2016, Netflix), envolveu-se com o tema e decidiu falar sobre ele na internet. Imaginava que pessoas periféricas pudessem tentar encaixar em suas rotinas algumas das lições da série de 21 vídeos sobre Minimalismo que publicou no Youtube. Ela mostra como se livrou do excesso de livros, doados para uma escola pública do bairro, e transformou o guarda-roupa e a casa nos moldes minimalistas.

Em oito meses, viu aumentar o número de inscritos na plataforma de 1.800 para 96 mil. Mais do que números (ela tem mais de 45 mil seguidores no Instagram Blogueira de Baixa Renda), Nathaly quer que a ideia seja absorvida pela parte da população brasileira que pouco se vê representada no conteúdo produzido por blogueiras e influenciadoras ricas.

"Criei o perfil e o canal porque faltavam pessoas falando da vida mais real", conta a youtuber. "Fazia estágio em Administração, faculdade à noite, e tinha acabado de me mudar para morar com meu namorado [Guilherme]. Comecei a mostrar meu dia a dia, economizar para mobiliar casa, e meu Instagram foi crescendo."

A partir daí, virar a "voz da baixa renda" no Youtube lhe pareceu uma boa ideia. Não sem perrengue. "Assim que consegui um contrato de publicidade de um banco 'bem classe C', faltou luz no Morro e meu computador queimou. Ficamos 12 dias sem luz. Mas consegui continuar, fazendo tudo sozinha", comenta.

Nathaly tem vídeos sobre como viajar sem gastar muito, pintar as paredes de casa e até fazendo um 'faxinão'. Trabalhar na internet com conteúdo, Nathaly assume, não é para todos. "Digo que classe social não define o que a gente vai fazer, a gente pode viajar pro exterior, fazer graduação, pós-graduação, estudar línguas. Não temos as mesmas possibilidades, mas a gente corre atrás. Já na internet, não vou ser hipócrita, tem que ter sorte. É de cada um descobrir o propósito da vida."

Como ser um 'pobre minimalista'

A pedido de Universa, Nathaly deu 3 motivos e dicas para quem quer ter uma vida mais simples baseada na ideia do Minimalismo ou do Essencialismo:

  • Defina prioridades

"Eu escolhi priorizar meu tempo, saúde mental e dinheiro. É preciso entender o motivo pelo qual quer se tornar minimalista, senão a pessoa fará apenas uma grande faxina na casa e não vai absorver a mensagem".

  • Reduzir é organizar-se financeiramente

"Esses dias fui comprar um casaco, porque carioca não tem maturidade para aceitar o inverno. Reparei que eles eram bonitos, mas não esquentavam nada. Pensei: 'não vou pagar tanto numa coisa que não vai ser boa para mim'. E isso não é sobre roupa, é educação financeira", explica. "O 'baixa renda', generalizando, vai ganhando e gastando, não se planeja ou constrói com alguma coisa."

  • Ao decidir ser minimalista, comece devagar

"Quando se descobre o minimalismo, às vezes dá vontade de tirar as coisas de uma vez. Mas é bom começar devagar. A gente já vive com tanta restrição pela falta de acesso que, se você tem uma coleção de alguma coisa, como boné, relógio, e tem afeto, não precisa se desfazer. Minimalismo é trazer à tona aquilo que te faz feliz."