Topo

Transporte coletivo é onde as mulheres de SP mais temem assédio sexual

44% das paulistanas acreditam que o risco de assédio é maior no transporte coletivo até mesmo do que em bares e casas noturnas - Adriana Komura/Arte UOL
44% das paulistanas acreditam que o risco de assédio é maior no transporte coletivo até mesmo do que em bares e casas noturnas Imagem: Adriana Komura/Arte UOL

Marcos Candido

Da Universa

12/03/2019 10h00

O transporte coletivo é o local em que as mulheres da cidade de São Paulo mais temem sofrer algum tipo de assédio sexual. O receio de ser assediada é até maior em ônibus, trens e metrôs do que na rua ou em baladas. 

É o que mostra uma pesquisa encabeçada pelo IBOPE Inteligência e a Rede Nossa São Paulo, divulgada nesta terça (12). Segundo as entrevistadas, 44% acredita que é no transporte coletivo onde há mais chance de sofrerem assédio sexual. A apreensão começa antes mesmo do embarque: 4% delas acreditam que correm o mesmo risco no ponto de ônibus. 

Fora do transporte coletivo, elas acreditam que a rua (23%) e bares/casas noturnas (11%) são os espaços onde mais correm risco de serem assediadas. Logo depois vêm os pontos de ônibus (4%); ambiente familiar (4%); aplicativos como Uber, táxi, 99, Cabify e EasyTaxi; no trabalho (3%). Só 6% não soube ou não respondeu. 

A pesquisa aponta aumento de 13 pontos percentuais no número de mulheres que já declararam ter sofrido assédio sexual no transporte coletivo em comparação à mesma edição da pesquisa feita no início de 2018. No ano passado, foram 25% das entrevistadas. Na pesquisa deste ano, 38% disseram já terem sido assediadas enquanto se locomovem pela cidade -- o que o instituto estima serem mais de 2 milhões de mulheres. 

Segundo dados da SPTrans de dezembro no passado, em um mês mais de 200 milhões foram transportadas pelos ônibus municipais da cidade. 

Crime em SP chocou o país e estimulou nova lei

Em 2017, uma mulher foi atacada por Diego Ferreira de Novais em um ônibus na Avenida Paulista. O agressor ejaculou sobre a vítima e foi liberado. Na época, o delegado concluiu que Diego não tinha ameaçado ou forçado a mulher para o ato ter sido considerado estupro. Dias depois, Diego fez uma nova vítima e foi preso.

O episódio chocou o país e fez Congresso Nacional endurecer a legislação. Em setembro do ano passado, entrou em vigor a lei de importunação sexual. Se antes o suspeito poderia sair impune da delegacia, hoje um ato como esses resulta de um a cinco anos de prisão. 

Pouco mais de um mês depois da lei entrar em vigor, a CPTM, companhia que administra os trens na Grande São Paulo, registrou quase um caso por dia em trens. Em 2018, a Universa apurou que foram registrados 131 casos de abuso sexual nos trens. Um desses casos aconteceu com Clara Novais, jornalista que encontrou uma camisinha com líquido dentro dentro de sua bolsa. 

Mesmo com a nova lei, em fevereiro de 2019 uma mulher foi atacada com ejaculação a caminho do trabalho em um dos trens da CPTM. Na ocasião, a vítima deteve o homem, que foi levado à delegacia, preso em flagrante e já enquadrado na nova lei de importunação. 

Segundo relatório, maior consciência estimula denúncias

O estudo analisa que o aumento no número de assédio é parte de uma consciência maior sobre esse tipo de violência diária. "Esse contexto [de maior visibilidade para as mulheres] permite com que elas contem com mais elementos para identificar situações de assédio e violência em seu dia a dia e também as têm encorajado a denunciar seus agressores", afirma.