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"Senta no meu colo": 5 situações absurdas que mulheres vivem no trabalho

Patrícia já foi abordada pelo chefe para exibir seu decote - Arquivo pessoal
Patrícia já foi abordada pelo chefe para exibir seu decote Imagem: Arquivo pessoal

Roseane Santos

Colaboração para Universa

09/12/2018 04h00

Existe até lei que protege contra o assédio moral, mas mesmo assim o preconceito contra as mulheres continuam causando indignação no ambiente de trabalho. Apenas piadinha para alguns (o que é uma visão distorcida), o assunto é um problema de verdade para quem vive uma situação constrangedora. Universa reuniu algumas histórias que provam que o sexo feminino ainda tem muito que lutar para conseguir a plena igualdade no mercado de trabalho. 

O decote dela é maior

"Eu tinha 18 anos e trabalhava como caixa em uma boate. Todo fim de semana tinha shows e uma vez contrataram o Mr.Catra. Ele fez algumas exigências para o camarim, o que é comum. Mas a casa não conseguiu cumprir todas elas. Todos ficaram com medo de falar que não conseguiram tudo o que ele havia pedido e, com isso, o espetáculo ser cancelado. Na hora de avisá-lo, só havia duas mulheres da equipe. Sem o menor constrangimento, o dono da boate disse algo que, na cabeça dele, resolveria a questão. Apontou na minha direção e falou: 'Manda a Paty ir falar com ele, o decote dela está maior'. Juro, escutei isso." 
Patrícia Nate, 29 anos, psicóloga. 

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No banho ou trepando? 

Vanessa recebia um tratamento diferente dos colegas - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Vanessa recebia um tratamento diferente dos colegas
Imagem: Arquivo Pessoal

"Há alguns anos, trabalhava em uma empresa e recebi um rádio para me comunicar melhor com a chefia. O aparelho e a linha eram da firma. Recebi com carregador, assinando um termo de responsabilidade ao ser contratada. Fui informada pelo meu chefe direto que precisava estar acessível a eles, por isso recebia aquele aparelho. Foi o que fiz. Nas horas de trabalho, inclusive em plantões de final de semana e feriados, eu estava sempre disponível. O aparelho ficava ligado 24 horas por dia, sete dias na semana. Em um domingo em que estava de folga, e ocupada, o aparelho tocou. Não era a primeira vez. E eu sempre atendia. Naquela vez, ignorei. E liguei de volta assim que começou minha jornada de trabalho na segunda. O meu chefe estava possesso. Gritou comigo porque eu não tinha atendido. Respondi que estava de folga e ocupada. Isso o irritou mais ainda. Ele me disse textualmente que só teria duas justificativas para não atender, mesmo de folga: se eu estivesse tomando banho ou 'trepando'. E acrescentou que teriam de ser banhos e trepadas rápidas. Não me lembro de ele falar assim com os homens da empresa." 


Vanessa Campos, 53 anos, professora

Jura que não vai engravidar? 

Débora já foi pressionada a não engravidar - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Débora já foi pressionada a não engravidar
Imagem: Arquivo Pessoal

"Recentemente, saí do meu antigo emprego e fui tentar uma vaga em outra empresa. Eu fiquei muito incomodada com a mulher que me avaliou na entrevista de trabalho. Primeiro, ela praticamente me chamou de velha. Fez uma ironia do tipo: 'você já não é mais novinha, não é mesmo?' Depois perguntou umas dez vezes se eu não tinha intenção de engravidar. Ela disse que estava sendo 'honesta', porque não queria correr o risco de investir em uma funcionária para daqui a um ano ficar no prejuízo. Quase me fez prometer que não engravidaria nos próximos meses. Eu me senti na obrigação de contar a minha vida pessoal de tanto que ela insistia nesse assunto. Chegou um momento que fiz uma cara de perplexa e falei que não sabia o que iria almoçar amanhã, imagina se saberia se vou ter vontade de ter filho sei lá quando. Expliquei que estava ali procurando um trabalho e que essa era a minha prioridade do momento, não uma gravidez. Ela se corrigiu falando que apoia sempre as suas funcionárias em tudo, que era a favor do empoderamento feminino... Nossa, imagina se não fosse?" 
Débora Godoy, 35 anos, assessora de imprensa.

Precisa mesmo é de namorado

"Eu sempre fui muito dedicada ao meu trabalho e uma vez fiquei até as 22h preparando um relatório. Depois desse esforço todo, imagina escutar do seu chefe: 'Ah, está tudo certo, mas o que você precisa mesmo é de um namorado.'  O que uma coisa tem a ver com outra? O pior ainda aconteceu em outra ocasião, em que um relatório seria apresentado em uma reunião onde as esposas dos diretores estariam presentes. Segundo ele, como eu sou mulher, isso poderia causar um desconforto. Elas poderiam não gostar. Será que ele pensava que pelo simples fato de ser mulher e estar só, eu ira lá para ficar dando em cima dos homens? Não podemos nem ter o direito de ficar sozinhas, que somos encaradas como disponíveis. Ainda teve mais uma: teria um evento no Dia dos Namorados e escutei: 'Coloca ela para trabalhar, já que não tem namorado mesmo, pode ficar à noite'."
Stefânia N., 31 anos, supervisora financeira. 

Pula no meu colo

"Eu estava muito insatisfeita com o meu emprego e pedi então ajuda para uma amiga, que trabalhava em uma empresa de Marketing. Ela me encaminhou para uma entrevista com o próprio dono da agência. Quando começamos a conversar, ele pediu que falasse um pouco da minha história, achei normal. Afinal de contas, precisaria conhecer quem estaria colocando para trabalhar ali. Elogiou minha aparência, falou que eu aparentava bem menos idade. Até aí, tudo bem. Pensei que pudesse estar querendo ser simpático. Só que uma certa hora, não me lembro bem o motivo, ele perguntou se eu tinha ascendência europeia. Respondi que era neta de italiano. Então escutei a seguinte frase: 'Italiano tem sangue quente, você é assim?' Dei aquela risadinha sem graça e perguntei se queria saber de mais alguma informação sobre a minha carreira ou cursos. Ele falou que naquele momento só queria mesmo é que eu pulasse no colo dele. Levantei e saí na mesma hora, com a cara no chão de vergonha. Falei com a minha amiga um tempo depois e ela me disse que ele era assim mesmo, passava cantada em todo mundo."  
R.D. S, 49 anos, microempresária