Menino enfrenta bullying e é aplaudido. Saiba como fortalecer seu filho
Em um texto que teve mais de 8 mil compartilhamentos no Facebook, a jornalista Lana Bitu, 45, contou como António, seu filho de 9 anos diagnosticado com Síndrome de Aspenger, foi à frente dos coleguinhas e se posicionou sobre o bullying que sofria na escola “Eu bato palmas para imaginar melhor”, explicou o garoto para os cerca de 30 alunos que estavam presentes.
De acordo com o relato de Lana, o ato fez professores chorarem e as crianças baterem palmas para o ato de António, cujo transtorno é uma forma leve de autismo que pode comprometer a interação e a comunicação social. "São as palmas que ajudam seu organismo a equalizar os estímulos e informações que recebe. "Estereotipia clássica da Síndrome de Asperger", explicou uma especialista, tempos atrás, ao confirmar o diagnóstico de espectro autista. Clássica para quem está habituado, doutora, pois haja estranhamento em quem vê uma pessoa passar parte do seu dia andando de um lado para outro, batendo palmas e murmurando para si aquilo que precisa absorver do mundo!", explica Lana.
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É claro que em um caso de bullying, a vítima não é culpada do que está acontecendo com ela. Porém, uma relação próxima com a criança que está sofrendo com esse tipo de problema pode ajudá-la a ter um posicionamento como o de António. De acordo com especialistas consultados pela Universa, é consequência de um trabalho de fortalecimento da autoestima e da autonomia da criança. E isso começa dentro de casa. Mais especificamente, na mesa de jantar.
“A melhor abordagem é passar mais tempo com a criança, mas, por causa da vida corrida, os pais têm pouco tempo com os filhos. Uma dica, então, é usar a hora de sentar à mesa para comer para a família falar sobre como foi o dia e sobre as suas dificuldades”, explica Vitoria Padilla, pedagoga e coordenadora da Educação Infantil e do Fundamental I do colégio CEL International School, no Rio de Janeiro (RJ).
Este momento de compartilhamento mútuo é quando a criança ganha voz e aprende com os pais as maneiras de lidar com as frustrações do dia a dia. “É legal o pai falar sobre uma discussão que teve no trabalho e como resolveu aquele problema. Assim, a criança entende que conflitos fazem parte da vida”, diz a especialista.
Este bate-papo aparentemente despreocupado é importante porque as crianças aprendem, principalmente, com o relacionamento que têm com outros adultos. “Se não se relacionam com os próprios pais, elas não aprendem sobre frustrações e como lidar com elas”, explica Jussara Cavalcanti, psicóloga especializada em acolhimento infantil, de São Paulo (SP).
No entanto, mais do que deixar a criança falar, é preciso também ouvi-la com atenção. “Os pais precisam estar abertos para o que a criança vai contar. Tem adulto que acha que é bobagem, mas é importante”, afirma Vitoria Padilla.
Virando amigo do seu filho
A primeira infância é, ainda, a melhor época para se tornar um amigo de seu filho. “Temos a oportunidade de criar conexões e ser íntimos de nossos filhos”, fala a psicóloga e coach de mães Isabela Cotian, de São Paulo (SP). “É importante participar de forma íntima do mundo social da criança, se interessar pelo mundo que ela vive”, completa.
O advogado Flavio Odizio, 34, de Cornélio Procópio (PR), conta que, em 2016, seu filho Paulo Pirotta Odizio, na época com 7 anos, chegou em casa um dia inconformado porque viu um amigo de escola que estava com sobrepeso sofrer agressões verbais. “Explicamos para ele que aquilo era bullying e mostramos vídeos sobre o fenômeno. Ele respondeu: ‘eu preciso acabar com isso’. A situação mexeu muito com ele e ele estava disposto a fazer algo de verdade”, narra o pai.
Depois dessa conversa, Paulo recebeu a ajuda dos pais para fazer um cartaz e apresentou aos amigos o que era bullying. Desta apresentação, saiu o projeto “Diga Não ao Bullying -- Mesmo diferentes somos iguais”, que já promoveu 27 palestras em três cidades diferentes do interior do Paraná - todas ministradas pelo próprio garoto, hoje com 9 anos.
Flavio acredita que o filho conseguiu se posicionar contra o bullying por causa do ambiente familiar que ele e a mulher, Fernanda, provêm para o menino e seu irmão mais novo, Flavio. “Nós sempre transmitimos segurança e ensinamos respeito pelas pessoas diferentes dele”, diz o advogado.
Segundo Jussara Cavalcanti, um ambiente seguro ajuda a criança a se abrir mais facilmente para falar do que o está incomodando. “Os pais são o primeiro modelo, eles precisam trazer para a criança a confiança para se expressar sobre o que está pensando e sentindo”, justifica a especialista. E o respeito, pelos pais e pela própria criança, faz parte disso. “Ela se sente segura, cuidada”, diz a especialista.
Conhecimento é poder
O reforço positivo também é importante para construir a confiança da criança. “Ela cresce ouvindo muito ‘não’. Então ela precisa ser recompensada quando faz algo que está certo”, aconselha Isabela Cotian. “E, caso haja falhas, é legal falar para ‘tentar de novo’, que ela ‘consegue’. Assim, constrói autoestima”, diz a psicóloga.
O próprio Paulo ouviu ofensas na escola por ter o cabelo comprido. “Mas, como o projeto já tinha começado, ele já tinha entendido o que era bullying e soube lidar com a situação sem que isso atingisse a sua autoestima”, explica Flavio.
“O conhecimento é um remédio poderoso contra as inflamações emocionais”, fala Jussara. De acordo com os especialistas, os pais precisam ter bastante cuidado na escolha de uma escola que também tenha projetos sobre o assunto. Isto ajuda tanto na prevenção como no “tratamento” de quem já está passando pela situação. “A informação sobre quais são as consequências daquela ação vai permitir que as crianças reflitam antes de fazer o bullying”.
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